É bem verdade que ao buscar ser quem somos, nos deparamos com pessoas que admiramos e que por isso, de alguma maneira, nos influenciam pelo menos a desenvolver algumas qualidades em nós mesmos. O problema todo aí é quando confundimos admiração com projeção, quando passamos a querer ser exatamente igual a esta pessoa. Nos tornamos uma cópia mal feita de algo que já existe, enquanto que perdemos a chance de sermos nós mesmos.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.” A máxima do Oráculo de Delfos já nos mostra que desde o tempo dos gregos e, ouso dizer, até antes deles, a humanidade já sabia a importância de se saber quem realmente é, e viver de acordo com isso. É sabendo quem somos que também vamos adentrando nos mistérios do outro ser humano, da natureza e da própria vida. Começamos a discernir o que é nosso, o que é do outro, o que é da vida, de maneira a perceber que temos mais coisas em comum do que imaginamos, guardadas as especificidades da individualidade.
É natural que quando ainda não temos muita clareza de quem somos, tentemos buscar na vida, fora de nós, no mundo, nas outras pessoas, nos grupos, em coisas e pensamentos, algo que ressoe dentro de nós, que faça nossa Alma vibrar, que saia um “É isso!”. São nesses momentos, muito próprios da adolescência e juventude, que enxergamos em nossos ídolos, amigos e parentes, aquilo que gostaríamos de ser, como uma projeção de algo que está desperto dentro de nós mas ainda não muito amadurecido. Nesta tentativa de entender o que é que admiramos no outro, acabamos nos apegando a forma e tentando repeti-la tal e qual, como no curta “Material Girl de Jenna Spurlock”. Nele, a doce menina torna-se por alguns instantes uma mini cópia de Madonna.
Sobre o curta, Jenna diz o seguinte:
“June nunca se sentiu confiante nela mesma até que um dia, enquanto escutava suas músicas favoritas, ela descobriu uma poderosa influência para seu novo estilo. Obcecada, June perdeu a si mesma tentando imitar o poderoso ícone pop. Entretanto, quando sua identidade é tirada inevitavelmente dela, ela teve que se lembrar do quanto ela, sendo ela mesma, já era especial.”
No fundo, bem lá no fundo de nós mesmos, nosso Ser quer vir ao mundo. Shakespeare já nos dizia isso em seu famoso diálogo de Hamlet: “Ser ou não Ser, eis a questão?”. Nós queremos Ser, algo em nós quer despertar, quer dizer a que veio, mas nos perdemos de nós mesmos quando tentamos imitar alguma outra pessoa.
Muitos passam a vida tentando corresponder às expectativas dos outros, passam a vida buscando se encontrar através da projeção do jeito de ser de outras pessoas em si mesmas, passam a vida sem nunca descobrir de verdade quem realmente são. Isso explica muito do vazio, da falta de sentido de vida tão denunciado no nosso momento atual. Falta viver, pois sobreviver somente não nos basta. E viver exige que coloquemos um pouco de nós mesmos em tudo o que fazemos, no que estamos sendo.
A nossa jornada humana é de autodescoberta. Perceber o que admiramos no outro, e o porquê, é um passo para adentrar dentro de nós e descobrir se temos estas características também ou se precisamos desenvolvê-las, não para nos tornarmos iguais, mas para sermos cada vez mais nós mesmos.