Todos os grandes homens da história nos deixaram pistas sobre como viver bem diante das nossas adversidades. Podemos citar grandes filósofos, líderes religiosos, chefes militares e por que não governantes? Pessoas que, ao se conectarem com grandes ideias, conseguiram expressar leis naturais, imprimindo realização e força insuspeitas para o seu tempo.
Abraham Lincoln foi um desses personagens históricos que pode nos ajudar a entender esse fenômeno de como uma ação conectada a uma ideia é capaz de produzir grandes feitos. Assim, todos os homens ou mulheres que marcaram e superaram seu tempo e, por isso se eternizaram na história, foram pessoas que tiveram suas vidas baseadas em virtudes ou leis humanas, leis que são universais e que transcendem as limitações de visões egoístas porque só se expressam na busca do todo. Abraham Lincoln foi um dos presidentes mais importantes da América, sendo o 16º presidente dos Estados Unidos, entre março de 1861 até seu assassinato em 1865.
De origem humilde, teve uma infância marcada por dificuldades financeiras. Devido ao seu gosto pela leitura, teve uma formação mais auto didática. Antes de ser político foi advogado atuando em várias questões agrárias. Ao que parece, todas as dificuldades sofridas durante a sua infância o prepararam para o que a vida tramava anos à frente, colocando a prova o que a natureza moldou na sua personalidade.
Durante sua carreira política, se declarava abolicionista e crítico da escravatura, o que lhe custou muitos conflitos e inimigos em todo o país. Lincoln participou de vários debates com o senador americano Stephen Douglas (1813-1861) sobre se a escravidão deveria ou não permanecer legalizada. Alguns estudos relatam que o 16º presidente era um homem marcado por uma forte coerência com as ideias que acreditava e era admirável o equilíbrio como as defendia.
Tudo isso expressado dentro de uma robustez psíquica que impressionava até mesmo os seus inimigos. Foi presidente dos Estados Unidos em um dos momentos mais difíceis da história do país, que foi a Guerra Civil Americana (1861- 1865), ou Guerra de Secessão, um conflito que colocava em choque pontos de vista muito diferentes. Enquanto o Norte do país queria que os Estados Unidos continuassem a ser uma única nação, o Sul pretendia que se formassem duas nações independentes. A guerra lhe custou a vida, mas também nos deixou várias lições como legado que, se bem entendidas e praticadas, nos ensinam a lidar e até a superar muitas adversidades sociais, nas quais nos encontramos hoje em dia. As ideias vividas por Lincoln foram muito práticas não só a nível social, mas também no campo individual, já que, se prestarmos atenção, são ideias que têm suas raízes em profundas visões filosóficas muito antigas.
Podemos ver as lições deixadas por Lincoln apenas por um contexto político, econômico ou social, entretanto se conseguirmos enxergar as lições humanas que estão na essência delas, podemos ampliar nossas percepções. Dentre as lições podemos citar “Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de classe”. Essa percepção nos faz refletir que a busca pela fraternidade deve estar acima de qualquer diferença de classe, ou seja, na fraternidade, na unidade, não cabe partes inferior ou superior, mas sim o todo.
Assim como a expressão do universo só é possível através dos vários elementos diferentes unidos, uma sociedade fraterna não pode nutrir ódio entre as partes por causa das suas diferenças, pois estas deveriam servir mais como complemento do que oposição. Dentro dessa visão, cada parte contribui de maneira harmônica para o todo, essa é a grande finalidade.
Durante os últimos séculos, temos sido vítimas de ideologias e crenças que mais nos dividem do que unem enquanto sociedade. Se acreditarmos que não somos apenas uma máquina biológica e compreendermos que, assim como o universo, nos movemos pela harmonia a partir de elementos diferentes, talvez encontremos formas de lutas sociais que superem o ódio pelo outro. Esta fragmentação da sociedade somente nos enfraquece, enquanto corpo social. A unidade é uma lei da natureza, Lincoln percebeu isso e assim deu a sua vida por essa ideia. Dentro desse contexto, ainda podemos lembrar de uma outra lição de Lincoln, “não fortalecerás a dignidade se tirar do homem a iniciativa e a liberdade”.
Desde a Revolução Francesa em 1789, o conceito de liberdade tem sido muito caro, em nome dela se vive, se mata, se constrói e se destrói… Ao adentrarmos nesse campo, é preciso refletir sobre conceitos como o da dignidade. Vivendo numa sociedade no seu auge do materialismo e ateísmo estéril a tudo o que não seja matéria, isso nos leva a acreditar que, enquanto indivíduos, somos apenas uma construção biológica possuídos por desejos e instintos egoístas em nome da sobrevivência. Como máquinas programadas, que não tem opção a não ser obedecer aos impulsos instintivos.
A questão é que, tendo os nossos referenciais nos instintos e desejos, qualquer tipo de sentimento altruísta, nobre ou generoso que possamos possuir cai como algo démodé e que logo deverá ser desestimulado em detrimento da sobrevivência pessoal. É importante lembrar que, a dignidade humana não está no instinto de sobrevivência, porque isso compartilhamos com os animais, e no esquema da natureza não há nada repetido, a dignidade humana está na organização dos pensamentos e sentimentos de acordo com as leis universais, ou seja, organização de pensamentos e sentimentos de acordo com a justiça, a bondade, a fraternidade e etc. Essas questões estão no campo do Ser, e não do ter. Isto é o que também falava Platão sobre o uso da razão. Então, não existe expressão de dignidade sem associar à organização do pensamento conectado com essas leis universais.
Cada indivíduo tem e pode contribuir para o todo social, mas essa contribuição não vem dos instintos ou os desejos pela sobrevivência, mas sim dos valores humanos. Por isso, não se pode tolher as nossas iniciativas altruístas. Precisamos, na verdade, libertá-las por que isso expressa o que temos de mais essencial enquanto indivíduo, isso é a essência da liberdade.
Nós temos a liberdade de escolher apenas a sobrevivência, como os animais, ou sermos humanos usando a razão que nos foi dada pela natureza para encontrar uma forma de trabalhar pelo verdadeiro bem e pela justiça, ainda que isso nos traga prejuízo pessoal.
A biografia de Abraham Lincoln é, por si só, um grande ensinamento. Ele nos mostrou que, entre o benefício pessoal e a dignidade humana, sempre devemos escolher a segunda opção. Pois se não fosse assim, o que nos diferenciaria das bestas selvagens? Que possamos nos inspirar neste grande exemplo de ser humano e colocar sempre a virtude como guia de nossas ações.