Já parou para pensar que as questões mais importantes raramente tem uma resposta fechada? Neste caso, o que há depois da morte, como podemos conhecer esse mistério? Geralmente, aqueles que morreram não voltam para contar o que aconteceu.
Não por acaso, esse é um dos mais desafiadores dos mistérios. Desde que o Ser Humano existe uma das suas maiores indagações é a morte. Uma das primeiras formas de religiosidade encontrada na pré-história, por exemplo, são os enterramentos, o que indica, no mínimo, que há uma necessidade humana de tentar compreender o que ocorre com a morte, um fenômeno comum na natureza, mas tão difícil de aceitar.
Se estudarmos com afinco a cultura humana, ou seja, todas as sociedades em que a humanidade se reuniu ao longo da sua existência, perceberemos nitidamente que a morte é muito mais do que um fenômeno biológico e que ela não passou “despercebida” por nenhum dos homens e mulheres do passado. A morte, portanto, transpassa questões puramente naturais e adentra fortemente no campo da cultura e do metafísico. Além disso, podemos dizer que o “medo da morte” é uma reação própria do Ser Humano, pois nossa autoconsciência permite sabermos que um dia chegaremos ao “fim” dessa experiência que vivemos hoje, logo, podemos pensar nesse “futuro”, enquanto outros animais não possuem tal capacidade.
Não enxergamos, por exemplo, um cachorro ou gato com medo de morrer. Eles vivem apenas o presente, atendem suas necessidades naquele instante e, por isso, não divagam sobre o futuro e nem especulam as possibilidades do que pode ocorrer após a morte. Nós, por outro lado, podemos passar uma vida inteira com medo da morte e pensando em mil condições que nos levarão (ou não) ao que existe no fim dessa vida. Por isso, uma antiga frase diz que “a morte é natural, o morrer é cultural”, pois todos nós partiremos dessa vida em algum momento, mas o medo e a preocupação da morte (que é o “morrer) só podem ser vividos dentro de um esquema cultural, com ideias, símbolos e perspectivas acerca desse assunto.
Uma prova disso são as civilizações humanas e suas representações da morte. Desde a Antiga Suméria até o paraíso cristão, há diversas perspectivas do que ocorre após a morte e para onde vamos quando deixamos de respirar. Se analisarmos cada cultura, perceberemos que há determinados padrões acerca desse assunto, mostrando ideias similares em meio a tantas formas distintas. Sendo assim, é possível notar que a vida após a morte está diretamente relacionada ao mundo em que cada uma dessas culturas se desenvolveu, gerando uma nova perspectiva desse mistério.
Enquanto os gregos falavam no Hades, o submundo em que existiriam rios, montanhas e juízes para punir aqueles que cometeram crimes em vida, no cristianismo há o inferno e o paraíso, em que somente os que têm fé em Deus podem chegar a esse local. Mas será que, de fato, a morte e nossas ideias acerca desse assunto são apenas culturais? Há fenômenos que talvez provem que a morte não é o fim.
Existem casos raros de pessoas que passam pelas chamadas EQM (Experiência de Quase Morte). São casos em que a pessoa entra num coma profundo por causa de alguma doença ou acidente, em alguns casos fica até sem atividade cerebral, mas, quando retorna a sua consciência, relata experiências incríveis que vivenciou fora do corpo. Aqueles com crenças mais materialistas dizem que isso é uma alucinação criada pelo cérebro para poder lidar com o trauma, outros pensam diferente, como é o caso do Dr. Alexander Eben, que é um neurocirurgião que atribuía as EQMs de seus pacientes a simples reações do cérebro, mas mudou completamente a sua visão após ele mesmo passar por uma EQM. Veja o seu caso no vídeo abaixo:
Como o psiquiatra brasileiro Dr. Alexander Moreira-Almeida comenta no final do vídeo, a principal discussão sobre este assunto é se a consciência é uma criação do cérebro ou se é algo que existe para além do cérebro. Em outras palavras, a dúvida é se existe algo além da matéria, ou se todos os nossos pensamentos, nossas memórias, nossos sentimentos não passam de uma “simulação” criada por uma máquina orgânica, e quando esta máquina for desligada, tudo isso também vai deixar de existir.
Muitas vezes, essa discussão entra numa falsa dicotomia em que, de um lado, a Ciência “prova” que tudo é matéria e não existe nada como alma ou consciência fora do corpo, enquanto do outro lado as religiões “creem” em almas, em deuses e em experiências parapsicológicas. Essa dicotomia é falsa, pois essa questão não é uma guerra entre ciência e religião. Na verdade, é necessário um espírito filosófico para encarar estas questões sem muita paixão, seja da “torcida dos cientistas” ou da “torcida dos religiosos”.
Esse é um assunto que precisamos aprofundar. Nos dias atuais, essa separação entre o que chamamos de “ciência” e “religião” se dá por ambas estarem mergulhadas em seus métodos de encontrar a verdade. Enquanto a ciência busca as provas materiais dos fenômenos, lhes dando explicações embasadas em provas, experimentos e testes, a religião parte dos símbolos e abstrações acerca do mundo, conectando de forma mais sutil o Universo ao nosso redor. Ambas, porém, querem encontrar Deus, ou seja, a explicação para todos os fenômenos. Um cientista busca, em essência, uma fórmula ou lei que explique tudo no cosmos. Essa fórmula, caso encontrada, não seria a causa de tudo? E para a religião, a causa de tudo não é Deus? Sendo assim, ambas querem chegar no mesmo ponto, mas escolhem caminhos distintos.
É importante termos essa perspectiva em mente, pois não faz sentido uma “disputa” entre esses dois caminhos, já que cada ser humano encontrará sua forma de se conectar a essa verdade. Seja por meio de provas científicas ou pela fé, todos nós chegaremos um dia até essa percepção de conexão entre todos os seres.
A morte, como um fenômeno natural tão presente na nossa existência, também ganhou parte dessa separação e, por isso, busca-se provas concretas de que há, de fato, um “outro mundo”.
Hoje a ciência ainda não possui provas acerca de uma existência após a morte. A EQM é tratada muitas vezes como uma alucinação do cérebro, como uma fuga do próprio corpo para não lidar com o trauma. Tal como num sonho, a mente geraria uma série de imagens e vivências de acordo com sua própria memória para contornar o fato de que está entrando em colapso. Assim se explica as ideias de que antes de morrer vemos “um filme” de nossa vida, ou, como ocorre em alguns relatos da EQM, vemos uma “luz branca” ou algo próximo disso.
Entretanto, à medida que os estudos avançam, será natural que a ciência sempre mude, e se um dia for comprovada a consciência fora do corpo, o que o conhecimento científico irá fazer é se adequar a esta nova constatação. Muitas coisas consideradas normais e cientificamente aceitas hoje em dia seriam consideradas superstição para cientistas do passado.
Por esse motivo, sem perder o espírito questionador próprio da ciência, nós devemos investigar também aqueles conhecimentos que são mais duradouros, ou o que chamamos de “tradição”.
No vídeo abaixo, a professora Lúcia Helena dá uma aula sobre o Bardo Thodol, uma antiga tradição tibetana que explica a passagem da alma humana do mundo dos vivos para o mundo dos mortos.
Independente da conclusão que cada um possa chegar sobre este assunto, todos devemos concordar num ponto: mesmo depois de mortas, as pessoas se mantêm vivas por causa do bem que elas fizeram aos outros. Então, deveríamos dedicar as nossas vidas a isso para poder encarar o pós-morte da melhor maneira possível, seja lá o que vamos encontrar.