A história de Marie Curie, que desenvolveu a teoria da radioatividade no começo do século XX, é uma história de amor profundo pelo conhecimento. Ela, literalmente, entregou sua vida à ciência, chegando a morrer de um câncer adquirido em razão da exposição às radiações em suas pesquisas.
Tudo era muito difícil, havia obstáculos em todas áreas da sua vida, tudo parecia conspirar para afastá-la dos estudos. Seu país estava ocupado pelos russos, os quais haviam proibido os estudos universitários; Seu pai faleceu quando ela tinha dez anos, em decorrência disso, suportou muitas dificuldades financeiras, chegando até a passar fome; Trabalhou como governanta na casa de famílias ricas; Passou por quadros de depressão, mas a garra com que ela enfrentou esses obstáculos serve de lição a todos nós que, hoje em dia, temos tantos recursos à disposição.
É nesse contexto que começam a surgir “os estudos secretos em Varsóvia”, um movimento de jovens amantes do conhecimento, que se reuniam escondidos do governo russo para estudar em uma espécie de Universidade clandestina. Correndo riscos de prisões, torturas, banimentos e até morte, esses jovens se reuniam à noite, escondidos, e cada um dava aula da área que mais dominava e assim alcançaram avanços na química, na física, na matemática, etc. Curie participou de um desses grupos e ao longo de sua vida se nutriu da memória dessa experiência.
Mesmo em meio a tantos obstáculos, ela tornou-se uma das maiores cientistas de toda a história. Foi a primeira a receber um prêmio Nobel, foi a primeira mulher a ser professora da Universidade de Paris, a única pessoa do mundo a ganhar dois prêmios Nobel, em áreas diferentes, um em física e outro em química.
Suas descobertas no campo da “radioatividade”, termo que ela mesma criou, vem salvando milhões de pessoas até hoje. Na medicina, por exemplo, além dos exames de raio – x, bem conhecido por todos nós, foi desenvolvido também o tratamento de radioterapia, em que radiações emitidas e controladas matam as células cancerígenas e poupam as células saudáveis. Nas pesquisas arqueológicas, a radioatividade é usada para calcular a idade de fósseis. Outra decorrência dos estudos de Curie é a geração de energia elétrica a partir de usinas nucleares, diversificando a matriz energética.
No texto que ela escreve rememorando os estudos secretos de Varsóvia, aparecem nas entrelinhas quatro qualidades indispensáveis para se avançar no conhecimento: esforço, consciência do tempo, persistência e idealismo.
Sobre o esforço ela diz: “não foi tarefa fácil…”. Qualquer pessoa que se proponha a crescer em conhecimento enfrentará muitos obstáculos. É como se houvesse uma resistência invisível se interpondo ao ato de estudar e crescer em conhecimento. A tendência natural e espontânea é não avançarmos, só se faz avanços quando se luta bravamente contra essas resistências.
No caso de Madame Curie, as forças contrárias eram intransponíveis, parecia impossível, mas ela conseguiu vencê-las. O outro aspecto que aparece no texto é a consciência de que o tempo é limitado, “eu tinha pouco tempo para trabalhar lá, à noite e aos domingos”, ela afirma nos escritos sobre os estudos secretos. Nunca haverá tempo suficiente para estudar e dar conta das demandas da existência, mas quem tem um amor profundo pelo conhecimento e o busca com sinceridade acaba encontrando outra dimensão para o tempo.
A persistência também era uma marca da Madame Curie, ela diz que tentava várias experiências descritas em tratados e não dava certo, mas que acabava sendo encorajada por um pouco de sucesso inesperado. Quando olhamos para a nossa sociedade atual, vemos que somos uma geração que odeia a repetição, estamos sempre em busca do novo, e acabamos desistindo rápido, geralmente no primeiro fracasso. Curie tinha outra postura, não desistia, era insistente e repetia a experiência por diversas vezes.
De todas essas virtudes, a principal delas, o motor por trás desta cientista era o idealismo. Os escritos dela sobre “os estudos secretos em Varsóvia” revela-nos uma idealista, uma sonhadora de um mundo novo e melhor: “A verdade é que os meios de ação eram pobres e os resultados obtidos podiam não ser consideráveis; mas ainda acredito que as idéias que nos inspiraram são o único caminho para o verdadeiro progresso social”. Essa afirmação nos mostra que o motor por trás de tanta superação, tanta força, tantos avanços, tantas descobertas, tanto crescimento científico era o seu amor profundo pelas ideias.
Quando as grandes ideias despertam dentro de nós, tornamo-nos grandes, capazes de mudar a História, foi assim com os gregos, com os romanos, com os renascentistas e foi assim também com Madame Curie naqueles grupos secretos de estudos, sendo perseguidos pelos russos, resistindo ao frio e às privações de toda sorte.
Por isso, o melhor negócio para a humanidade hoje é despertar em si as grandes ideias do Amor, da Justiça e da Beleza.
Para uma maior reflexão indicamos o filme Radioactive que narra a vida de Marie Curie, ‘mãe’ da radiação, e mostra as dificuldades e genialidade da trajetória de uma dessa cientista tão importante para a história.