Com certeza você já ouviu falar sobre teorias, terapias, técnicas mentais, curas, treinamentos e até mesmo colchões com a palavra “quântico” no título. Não por acaso, essa palavra tem sido muito empregada no marketing para promover pessoas que, em geral, pouco entendem do assunto. A banalidade desse termo retirou sua credibilidade e hoje, infelizmente, há centenas de piadas e associações com o charlatanismo.
Apesar da visão negativa que tem se associado à física quântica, essa área da ciência tem se revelado promissora quanto às grandes questões existenciais da humanidade. Podemos citar como exemplo a possibilidade, que muitos teóricos afirmam, de a física quântica estar próxima de explicar que Deus existe, que o pensamento modifica a matéria, que nós podemos estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, entre outras tantas questões que até pouco tempo atrás só poderiam ser pensadas do ponto de vista religioso ou com caráter puramente ficcional.
Mas será que a ciência já explicou tanta coisa assim? Se isto está correto, então porque não vemos tantos cientistas falando essas coisas? Antes de fazer qualquer afirmação, devemos tentar entender, basicamente, o que a física quântica realmente explica.
O que é a Física Quântica?
A Mecânica Quântica é um ramo da Física que surgiu para explicar os fenômenos que acontecem no nível subatômico, ou seja, no mundo dos elétrons, neutrinos, bósons etc. E, na verdade, desde quando ela surgiu com Max Planck, ela mais “des-explicou” do que trouxe explicações. Isso porque, do ponto de vista quântico, a realidade no nível subatômico não pode ser explicada pelas mesmas teorias que explicam o mundo numa escala visível a olho nu, ou seja, o mundo das coisas do tamanho de carros, de pessoas, de grãos de areia etc. Por exemplo, imagine que uma pessoa está sentada numa cadeira na sala de jantar e então vai para o escritório para se sentar na cadeira da escrivaninha. Para ela ir de um lugar ao outro, ela se levanta, caminha alguns passos, passa por alguma porta até chegar no seu destino. Mas se nós pensarmos no nível subatômico e, ao invés de uma pessoa, pensarmos num elétron, o que acontece é que esse elétron passaria de uma “cadeira” para a outra sem percorrer caminho nenhum, ele faria um tipo de teletransporte. E mais do que isso, o elétron não tem como estar em nenhum outro lugar da sala ou do escritório, a não ser nas “cadeiras”. Isso é o chamado “salto quântico”.
Visto isso, o elétron não percorre um caminho conhecido por nós, ou pelo menos não o que imaginamos que ele deveria trilhar e simplesmente “aparecer” em outro local. Por não sabermos – ainda – explicar esse fenômeno de maneira detalhada, o termo “quântico” tem sido apresentado por outros profissionais para explicar seus tratamentos pouco convencionais e que, apesar de muito questionados, apresentam “resultados”. O fato é que isso nada tem em comum com a mecânica quântica apesar de sua referência. Além do mau uso do termo, limitar o estudo quântico a algo que simplesmente não conseguimos explicar é demonstrar pequenez frente ao assunto, pois toda a História da humanidade é marcada por avanços tecnológicos que começaram pelo fato de não sabermos como aquele mecanismos funcionava, mas ao longo do tempo fomos refinando nosso conhecimento até dominar plenamente certos fenômenos e técnicas.
Outro ponto muito mal compreendido é o Princípio da Incerteza de Heisenberg, que diz que não conseguimos identificar com precisão a localização de uma partícula subatômica, pois a própria observação altera a sua posição. Isso fez com que muitas pessoas pensassem que a física quântica estivesse provando que o pensamento influencia na realidade material. Na verdade, o que Heisenberg quis explicar era outra coisa. Imagine que você está numa sala escura e precisa saber a localização de uma bola de gude, então, você acende uma lanterna e vasculha a sala até encontrar a bola. A bola vai permanecer ali paradinha e iluminada. Pronto! Você descobriu a sua posição. Agora imagine que esta bola de gude é um elétron, uma partícula tão minúscula que é “empurrada” pela própria luz, ou seja, quando você iluminar este elétron com a lanterna, o feixe de luz vai jogar o elétron para outro lugar. Por isso que a sua localização é incerta. Essa teoria, portanto, não fala nada sobre o pensamento ou o olhar do observador, mas sim sobre fótons, luz e partículas.
A ciência nos mostrou que vários destes fenômenos excêntricos existem neste “Universo Quântico”, e que para poder explicá-los, as antigas teorias da física clássica não tem tanta utilidade, ou seja, a física quântica nos mostrou o quanto ainda não sabemos sobre os mistérios da Natureza. Sendo assim, não podemos sair por aí dizendo que a física quântica provou a existência de Deus ou mesmo a força do pensamento, pois isso não é real. Entretanto, é fato de que a física quântica e suas misteriosas leis nos apresentam um novo Universo, cheio de possibilidades e com um grande caminho a percorrer para os investigadores desses fenômenos.
Junto ao problema da má interpretação dada à física quântica se soma um novo: o problema de achar que essa ciência está diretamente ligada ao esoterismo. Mas qual a relação entre essas duas áreas? Com a popularização do termo “quântico” os mais céticos, tanto para a física quântica como para o esoterismo, dizem que isso é uma tentativa de transformar o esoterismo em algo científico, ou seja, que os fenômenos e ideias contidas nesses estudos têm, a partir da física quântica, uma base científica. O problema é que ao fazermos essa relação demonstramos, mais uma vez, a limitação acerca do que é, de fato, esoterismo e, como já falamos, o que é a física quântica. Cabe, então, explicarmos um pouco sobre o que significa esse termo e suas relações no mundo atual.
O que é Esoterismo?
O que pensamos quando escutamos o termo “esoterismo”? Um grupo fechado, recluso e que fazem rituais ou estudos proibidos? Ou o que os povos da Idade Média chamavam de bruxas e feiticeiros? Se você pensou em algo próximo a isso, devemos dizer que essa imagem não condiz com a realidade.
Vamos começar explicando o significado do nome “esoterismo”. Essa palavra vem de “esotérico”, que nada mais é do que algo “interno” e fechado, para poucas pessoas. Assim, uma filosofia esotérica, por exemplo, trata de ideias que não estão disponíveis para todo mundo. Consequentemente, por essa característica, o esoterismo ganhou uma “imagem” negativa, afinal, as pessoas comuns não sabiam que tipos de atividade ocorriam dentro desses grupos. Daí nasceram as ideias distorcidas que ainda hoje alimentamos.
Partindo dessa questão, é preciso esclarecer que esoterismo não é um conjunto de crenças em poderes paranormais e em teorias conspiratórias. O verdadeiro esoterismo, ou filosofia esotérica, é a busca por compreender a Natureza a partir das suas causas primordiais, a partir daquilo que está dentro, daquilo que é interno, daquilo que é esotérico. Em síntese, podemos dizer que o conhecimento esotérico é a busca das causas primeiras da humanidade, do Universo e de toda a existência. Para tanto, o esoterismo investiga o conhecimento universal a partir não somente da ciência, mas da religião, da arte, da simbologia e de outras áreas que são desenvolvidas pela humanidade desde o seu passado mais remoto.
Como um grande exemplo do esoterismo, podemos citar Helena Petrovna Blavatsky, conhecida pelo acrônimo HPB, uma filósofa Russa do século XIX que foi a responsável por investigar e trazer para o Ocidente diversos ensinamentos guardados em escolas do Oriente e que tinha acesso restrito a pequenos grupos de discípulos aceitos. A compilação disto pode ser vista na sua obra “A Doutrina Secreta – Síntese da Ciência, Religião e Filosofia”, escrita em 1888.
Na época ela foi ridicularizada e criticada por praticamente todo mundo, desde os religiosos mais crentes até os cientistas mais céticos. Em sua obra, porém, ela já falava sobre ideias “absurdas”, como a de que toda matéria está em constante vibração, ou seja, mesmo a mais estática das pedras está, de alguma forma, em movimento. Hoje em dia todo mundo sabe disso, que os átomos são formados por partículas em constante vibração; porém, o modelo atômico que considera o movimento dos elétrons só surgiu no século XX com Rutherford.
Além disso, vários outros conhecimentos do campo da arqueologia, da religião e da ciência foram antecipados por HPB. Inclusive, algumas pessoas próximas a Einstein dizem que a Doutrina Secreta era uma das obras que ele mais estudava. Muito do que Blavatsky ensinou foi deturpado, e hoje em dia existem inúmeras seitas que se dizem esoteristas por serem inspiradas em seus ensinamentos, mas, na verdade, fazem misturas estranhas de diversas crenças religiosas com práticas de parapsicologia e tentam justificar tudo com a famosa frase: “Foi cientificamente comprovado pela física quântica”.
Apesar do mal uso dos termos “física quântica” e “esoterismo”, uma coisa é certa: tanto o verdadeiro esoterismo quanto a ciência podem nos ajudar a compreender a natureza das coisas e o funcionamento do Universo, porém, não podemos unir essas duas áreas do conhecimento.
O poder da mente sobre a matéria, a existência de forças superiores e a existência de consciência fora da matéria são hipóteses bastante razoáveis, principalmente para aqueles que se dedicam à investigação filosófica, no entanto, nada disso foi comprovado pela ciência atual. Se quisermos ter algum progresso, seja no avanço espiritual ou científico, deveríamos focar num simples ensinamento que HPB nos trouxe:
“Não há nada superior à Verdade!”
Se não perdemos a verdade como meta, um dia poderemos comprovar o que de fato é real e o que não passou de uma invenção humana, produto do seu próprio tempo e anseios. Assim como o Sol todos os dias nasce, a Verdade sobre o mundo, a humanidade e o que há de mais profundo na natureza também nascerá. Para isso, jamais poderemos perder de vista essa meta e, assim como em uma longa jornada, deveremos seguir caminhando nessa direção. Que não nos percamos pelo caminho e que não nos deixemos cair nos encantos e facilidades que nos oferecem em troca de uma sabedoria artificial.