Já imaginou que somos todos um, parte de um Universo que funciona como um grande corpo em harmonia? Sim, essa ideia é, sem dúvida, uma novidade para a maioria de nós, entretanto, na antiguidade era perfeitamente comum imaginar o Cosmos como um grande ser vivo. Basta pensarmos de forma um pouco mais ampla e perceberemos que todo o movimento do Universo, desde a criação de estrelas e seus sistemas solares até a destruição de corpos celestes, faz parte de uma mesma dança e todos estão profundamente relacionados.
Pense no movimento do nosso planeta ao redor do Sol: sua órbita elíptica faz um movimento harmônico, assim como os demais planetas que também estão dando voltas, cada um ao seu tempo, no astro-rei. O Sol, por sua vez, não se encontra estático, mas também se movimenta ao redor de nossa galáxia, a Via Láctea. Se formos expandir esse pensamento, perceberemos que no Universo não há nada “aleatório”, que faça um movimento autônomo, mas que, sim, estão todos interligados, seja pela gravidade ou por outras leis da natureza.
Agora, façamos uma comparação com o corpo humano: há, em nosso organismo, alguma célula desconectada do corpo? Ou, mesmo sem saberem da existência uma das outras, as células trabalham de maneira harmônica para a manutenção e sobrevivência do nosso corpo físico? E assim como nosso corpo possui um número quase infinito de células que estão nascendo, morrendo e existindo, o mesmo ocorre no Universo. Será, portanto, tão difícil imaginar que ele pode ser um grande organismo?
O Cosmos: um mistério que o ser humano tenta desvendar
Olhar as estrelas e imaginar o que é cada ponto luminoso no céu noturno sempre foi uma atividade humana. Somos movidos pelas dúvidas, e isso nos faz, a cada dia, avançar pelos mistérios do Cosmos. Toda cultura antiga se perguntou sobre o que seria o Universo, e agora vamos apresentar algumas visões interessantes acerca desse eterno mistério que ronda a humanidade.
Comecemos pela tradição hindu. Os antigos hindus nos ensinam que todo o Universo está vivo, pois representa o corpo do Deus Brahma. Os planetas, as estrelas, os cometas, tudo cumpre com o seu papel no Universo, inclusive o homem. Somos como células, trabalhando e se movimentando pelo bem do organismo. Como falamos na introdução desse texto, a visão hindu também vê o Cosmos como algo unificado, em que nada está separado.
Para além disso, de acordo com a doutrina hindu, o Universo se forma a partir da respiração de Brahma, no qual manifesta a si mesmo quando expira o ar dos seus pulmões. Assim ocorre o que na sua doutrina chamam de “Manvantara”, ou seja, a manifestação do Cosmos. Porém, essa manifestação não é eterna e todo Universo, de tempos em tempos, se recolhe, voltando para o interior do deus criador. Esse recolhimento é chamado de “Pralaya”. Juntos, Manvantara e Pralayla, são os movimentos rítmicos de criação e destruição do Cosmos, que são apenas uma pequena representação dessa grande divindade.
Dentro dessa perspectiva, todo universo está qualificado, ou seja, em todas as suas partes, do mais ínfimo grão de areia até um buraco negro, existe uma parte divina. Logo, todos vieram do mesmo ponto e devem retornar ao mesmo local, sua origem celeste. Sendo assim, todo ser humano, por consequência, também tem dentro de si uma parte desse mistério divino e pode conectar-se não somente com o Universo a partir dele, mas também com outros seres humanos, enxergando uma unidade na multiplicidade.
É fato que não costumamos enxergar uns aos outros sob esta ótica trazida pela cultura hindu, tendemos sempre a nos separar dos demais. Quando baixamos nossa consciência, acabamos vivendo de modo semiautomático. Nossas vidas se tornam o centro de tudo, e os nossos problemas são mais importantes do que os dos outros. Esquecemos de olhar para o lado e oferecer ajuda.
Uma outra tradição, a grega, também nos fala sobre a unidade desse grande corpo cósmico. Tanto na mitologia, com o deus primordial Caos, no qual surge toda a matéria, como também nas correntes filosóficas do Estoicismo, Platonismo e Neoplatonismo, podemos recolher grandes ensinamentos acerca dessa perspectiva. Não pretendemos nos alongar em cada uma dessas doutrinas, o que levaria a muitas páginas e tornaria nossa reflexão demasiadamente longa, mas é fundamental perceber que muitos pensadores e culturas conseguiram enxergar o Universo para além de suas formas e perceber o fio que enlaça todas essas experiências tão distintas.
A unidade presente na vida humana: somos todos um
O vídeo abaixo nos mostra que o tempo todo estamos próximos de alguém, não nos faltam oportunidades para ajudar, o que nos falta é abrir o coração para olhar ao lado, e ver que não somos o centro de tudo. Assim como o Cosmos é um grande organismo vivo, toda a humanidade pode ser vista como um grande corpo, um só ser que busca sua realização, e por isso o problema de qualquer ser humano é, no fundo, o problema de toda a humanidade.
Existem infinitas maneiras de nos conectarmos uns aos outros. Desde oferecer algo bom para uma planta seca ou para um animalzinho de rua, abrindo a porta para alguém ou cedendo o assento ao próximo, até grandes gestos de sacrifício pelo próximo. Entretanto, como podemos perceber no vídeo, não é preciso um grande gesto para provarmos nossa compaixão com o outro, é preciso, apenas, lembrar que somos todos UM. Nós estamos unidos não só por uma questão geográfica, por vivermos no mesmo planeta, mas por uma necessidade de evolução como seres humanos.
Assim como as células de um corpo, apesar de independentes umas das outras, todas atuam pelo mesmo propósito, que é a saúde do organismo. Uma célula que se divide, sem seguir as leis naturais, gera um câncer. O mesmo ocorre quando acreditamos que vivemos separados uns dos outros, que os problemas e dilemas que nossos vizinhos, amigos e até mesmo desconhecidos na rua vivem nada têm em comum com a nossa vida. Se entendermos essa poderosa lição, seremos capazes de mudar a humanidade inteira, gerando mais consciência e diversas virtudes que nos aproximarão ainda mais de nossa essência divina.
Uma prova indelével dessa verdade está na bondade. Quando fazemos uma boa ação, nos sentimos tão bem, não é verdade? Quando agimos apenas pelo benefício do próximo, sem pensar em nós mesmos, em nossos desejos, mas sim pensando apenas no outro, nos realizamos profundamente. Isso ocorre em pequenos gestos, imagine então fazer uma boa ação sempre, sem olhar a quem? Como dizem todas as tradições, é só através do Bem que alcançaremos a Felicidade.
Não é olhando uns aos outros como seres desconectados, mas sim como diferentes partes de um todo. É a partir daí que viveremos essa ideia de Fraternidade Universal e seremos capazes de nos ver como células de um mesmo organismo. Talvez essa ideia, para alguns, seja um sonho, uma utopia, porém será que esse não é um caminho válido a ser trilhado? Se expandirmos nossa consciência e percebermos a harmonia como uma lei do Universo, naturalmente vamos desejar que ela também esteja presente em nossas vidas.
Todo o Universo é assim: um grande corpo cósmico em que tudo funciona harmonicamente. Na Terra, percebemos a mesma harmonia nos mais diferentes ambientes, cadeias alimentares e ecossistemas. Por que não buscar viver essa lei de maneira consciente em nossas sociedades? A mudança para essa nova perspectiva depende apenas de nós, de nossas ações diárias. Se usarmos um pouco mais nossas virtudes para ajudar o próximo, poderemos espalhar a bondade pelo mundo e nos realizarmos, tanto individualmente como coletivamente. Eis o sonho humano, cabe a nós realizá-lo!
