WandaVision: O que nos faz fugir da realidade?

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Você já comeu a polpa do coco verde? Tem quem não goste e quem goste. Mas, qualquer que seja sua preferência, é muito provável que essa metáfora também sirva para você. Para chegar à polpa, passamos por uma casca nada atraente e até mesmo dura. Parece que essa regra se aplica a vários outros aspectos da Vida. Se há coisas que parecem feias e duras, deve haver maior necessidade de esforço para encontrar algo nutritivo no centro. Se você desistir logo nos primeiros esforços, pode perder uma boa oportunidade. Essa analogia parece que serve também para o tema deste texto.

WandaVision é uma série da Marvel, disponível no Disney+, lançada no Brasil em 15 de janeiro de 2021. Apesar de ser a série mais vista do mundo por várias semanas, a crítica se dividiu entre um apoio eufórico pelo audacioso formato (bem diferente dos grandes filmes do MCU e com uma homenagem honesta aos seriados no modelo sitcom que fizeram sucesso nos anos 50, 60, 70, 80 e 90) e uma frustrante denúncia de um final óbvio e uma vilã pouco relevante. O modelo sitcom se refere àqueles seriados geralmente bem humorados,  com personagens em situações e contextos corriqueiros do dia-a-dia. Bons exemplos são: “Jeanie é um gênio”, “Perdidos no espaço”, “Arnold”, “Todo mundo odeia o Chris”, etc. Lembrem-se que o nosso foco sempre é buscar o centro das produções que indicamos e no centro deste seriado encontramos belas lições e vamos contar tudo sem spoilers. Se você não gostar da casca de WandaVision, experimente ver por outro ângulo, ir mais fundo, procurar o centro da história.

A produção dirigida por Matt Shakman explora o universo particular de Wanda Maximoff. Três semanas após os eventos narrados no filme “Vingadores: Ultimato” (última obra da fase 1 da franquia da Marvel, lançado em 2019, com um sucesso estrondoso), encontramos a feiticeira vivendo uma vida de novela, em uma cidade suburbana chamada Westview. Nesse local, a realidade parece um pouco alterada. Visão (seu marido), por exemplo, está vivinho da silva. Se você não lembra, ele foi morto por Thanos no filme derradeiro da etapa “Vingadores: Guerra Infinita”.

Talvez você não tenha visto todos os filmes da Marvel, então vale rememorar: Thanos foi o principal vilão dos dez primeiros anos de produções cinematográficas da empresa. Ele viajava todo o Universo buscando cinco poderosas jóias com um conceito meio estranho de Justiça: matar metade de todos os seres vivos do Universo para que a outra metade construa um lugar melhor. Depois de muitas aventuras, o vilão consegue colocar as jóias numa espécie de luva (uma manopla) e estala os dedos, dizimando cinquenta por cento dos seres do Universo, entre eles a nossa heroína Wanda Maximoff (e o Pantera Negra). Mas, a trupe de heróis mais famosa da Marvel, os Vingadores, não iria deixar o vilão sair vitorioso. Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra, Hulk, Gavião Arqueiro, Thor, Homem Formiga e muitos outros, conseguem voltar no tempo, recuperar as jóias destruídas e trazer de volta à vida aqueles que foram assassinados pelo titã louco. Wanda Maximoff era uma delas. Ainda que o Homem de Ferro tenha entregue sua própria vida para desfazer toda essa confusão, nem assim consegue trazer Visão de volta.  Pensem como ela deve ter sofrido, ao descobrir que voltou, mas perdeu seu grande Amor. Não é difícil imaginar a dor que Wanda deve ter sentido, quando foi trazida de volta à vida após cinco anos desaparecida nos eventos do blip (o genocídio do vilão Thanos).

Você já sofreu uma dor lacerante como essa? Você já chorou tanto que as lágrimas secaram? Você já sentiu aquela vontade de fugir da realidade e pular fora dessa espiral de sofrimento? Todas as dores devem ser respeitadas. Se a perda de alguém dói, é porque a relação entre as pessoas foi real. Não é mi mi mi. Todavia, é comum que nessas situações, fujamos para uma espécie de realidade paralela. Criamos teorias sobre os culpados, buscamos explicações racionais, ou metafísicas que nos ajudem a encontrar uma saída, ou uma explicação para o que sentimos. Vamos juntando camadas e mais camadas de revoltas, solidão e sofrimento e o monstro parece que vai ganhando vida própria. Foi exatamente o que a protagonista da série fez. Como uma poderosa feiticeira, ela criou uma realidade própria para fugir da sua. E quem nunca quis que sua vida fosse como um seriado de TV? Cheio de aventuras, humor, trilhas sonoras bonitinhas, vizinhos intrometidos… Wanda, então, cria um mundo onde ela pode realizar o sonho de ter uma vida comum, com o amor de sua vida. Mas, como é esperado, todas as ilusões duram pouco. A nova vida de Wanda e Visão gera um impacto direto na vida de centenas de pessoas. Esse é um dos problemas de fugirmos das provas da vida. Em geral, fazemos sofrer as pessoas ao nosso redor, enquanto evitamos, ou simplesmente, não temos condições de olhar nossos problemas de frente.

Qualquer que seja a sua forma de lidar com situações de desespero, em algum momento, você terá que encarar seus pesadelos. Terá que voltar para a realidade e encontrar uma forma de continuar. Uma forma de remendar os cacos de um coração partido e manter-se em movimento.

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WandaVision é sobre isso. É sobre lidar com a dor, sobre fugir da realidade e sobre voltar para ela, mais forte do que nunca! E a chave para isso passa por aceitar a Vida como ela é. Tem coisas que podemos mudar e nessas devemos ser os guerreiros mais ferozes. Mas, há coisas que simplesmente não podemos alterar. Ainda que a gente esperneie, ainda que nos revoltemos, ainda que lutemos com todas as nossas forças, apenas desperdiçaremos uma energia que poderíamos usar em outras frentes de batalha. E o que é a Sabedoria? É exatamente saber quais guerras devem ser travadas.

E como saber isso? Um bom caminho é observarmos os resultados das nossas ações. A forma como lidamos com a dor está nos deixando mais fortes diante das circunstâncias, ou mais frágeis com a chegada das crises? Além disso, ela tem feito as pessoas ao nosso redor sofrerem? Dependendo da resposta, cabe uma reflexão: será que nós estamos encarando a realidade? Ou será que andamos fugindo para lugares mais confortáveis?

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Lembremos que a Vida é “luta”. Nada vem de graça. Tudo é conquistado com esforço. E é com Força e Perseverança que poderemos vencer os momentos de dor e continuar a viver a Vida, ainda que tenhamos que fazer escolhas difíceis como deixar posições políticas consolidadas, opiniões formadas e sentimentos acomodados. Não esqueçamos de uma coisa: as coisas difíceis são as mais necessárias.

No final, se a Vida não pode ser mudada, mudemos a nós mesmos! Que possamos crescer, evoluir, nos reformar e descobrir os Poderes Latentes que todo Homem tem em si. O poder de vencer a dor e construir o futuro dessa realidade em que vivemos.

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