Você sabe o que é FOMO? O chamado “medo de estar perdendo algo” é uma das principais causas de ansiedade nas redes sociais atualmente. Imagine a seguinte cena: você está em casa, tranquilo, com tempo livre. Decide pegar o celular para passar alguns minutos nas redes sociais e, em poucos instantes, se depara com uma enxurrada de imagens: amigos viajando, colegas fazendo cursos incríveis, conhecidos ganhando prêmios, pessoas com relacionamentos perfeitos e vidas aparentemente fascinantes. De repente, o que era tranquilidade vira incômodo. Surge uma sensação estranha no peito, a impressão de que você está atrasado na vida, de que algo importante está acontecendo e você não está lá.

É possível que em algum momento você já tenha se sentido assim, mesmo que em uma intensidade menor. Essa sensação tem nome: FOMO, sigla em inglês para “fear of missing out”, ou, em português, “medo de estar perdendo algo”. De maneira sintética, podemos afirmar que FOMO nada mais é do que essa sensação de que a vida alheia está ocorrendo, enquanto nós somos apenas espectadores. Perceba que não se trata apenas de curiosidade ou desejo de estar informado, mas uma inquietação profunda, uma angústia de que os outros estão aproveitando mais a vida, se divertindo mais, conquistando mais, enquanto você está de fora.
Em linhas gerais, a FOMO se enquadra em um tipo de ansiedade social moderna. Ela é alimentada de muitas formas, porém, a mais comum é através das redes sociais e da maneira como usamos nossas mídias. Ao interagir com o recorte da vida de milhares de pessoas que, via de regra, postam seus sucessos e escondem os fracassos, sentimos que nossa vida nunca está à altura das pessoas que seguimos ou conhecemos.

Desse modo, ao sermos alimentados diariamente pelas notícias de outras pessoas, acabamos, de forma inconsciente, comparando a nossa vida com a delas. Logo, a sensação de “fracasso” ou de que “eu deveria estar em outro ponto da vida” se torna tão forte que nos causa uma ansiedade de viver aquilo que os outros estão vivendo. Curiosamente, a FOMO não é um termo relativamente novo. A bem da verdade, ele existe desde os anos 2000; entretanto, esse fenômeno ganhou força com a ascensão das redes sociais, e seus efeitos passaram a causar danos em milhões de pessoas.
Nunca estivemos tão expostos ao que os outros fazem. A vida social, antes dividida de forma muito objetiva entre o aspecto “privado”e “público”, se perdeu. Tudo que fazemos precisa ser espetacularizado, mostrado, e o conceito de intimidade ganhou novas formas a ponto de não sabermos mais o que é de foro íntimo ou não. Assim, as redes sociais formaram uma verdadeira janela para que todos possam observar a vida alheia, pelo menos o que lhes é permitido publicar. Mesmo que saibamos que esse recorte da vida é, em síntese, apenas um recorte, nosso cérebro não sabe distinguir perfeitamente o que é apenas edição e o que é realidade.
Diante disso, a ansiedade por pertencimento e reconhecimento faz com que interpretemos a vida das redes sociais como realidade absoluta. É aí que a FOMO nasce. A bem da verdade, o estímulo primário desse fenômeno é um instinto muito natural de nossa humanidade: o desejo de não ser excluído, de estar onde os outros estão, de fazer parte. Mas, nesse desejo, acabamos nos afastando de nós mesmos. Passamos a viver pela comparação e não mais pela escolha.
O impacto do FOMO no nosso bem-estar
A comparação sempre fez parte da natureza humana, mas no mundo atual ela se tornou uma presença constante e desgastante. Com um simples toque na tela, temos acesso a centenas de vidas, todas parecendo mais interessantes do que a nossa. Esse mecanismo cultural de mostrar sempre as conquistas faz com que, com o tempo, surja o FOMO, que acaba alimentando um ciclo silencioso de ansiedade.

O medo de estar perdendo algo nos leva a nos manter conectados o tempo todo, tanto desejando estar por dentro de tudo o que acontece no mundo, respondendo mensagens rapidamente, aceitando convites mesmo sem vontade. Ao mesmo tempo, dessa forma, vamos sendo influenciados a perseguir um tipo de vida que não é a nossa. Todo esse processo ocorre apenas para evitar a sensação de “estar de fora”. Mas, ironicamente, quanto mais tentamos estar em todos os lugares, mais nos sentimos vazios e sobrecarregados. É uma verdadeira teia de aranha em que quanto mais tentamos nos mover, mais presos ficamos.
Esse incômodo pode gerar, a longo prazo, problemas psicológicos sérios. Um deles, considerado o mais visível, é a baixa autoestima. Ao ver o sucesso alheio, acabamos nos comparando e naturalmente passamos a pensar que somos inferiores, que não somos capazes, e isso causa verdadeiros danos em nossa psique. Pensamentos como “Se todos estão conseguindo, por que eu não?” se tornam comuns e acabamos perdendo nossa confiança, seja em nossas habilidades ou mesmo na tenacidade de alcançar novos objetivos na vida.
Além dessa questão, outros problemas que surgem a partir do FOMO é a ansiedade social que já comentamos, além de uma insatisfação perene com a própria vida. A sensação de que nunca somos o bastante, de que sempre há outra pessoa conquistando aquilo que desejamos, nos rouba a felicidade de viver o presente e suas dádivas. Acabamos reclamando de nossa própria existência e mergulhamos nesse ciclo de tristeza.
Outro efeito danoso do FOMO é o afastamento dos vínculos reais. Quando estamos mais interessados em saber o que está acontecendo em outras vidas do que em viver a nossa, deixamos de estar presentes nas conversas, nas refeições, nos momentos com quem amamos. Estamos fisicamente presentes, mas emocionalmente distantes, divididos entre o mundo virtual – a vida artificial das redes sociais – e o contato real.
Esse medo moderno, ao se tornar padrão, rouba algo precioso: a capacidade de apreciar o agora, de aceitar o que se tem. Diante disso, a pergunta que raramente fazemos quando sentimos FOMO é: o que, exatamente, eu acho que estou perdendo? Essa é uma reflexão importante, que devemos fazer nessas situações, pois, muitas vezes, esse medo de estar perdendo algo não tem forma definida. É apenas um incômodo difuso, um sentimento de que “algo está acontecendo e eu não estou lá”. Mas será que esse “algo” realmente importa? Será que diz respeito aos nossos valores, aos nossos sonhos, ou é apenas fruto de uma comparação vazia?
Gostemos ou não, vivemos em um mundo em que o leque de opções de vida são praticamente infinitas: cursos, viagens, conteúdos, relacionamentos, tendências. No meio de tantas atividades, tudo parece urgente e imperdível. Isso gera o paradoxo da escolha: quanto mais possibilidades temos, mais sentimos o quanto é difícil decidir e, consequentemente, mais sentimos que sempre poderíamos ter escolhido melhor.
Com isso, o medo de perder se transforma em incapacidade de viver bem o que já escolhemos. Ficamos inquietos mesmo durante momentos bons, pensando no que poderia estar acontecendo em outro lugar. A vida passa a ser uma sucessão de “e se…”, em vez de “estou aqui”.
Como lidar com o FOMO?
Não há fórmula mágica para eliminar o FOMO, mas há caminhos possíveis. Tudo começa com um passo simples: reconhecer o que sentimos, sem culpa. A maioria de nós, em algum momento, já sentiu esse medo de estar perdendo algo. Isso não nos torna fracos ou superficiais, pelo contrário: mostra que somos humanos, que buscamos pertencimento e significado.

A boa notícia é que é possível reduzir o impacto do FOMO e resgatar uma vida mais tranquila. Tudo começa em um uso consciente das redes sociais, sabendo discernir que, por trás de todo aparato e de todas as vitrines a que estamos expostos, não há uma vida perfeita como a mostrada. Entender isso é um grande passo para reduzir nossa ansiedade.
Outro ponto importante é entender que o uso das redes sociais é, na verdade, uma forma de fuga. Vivemos fugindo do tédio, por exemplo, e mergulhar no entretenimento das redes é uma maneira de escapar da monotonia. Entretanto, podemos sair de um problema e cair em outro. Sendo assim, ter uma forma saudável de vida, aceitando inclusive que há momentos para viver o tédio, faz parte de nossa jornada.
Quando entendemos que a FOMO é apenas o nome moderno para o sentimento de dúvida acerca de nossas próprias vidas, então aprendemos a lidar melhor com ela. Estamos sempre pensando se estamos vivendo da maneira correta, se este é o jeito certo de vivermos, mas o que é viver certo? Cada pessoa tem um caminho. O problema é que, quando olhamos demais para o lado, perdemos de vista a nossa própria trilha.
A verdade é que ninguém está plenamente satisfeito, nem mesmo quem posta fotos perfeitas. Todos lidam com dúvidas, medos e inseguranças. A diferença está em quem escolhe viver com mais calma e quem se deixa levar pela urgência da aparência. Portanto, entenda que você não está atrasado, nem está perdendo nada que realmente seja seu. A vida acontece no agora, nas suas escolhas, no que você cultiva todos os dias, e não naquilo que aparece na tela do celular.
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