Superman, criado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster, tornou-se um dos maiores ícones da cultura pop e um símbolo atemporal do arquétipo do herói escolhido. É muito improvável que uma pessoa nos últimos 60 anos não saiba quem seja o Superman, afinal, sua imagem circulou o mundo e ele se tornou um dos mais emblemáticos super-heróis da indústria do entretenimento. Com sua capa vermelha, uniforme azul e o símbolo inconfundível no peito, ele é, para muitos, a personificação do herói ideal, pois combate as injustiças e é um exemplo de coragem, determinação e sacrifício, ou seja, um herói perfeito.

Entretanto, por trás de sua imagem poderosa, há uma construção simbólica profunda: a figura do “Escolhido”. Este arquétipo, presente em diversas mitologias e religiões ao longo da história, ganha nova roupagem no universo dos quadrinhos e no cinema, principalmente nas adaptações modernas do Superman. Por isso, vamos não apenas conhecer o homem de aço, como é costumeiramente retratado, mas também entender como esse personagem representa um arquétipo que nós, seres humanos, buscamos.
Quem é o Superman?
Comecemos pelo início de tudo: Clark Kent, ou Kal-El, é o último filho do planeta Krypton, enviado à Terra por seus pais biológicos momentos antes da destruição de seu mundo natal. Criado por Jonathan e Martha Kent no interior do Kansas, o jovem Clark cresce e descobre logo cedo que possui poderes extraordinários. Entre esses poderes estão uma força sobre-humana, a visão de raio-x, a supervelocidade, o voo e a resistência, tornando-o praticamente invulnerável a golpes e armas de fogo.
No entanto, apesar de suas capacidades extraordinárias, Clark é um ser bondoso, gentil e extremamente educado, resultado da boa educação que recebeu de seus pais adotivos. Com uma conduta moral inabalável, seu desejo de proteger a humanidade é superior a qualquer outro e, por isso, em suas histórias, ele não poupa esforços para derrotar os vilões que ameaçam a Terra.
Apesar de ser um personagem, o Superman representa um arquétipo humano. De maneira objetiva, podemos afirmar que esse ser com muitas habilidades e virtudes não é um desejo recente, mas, sim, uma busca da humanidade para sua melhor forma. Ao pensarmos filosoficamente, pensadores como Platão, por exemplo, já apontavam a perspectiva de buscarmos nossa melhor versão, ou seja, de sermos seres humanos ideais, que se movimentam por ideias e buscam viver suas virtudes.

Outro pensador que refletiu sobre essa mesma ideia foi Nietzsche. Em sua obra “Assim Falou Zaratustra”, o autor nos apresenta a ideia do Übermensch, ou Super-Homem, como um ideal a ser alcançado pelo ser humano: alguém que supera a moral tradicional e cria seus próprios valores. Ainda que o Superman dos quadrinhos não seja uma representação direta desse conceito filosófico, existe uma ponte entre essas ideias, afinal, ambos representam algo que vai além do comum.
Na vida real existem diversos super-homens, mas que muitas vezes não são reconhecidos. Se levarmos em conta a perspectiva filosófica e o que propõe o personagem, uma pessoa que é capaz de transcender suas limitações pode ser vista como um super-homem ou uma supermulher. Frente a essa perspectiva, quantas pessoas conhecemos que, em situações difíceis, foram capazes de mostrar sua melhor versão, suas virtudes, e não ceder ao desespero, ao medo ou qualquer outro aspecto negativo da nossa personalidade?
Os exemplos são muitos e variáveis: desde o médico que trabalha em zonas de guerra, o bombeiro que entra em um prédio em chamas, a mãe solo que luta diariamente por seus filhos, o professor que transforma vidas em uma sala de aula com poucos recursos. Há, portanto, diversos super-heróis que não se apresentam ao mundo, mas que trabalham nos bastidores para transformar a realidade com que se deparam. Essas figuras cotidianas, embora sem superpoderes, demonstram o mesmo espírito de abnegação e responsabilidade que define o Superman.

O arquétipo do “Escolhido” no personagem do Superman
Outro ponto importante ao falarmos sobre o personagem do Superman é o arquétipo do “Escolhido”. Essa ideia pode ser encontrada em diversos cenários, inclusive em figuras religiosas como Moisés e Jesus Cristo. Porém, essa ideia não permeia apenas pessoas que estão presentes em livros sagrados, até porque, a bem da verdade, todos nós acabamos, em maior ou menor grau, vivendo essa ideia.
Quantas vezes nos sentimos especiais, no sentido de sermos a pessoa correta para uma atividade? Ou até mesmo nos pegamos pensando que carregamos o peso do mundo em nossos ombros?
Esse padrão narrativo é universal e, quando olhamos nossa própria história, podemos reproduzi-lo, de forma inconsciente. O “Escolhido” sempre é visto como aquele que carrega um grande fardo, que precisa sacrificar-se pelos demais. É aquele que, mesmo sendo odiado por alguns, amado por outros, continua sua missão. Nesse sentido, o Superman não é apenas um personagem com superpoderes: ele é um símbolo. Representa a eterna busca humana por justiça, equilíbrio, e esperança; representa a ideia de que, mesmo em um mundo caótico, pode haver ordem, bondade e sacrifício voluntário pelo bem comum.

Ele é, dentro da sua narrativa, o escolhido que leva essas virtudes ao mundo. O arquétipo do “Escolhido” nos filmes do Superman é uma poderosa metáfora sobre responsabilidade, pertencimento e compromisso com a humanidade. Ao acompanhar suas aventuras, somos convidados a refletir e nos inspirar: E se nós fôssemos os escolhidos para fazer a diferença no nosso mundo? Não em escala global, como nos filmes, mas na vizinhança, na família, no ambiente de trabalho? Será que poderíamos ser tão virtuosos quanto o homem de aço?
O verdadeiro heroísmo não está em levantar edifícios ou derrotar vilões com um soco, mas, sim, em se levantar diante das adversidades da vida, em lutar por justiça quando tudo parece injusto, em manter a esperança quando o mundo parece desabar. É por isso que, apesar de nos inspirarmos com histórias fantásticas como a do super-homem, nós somos os verdadeiros heróis da realidade em que vivemos quando somos capazes de superar tais adversidades.
Dessa forma, o Superman é o “Escolhido” porque decidiu usar tudo o que tinha para proteger, guiar e inspirar as outras pessoas. Esse é o seu caminho e, mesmo sendo um personagem da ficção, é possível aprender com suas lições e atitudes.
Por fim, se quisermos, vamos aprender com esse herói que cada um de nós pode – à sua maneira – ser um símbolo, um exemplo, uma referência. Podemos ser o amigo que escuta, o cidadão que age com ética, o pai ou a mãe que guia com amor. Além disso, podemos ser também, para alguém, a figura que escolheu cuidar, apoiar, lutar e acreditar. Não é necessário grandes poderes para realizar esse feito, apenas exercer nosso papel de ser humano no melhor aspecto de nossa natureza.
Assim, por mais que o Superman seja um personagem, o impacto real que ele gera em nossa imaginação e nos nossos valores é profundo. Em tempos de crise ou incerteza, ele nos lembra que há força na bondade, dignidade no sacrifício, e luz mesmo nos momentos mais sombrios. Assim como ele, todos temos nossas origens, nossas dúvidas e nossas lutas. Mas também temos a chance de fazer algo grandioso, não por termos sido escolhidos por alguém, mas por termos escolhido ser luz no caminho do outro. Esse é o verdadeiro poder. Essa é a missão que vale a pena.
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