Como podemos superar os obstáculos de um mundo tão complexo? A história de Yusra Mardini, a nadadora síria refugiada que inspirou o mundo nos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, contada em uma cinebiografia intitulada “As Nadadoras”, na plataforma Netflix, é um bom exemplo para nós.
O longa narra a trajetória das irmãs Yusra e Sarah, que eram nadadoras em busca do profissionalismo e deixaram a Síria para fugir da Guerra Civil. Passaram pela Turquia e Grécia até chegarem na Alemanha, onde conseguiram patrocínio com um treinador alemão. No ano de 2015, a guerra na Síria, que iniciou em 2011, atingiu um dos momentos mais cruciais de todo o seu conflito, resultando em um intenso êxodo da população em busca de refúgio em países europeus. Em meio a todas as adversidades enfrentadas pelos refugiados, um grupo de nadadoras sírias se destacou ao participar de uma competição internacional, inspirando o mundo com sua coragem e determinação. Na cinebiografia, as irmãs franco-libanesas Nathalie e Manal Issa interpretam as protagonistas. A história de Yusra Mardini é uma história da perseverança, da superação e do valor de sonhar e perseguir seus sonhos em meio a um mundo tão injusto e complexo.
Como atleta, a jovem síria começou muito cedo na natação e representou a Síria no Campeonato Mundial de Natação da FINA em 2012. No entanto, a guerra civil na Síria forçou Yusra e sua irmã a deixarem o país em busca de segurança e refúgio. Elas atravessaram a Turquia e chegaram à Grécia em um bote superlotado com outros refugiados. Quando o motor do bote falhou, Yusra e Sara nadaram por mais de três horas empurrando o barco até a ilha grega de Lesbos.
A cinebiografia destaca o momento em que Yusra e Sara chegam à Alemanha, onde conheceram o treinador alemão Sven Spannekrebs, que reconheceu o potencial da jovem nadadora síria. Com a ajuda de Sven, Yusra e Sarah começaram a treinar e, finalmente, Yusra teve a oportunidade de competir nas Olimpíadas do Rio em 2016 como integrante da equipe de atletas refugiados. Foi lá que ela venceu sua primeira competição nos 100 metros borboleta, atraindo a atenção do mundo todo para a causa dos refugiados.
A história de Yusra Mardini é uma inspiração para todos nós. Ela enfrentou inúmeros desafios e obstáculos em sua jornada, mas nunca desistiu de seus sonhos e objetivos. A sua história é um exemplo de como a força de vontade pode superar as adversidades e as dificuldades. Além disso, a história dessa nadadora nos lembra da crise humanitária global que estamos enfrentando atualmente. Milhões de pessoas em todo o mundo estão fugindo de conflitos, perseguições e opressão, em busca de segurança e refúgio.
É importante lembrar que os refugiados, mais do que nós, precisam de ajuda e solidariedade. Por trás de toda esta crise, existe um vício por individualismo e egoísmo, que na tradição tibetana se chama Heresia da Separatividade. Ou seja, uma falsa convicção de que o que impacta um ser humano não impacta a todos, de que estamos separados, de que não somos interligados, de que o sofrimento do outro nada tem a ver comigo, quando, na verdade, percebemos que somos todos, como humanidade, um só, e que o que impacta um, impacta todos, haja vista um momento muito recente de pandemia mundial em que todos nós passamos por situações difíceis, sem distinção, devido ao nosso comportamento predador em relação à natureza.
A cinebiografia de Yusra Mardini também é uma oportunidade para refletirmos sobre o poder do esporte como uma ferramenta de inclusão, superação e formação em valores humanos. O esporte pode ser uma fonte de esperança e inspiração para aqueles que enfrentam dificuldades e adversidades. Ele pode ajudar a unir pessoas de diferentes culturas e nacionalidades, mostrando que, apesar das nossas diferenças, todos nós temos algo em comum. Ou seja, através do esporte, da disciplina para praticar, da humildade de reconhecer seus erros, do espírito em equipe que nos leva à fraternidade, podemos nos tornar mais humanos, ao menos lembrar que todos nós somos seres humanos.
A história de Yusra também nos lembra da importância da empatia, da compaixão e da solidariedade. Quando ela e sua irmã estavam nadando para salvar suas vidas, elas viram um barco lotado de outras pessoas em perigo e decidiram ajudar. Mesmo cansadas e em risco, as duas nadaram até o barco e ajudaram a empurrá-lo para a costa, salvando a vida de todos a bordo. Essa atitude nos lembra que, em situações de crise, a empatia e a compaixão podem ser tão importantes quanto a força física e a coragem. Ao olharmos para a situação atual do mundo, com tantos conflitos e desafios globais, é crucial lembrarmos que todos somos seres humanos e que devemos nos esforçar para entender e ajudar uns aos outros, independentemente de nossas diferenças culturais, étnicas ou religiosas.
Além disso, sua trajetória nos mostra que o esporte pode ser uma ferramenta poderosa para unir as pessoas e promover a paz. Ao competir nas Olimpíadas como parte da Equipe Olímpica de Refugiados, Yusra representou não apenas a si mesma, mas também todos os refugiados em todo o mundo que enfrentam dificuldades semelhantes. Ao se concentrar no objetivo de se tornar uma nadadora olímpica, ela superou não só os desafios pessoais, mas também inspirou muitos outros refugiados a perseguirem seus sonhos e acreditarem em si mesmos. Assim, através de sua história, podemos aprender muito sobre resiliência, coragem, determinação e sobre a importância de nunca desistir, mesmo nas situações mais adversas.
Depois de escapar da Síria e chegar à Europa, ela enfrentou diversos desafios para se tornar uma atleta olímpica. Ela precisou se adaptar a um país e a uma cultura completamente diferentes. A língua, a comida, o clima e até mesmo a forma de se relacionar com as pessoas eram novidades para ela. Mas, mesmo assim, ela não desistiu. Yusra também precisou superar as dificuldades financeiras. Como refugiada, ela não tinha recursos para pagar treinadores ou equipamentos de alta qualidade. Porém, isso não a impediu de treinar com dedicação e foco, usando as ferramentas disponíveis a ela.
Outro obstáculo foi o preconceito. Como estrangeira, muçulmana e refugiada, ela teve que lidar com o estereótipo negativo que muitas pessoas têm sobre essas identidades. Ela recebeu comentários ofensivos e foi questionada sobre sua capacidade de representar a Alemanha nas Olimpíadas.
Sua história de superação inspirou milhões de pessoas ao redor do mundo e a tornou uma verdadeira embaixadora da paz e da inclusão. Além de Yusra, muitos outros refugiados também têm lutado para superar as dificuldades e construir novas vidas em países estrangeiros. A jornada deles é difícil e muitas vezes dolorosa, mas é também uma prova da resiliência e determinação humana. Yusra Mardini é uma inspiração para todos nós, independentemente de nossas origens ou condições, e uma lembrança de que sempre podemos fazer a diferença na vida das pessoas ao nosso redor.
Essa lição é especialmente relevante para alguns de nós que enfrentam desafios em suas próprias vidas. Muitas vezes, é fácil ficar desanimado ou desistir quando as coisas ficam difíceis. No entanto, a história de Yusra nos mostra que é possível superar obstáculos e alcançar nossos objetivos, desde que tenhamos a determinação e a força de vontade para continuar tentando.
Também percebemos na sua trajetória a importância do trabalho em equipe. Como nadadora, Yusra não alcançou o sucesso sozinha. Ela contou com o apoio de treinadores, mentores e colegas de equipe que a incentivaram e a ajudaram a melhorar suas habilidades. Uma reflexão importante em um mundo onde muitas vezes somos incentivados a ser individualistas e a buscar o sucesso sozinhos, em detrimento dos outros. A história de Yusra nos lembra que, muitas vezes, é o trabalho em equipe e o apoio de todos que nos permitem alcançar nossos objetivos e superar desafios.
Yusra Mardini (esq.) com 18 anos, nas Olimpíadas do Rio em 2016. À direita, ela com 24.
Todos nós, enquanto seres humanos, temos muitas ferramentas latentes que esquecemos de recorrer e acabamos por não acreditar em nós mesmos ou na vida: a capacidade de superação, a força de união onde todos somam na vida uns dos outros, a força de vontade para realizar nossos sonhos, a disciplina para se manter no caminho independente das circunstâncias. E histórias como essa, em momentos tão complexos como o nosso, nos convidam a também sermos heróis de nós mesmos, colocando todos nosso potencial de seres humanos no mundo.