Sudoku e a velha arte de usar a mente

Sudoku é um jogo de números cada vez mais popular no Brasil que esconde uma série de segredos e benefícios ao jogador sem que ele mesmo se dê conta disso, como o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas fora do jogo, redução nos níveis de stress e ansiedade, entre outros.

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Uma das descobertas que talvez mais nos surpreenda em relação ao quebra-cabeças, acredite ou não, é que esse passatempo não foi criado no Japão, como o nome pode sugerir, muito menos é uma herança milenar de alguma cultura de sábios ancestrais. Ele foi criado nos Estados Unidos na década de 70, com o nome de “Number Place”, ou, “Lugar do Número” em português, e ainda se chama dessa forma por lá.

Uma empresa japonesa decidiu importar a ideia, batizando-a na terra do Sol Nascente como hoje a conhecemos no Brasil, Sudoku, que é a abreviação em japonês para suuji wa dokushin ni kagiru

(数字は独身に限る) que quer dizer “os dígitos devem permanecer únicos”, o que basicamente já resume a única regra do jogo que nos diz que devemos preencher uma matriz de 9 blocos, com 9 espaços dentro de cada um deles, em que é preciso marcar números de 1 a 9. O desafio é não repetir nenhum número, seja em cada linha, coluna, ou bloco. O jogo já nos oferece alguns dos espaços respondidos, para que possamos usar de ponto de partida, e quanto menos espaços já vierem marcados, mais difícil será completar o quebra-cabeças.

Sudoku não exige grandes habilidades matemáticas, como pode parecer à primeira vista, mas, pelo contrário, até nos ajuda a desenvolvê-las. Assim como um cubo mágico, por exemplo, esse passatempo esconde algoritmos capazes de resolvê-lo mais rapidamente, o que vem ajudando no aprendizado e na prática da lógica há décadas. A análise

combinatória dos espaços em branco revela o alto número de possibilidades de solução. No entanto, o jogo nos desafia ainda mais, em diferentes aspectos.

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O jogo pede de seus jogadores, principalmente, concentração, afinal, é muito fácil confundir os números se não dermos a devida atenção. Além disso, também trabalha o raciocínio lógico para que se possa deduzir a forma correta de preencher cada espaço, e, ainda, dois tipos de visão, uma que contemple cada detalhe individualmente, que pode ser chamada de micro visão, e outra que possa observar a matriz por inteiro, a macro visão. É natural que, ao exercitar essas habilidades através da prática de Sudoku, elas se tornem mais ativas em outros aspectos da nossa Vida.

Com a oferta cada vez maior de entretenimento individualizado atualmente, estamos enxergando menos o mundo à nossa volta a partir de pontos de vista variados. Pelo contrário, vemos tudo mais e mais apenas de um único jeito, que frequentemente é o nosso. O conforto da tecnologia, que não podemos negar tem grande valor, como consequência, nos tira um esforço importante, o de entender como as coisas mais simples funcionam. Isso significa, na prática, que estamos terceirizando nossa inteligência às máquinas, quando deveríamos conceder a elas apenas o direito de nos preservar de esforços além de nossas capacidades Humanas, como realizar cálculos muito complexos em frações de segundos, ou erguer cargas que pessoas comuns não poderiam. Se esse nosso estilo de vida tem causado impacto nos adultos, imagine o estrago em que deixa as crianças e os jovens.

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Vìdeos no YouTube, aplicativos para celular, realidade virtual, entre tantas outras coisas, são grandes conquistas da nossa era, mas, precisam ser administradas com o mesmo cuidado de um medicamento para crianças, pois apesar de fornecerem algumas opções que podem oferecer, sim, algum aprendizado, não o fazem em sua grande maioria. Grande parte das atividades voltadas para os pequeninos, não tem qualquer finalidade além de consumir sua atenção, seu tempo, e tentar converter isso em vendas dos mais diversos produtos.

Já nos habituamos a evitar qualquer tipo de esforço, usa-se o elevador até para subir dez degraus, do mesmo jeito que se usa para subir dez andares. Assim também é com o controle remoto de nossa TV, que evita o esforço que nossos pais, ou até nós mesmos, fazíamos décadas atrás, de levantar e ir até o aparelho se quiséssemos mudar de canal. Ou os vidros de nossos veículos, que hoje vem com acionamento elétrico por padrão. Nada disso é crime nem é um mal em si, mas, toda ferramenta precisa ser bem usada para funcionar como deve. Imagine se faz sentido evitarmos um lance de escadas por dia, para trocá-lo por horas na academia toda semana? Mas, o maior perigo está exatamente quando esse conforto nos tira o esforço mental, nos levando a uma espécie de “preguiça”, que afeta diretamente nosso crescimento e produtividade.

Se observarmos atentamente, vemos que as principais colunas da nossa existência são erguidas com muito esforço da mente. Nossos bens, nossa formação profissional, o curso universitário, a forma como nos relacionamos com o mundo, o domínio da linguagem, tudo requer o uso da inteligência. Por isso, essa preguiça mental é muito traiçoeira, pois sutilmente nos transforma em um fracasso em todas as áreas, uma vez que a Vida nos demanda raciocínio contínuo. Cada decisão que tomamos, cada projeto, cada empreendimento requer trabalho da mente, é preciso ter muito cuidado com o quanto estamos preguiçosos no exercício de raciocinar.

O jogo Sudoku é desafiador, pois não oferece todas as respostas, e garante a melhor recompensa quando é solucionado, a realização pessoal. Outros jogos eletrônicos para crianças, diferentemente, adotam políticas de recompensa que podem despertar competitividade excessiva, inversão de valores, e apego exagerado ao que é material. Muitos deles, disponíveis para download nas principais lojas de aplicativos, vendem diretamente ao jogador vantagens competitivas como dicas ou melhores condições para ganhar o jogo, que na prática colocam quem paga por elas à frente dos demais jogadores. Sem esforço real, e disponíveis apenas para aqueles que podem pagar por isso, esses métodos acabam por transmitir valores excessivamente materialistas aos jogadores, que são em grande parte crianças e adolescentes

Se perguntarmos para qualquer médico, ou indo até mais longe, a quase qualquer pessoa sobre os benefícios dos exercícios físicos, certamente teremos uma unanimidade de respostas nos encorajando a fazê-los, pois melhoram nossa saúde, e preservam nosso corpo. A mente, não é diferente nesse sentido. Movimentá-la, a mantém em atividade, e assim, naturalmente, saudável. Movimentemos nossa mente, para que ela continue sempre jovem, e capaz de grandes feitos.

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