Como Sócrates nos ensina a buscar a verdadeira sabedoria.

Há cerca de 2.500 anos, um filósofo grego chamado Sócrates ficou incrédulo com o Oráculo de Delfos. Em certa ocasião, o oráculo revelou que Sócrates, uma pessoa humilde, sem nenhum cargo social relevante, com pouco letramento nas artes mais eruditas e que praticamente passava fome em Atenas, era o homem mais sábio de toda a Hélade. Como isso era possível? Em meio a tantos ilustres cidadãos atenienses, cretenses e espartanos, como aquele humilde filósofo poderia ser o mais sábio?

Sócrates dialogando com cidadãos na Grécia Antiga.
Sócrates: a busca pela verdadeira sabedoria.

Duvidando do oráculo, Sócrates decidiu comprovar que dessa vez a resposta dos deuses poderia estar enganada. Saiu então perguntando aos mais distintos homens de sua cidade, Atenas, sobre o que eles sabiam. Encontrou com juízes, políticos e grandes pensadores que eram seus contemporâneos, até que após longas conversas, chegou a conclusão que imortalizou seu nome na História: descobriu que, de fato, o oráculo estava certo, pois todos ao seu redor pensavam que sabiam de algo, quando na verdade de nada sabiam. Já o filósofo, ao contrário dos seus “concorrentes”, sabia que não sabia de nada. Assim, expressando a famosa frase “só sei que nada sei”, Sócrates comprovou que era o mais sábio de toda a Grécia.

Essa pequena anedota histórico-filosófica guarda, porém, mais do que uma simples constatação. Ela nos faz refletir sobre a natureza do conhecimento humano. Será que de fato sabemos plenamente de algo? Como podemos saber sobre o mundo? Essas indagações parecem um tanto quanto ingênuas, mas nos levam a uma verdadeira busca pela natureza do verdadeiro conhecimento. Não pretendemos, entretanto, complicar e tornar esse texto enfadonho, afinal, poderíamos nos perder em inúmeras indagações a partir desses questionamentos e, tal qual um labirinto, ficaríamos presos em um ciclo vicioso.

Visto isso, a pergunta permanece: como sabemos de algo? E como podemos alcançar seguramente a sabedoria? É isso que vamos tentar entender agora!

Aprendendo com o mundo sensível: o reino das ilusões

Todo ser vivo se conecta com o mundo ao seu redor através dos sentidos. No caso do ser humano, usamos cinco sentidos: tato, olfato, visão, audição e paladar. É por meio deles que conseguimos perceber o que nos cerca e objetivamente saber algumas coisas. Por exemplo, para sabermos o gosto de algum alimento, usamos o paladar; para diferenciar um som agudo de um grave, usamos a audição; e assim por diante.

Ilustração comparativa entre o mundo sensível e o mundo inteligível, destacando os cinco sentidos humanos e conceitos de ilusão.
O mundo sensível e suas ilusões em contraste com o mundo das ideias.

Porém, o fato de usarmos todos esses sentidos garante, necessariamente, que sabemos de algo? Ou, se formos mais precisos, vamos saber a sensação de certos fenômenos naturais a partir deles. Essa sensação é apenas uma percepção do fenômeno, mas não o que ele realmente é.

Para simplificar nossa questão, basta pensarmos em um exemplo corriqueiro. Imagine uma sala com algumas pessoas e com um ar-condicionado ligado. Para algumas pessoas, após alguns minutos, a sala estará fria; para outras, porém, é possível que a sala esteja quente. Quem está, nesse caso, correto? Não há como saber, afinal, a percepção de cada pessoa é individual, pois depende de como o sentido que ela usa opera em seu organismo. Assim, apesar de podermos regular a temperatura da sala, cada pessoa sentirá frio ou calor de maneira específica. 

Frente a isso, o que podemos concluir? Uma verdade inexorável: nossos sentidos são limitados e só nos proporciona uma visão parcial da realidade. Logo, nunca poderemos alcançar uma sabedoria a partir somente deles. É por isso que na antiguidade se diferenciava, de maneira muito objetiva, o mundo do saber (ou mundo inteligível) do mundo sensível, que seria o local em que estamos presos a essas sensações.

Para Platão, por exemplo, existe o mundo das ideias, que só pode ser alcançado pela razão, e o mundo material, no qual os arquétipos são plasmados. Para os hindus, o mundo em que vivemos é controlado por Maya, a deusa da ilusão, fazendo uma referência a tudo que pode desaparecer no tempo e no espaço. Dessa forma, para os seguidores dessa doutrina, tudo que muda é ilusório, enquanto aquilo que é de fato real nunca pode morrer. Se aproximarmos essas duas ideias, perceberemos que Platão fala de maneira similar, uma vez que para o filósofo grego, o mais real e divino era de fato o mundo das ideias, uma vez que estas não podem desaparecer nem mudar.

Perseguindo o verdadeiro saber

Visto isso, precisamos refletir sobre a sabedoria: será que, em última instância, tudo que sabemos e que se baseia nos sentidos é uma ilusão? Se sim, como podemos alcançar um verdadeiro saber? Essas perguntas invadem a filosofia desde tempos imemoriais e existem diversas correntes, dos mais variados tipos, para se discutir sobre a natureza do conhecimento. Em linhas gerais, podemos definir dois tipos de posições sobre essa perspectiva: Há quem busque sustentar-se na experiência e no existencialismo, já outros atribuem ao metafísico a verdadeira natureza do saber. 

Representação do mundo das ideias de Platão.
O mundo das ideias e a busca pela verdade.

De maneira sintética – e deixamos claro que é, de fato, apenas uma abordagem geral do tema –, podemos falar que a corrente existencialista, na qual podemos englobar uma outra série de correntes e pensadores, busca basear a natureza do saber na própria existência. Para essa perspectiva não há nada de metafísico no mundo, mas sim uma evolução do pensamento humano, capaz de abstrair e refletir sobre fenômenos que, no fundo, são apenas isso: fenômenos da matéria. Nessa perspectiva se englobam grandes correntes do mundo atual, em que a natureza e todo o cosmos é uma soma de leis e constantes que, de maneira determinística e aleatória, criou o mundo em que vivemos.

Por outro lado, a corrente que busca explicações metafísicas aponta que a matéria por si só não pode ser explicada, colocando sua origem – e causa – em um ponto fora da natureza, do mundo físico. Este mundo, portanto, é um reflexo de outro, que é operado pelas leis da natureza, que regem sua ordem e expressam, de maneira harmônica, essa dança da natureza. 

Apesar de partirem de pressupostos diferentes, ambas concordam que não basta apenas os sentidos para sabermos sobre algo, afinal, estes são limitados e não conseguem captar a essência do mundo. Para tanto, é preciso sempre usar a razão, ou seja, refletir e aprofundar em tudo que nos permita alcançar um grau de saber maior.

No mundo em que vivemos, cheio de informação e desinformação, o uso da razão em seu aspecto mais amplo se faz extremamente necessário. Cada vez mais, consumimos informações que não passam de opiniões e achismos, o que nos afasta da sabedoria. Além disso, o hiperestímulo dos nossos sentidos nos faz apenas acreditar naquilo que podemos ver, tocar ou provar. O saber, porém, está muito além de qualquer prova material, visto que não podemos alcançar de maneira segura o âmago de tantas questões.

Uma representação do Oráculo de Delfos com Sócrates ao fundo.
O Oráculo de Delfos reafirmando a sabedoria de Sócrates.

Sendo assim, não é o fato de termos acesso a mais informações que nos distingue dos antigos, uma vez que estes pouco sabiam, como afirmava Sócrates. Certamente, o grande filósofo grego seria eleito, por um novo oráculo, ainda o mais sábio do mundo, afinal, sua máxima prevalece e ainda somos ignorantes frente a Verdade e a Sabedoria.

Sobre essa aproximação da Verdade e do uso do pensamento crítico, nós da Feedobem desenvolvemos um vídeo que nos ajudará a entender melhor a real necessidade de usarmos cada vez mais a razão e refletir sobre tudo que consumimos no que se refere à informação. Além disso, é válido sempre refletir sobre como chegamos a algumas conclusões e se, de fato, estamos usando os sentidos apenas ou partindo de uma reflexão e pensamento racional. 

Assista o vídeo que produzimos e reflita sobre isso!

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