Em um mundo onde ser certo em um mundo errado parece antiquado, as fronteiras entre o certo e o errado se tornam cada vez mais tênues. O que é popular vira verdade, e o que é justo é muitas vezes ignorado. Mas será que seguir a maioria é o caminho ideal? Nas conversas entre amigos, o que todo mundo faz tende a ser considerado normal, mesmo quando fere valores éticos básicos. É o famoso “efeito manada”, no qual a maioria determina o que deve ser feito e, por não querermos ser diferentes, acabamos seguindo o mesmo caminho, mesmo que não seja o ideal.

Nesse cenário, dizer “não” a algo errado parece careta, antiquado, ou até motivo de exclusão. Ser “certo”, ou seja, escolher o bem, a verdade e a justiça em um mundo que recompensa o oposto é um ato de coragem. E essa coragem não é pequena: é uma das mais difíceis de se viver, especialmente na juventude. Para sermos capazes de viver de tal maneira, devemos não apenas conhecer o certo e o errado com clareza, mas principalmente ser dono de nós mesmos, não sermos fantoches da vontade alheia.
Sabemos que a adolescência e o início da vida adulta são fases em que as pessoas estão formando sua identidade. Por conta isso, desejamos fazer parte de um grupo, de uma “tribo”, que nos aceite e nos faça reconhecer aquilo que achamos que somos. É o tempo de descobrir quem se é, o que se acredita e o que se quer construir para o futuro.
No entanto é também um tempo em que a pressão do grupo, o medo de ser diferente e o desejo de aceitação social são intensos. Diante disso, escolher viver com base em princípios éticos pode parecer ingênuo ou “fora de moda”, principalmente quando a tônica que se busca hoje é a da rebeldia, da contravenção dos costumes. É justamente nesse cenário que a verdadeira coragem se revela.
Dito isso, o que é preciso para ter coragem? Antes de tudo, saber o que essa palavra significa. Sua etimologia vem do latim “coris”, que significa agir com o coração. Em síntese, nada mais é do que saber seus valores e não abrir mão deles, seguir firme na sua conduta, por mais que o mundo queira lhe impor novas verdades.

A coragem está associada a ser quem você realmente deseja, vivendo de maneira que reflita os seus valores mais profundos, geralmente ligados ao bem, à bondade e à justiça. Nesse sentido, ser certo é não abrir mão do que tem valor, mesmo num mundo que banaliza o errado, não é um sinal de fraqueza ou rigidez, é um gesto de liberdade. É escolher ser quem você é, e não apenas quem o mundo quer que você seja.
O que significa ser “certo” em um mundo “errado”?
Teoricamente, viver essa perspectiva é simples, porém, na vida prática vemos que a pressão social nos impõe limites. Assim, devemos entender que buscar o certo em nossa conduta não significa ser perfeito. Ser certo é agir com consciência, buscando o bem, mesmo quando ninguém está olhando. É escolher a verdade, ainda que mentir pareça mais fácil. É respeitar o outro, mesmo quando o ambiente valoriza o egoísmo. É ter princípios, mesmo quando tudo ao redor estimula a ausência deles.
O “mundo errado” aqui não significa que o planeta inteiro esteja corrompido, mas que vivemos em uma sociedade onde muitas vezes se valoriza mais o “ter” do que o “ser”, o sucesso do que a honestidade, a aparência do que o caráter. Um mundo em que o número de curtidas vale mais do que a qualidade de uma atitude.
Desse modo, de que vale viver essas aparências quando, no fundo, traímos a nós mesmos? Certamente não é uma boa opção, apesar de tentarmos cada vez mais nos adequar aos costumes que a sociedade nos apresenta. Ainda assim, o “mundo errado” não é uma desculpa para agir mal. É um convite à resistência. Ser certo, nesse contexto, é nadar contra a corrente e isso exige força interior.
Certo e errado não são relativos
Frente a isso, precisamos acabar com uma ideia perniciosa no mundo atual: a de que certo e errado são aspectos relativos. Vivemos em um mundo que tem por tônica o relativismo; porém, é nítido que, se levarmos esse aspecto ao extremo, vamos cair em uma das armadilhas mais complexas para uma vida em sociedade: a de que “cada um tem a sua verdade”. Essa frase soa bonita, mas esconde um pensamento incorreto.
Evidentemente, cada pessoa tem sua opinião, mas a verdade moral não é relativa, muito menos está subjugada à vontade de cada indivíduo. Há coisas que não são relativas. As leis da natureza, concordemos ou não, não são relativas. Do mesmo modo, o certo não se torna errado só porque alguém não gosta dele, e o errado não se torna certo só porque muita gente o pratica. Por exemplo: trair a confiança de um amigo é errado, mesmo que “todo mundo faça isso”. Espalhar mentiras, praticar bullying ou humilhar alguém por diversão são atitudes erradas, mesmo que isso gere risadas no grupo. A moral não depende da moda do momento, nem da aprovação dos outros.
A moral é como a gravidade: você pode até ignorá-la, mas não pode escapar de suas consequências. Essa ideia é defendida há séculos pelos grandes filósofos. Sócrates, por exemplo, dizia que é melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la, porque quem comete o mal prejudica a si mesmo e corrompe sua alma. Aristóteles afirmava que o bem está na virtude, que é o equilíbrio consciente entre os extremos. E Kant, séculos depois, ensinou que devemos agir de modo que a nossa ação possa se tornar uma lei universal. Ou seja: antes de fazer algo, devemos nos perguntar se gostaríamos que todo mundo agisse da mesma forma.

Todos esses pensadores não viveram em um mundo perfeito, mas compreenderam uma verdade que atravessa o tempo: o certo e o errado são universais e você pode reconhecê-los através de suas ações. Eles podem se manifestar de formas diferentes em cada cultura, mas sua essência é a mesma e nasce da dignidade humana. Quando realmente somos dignos de carregar o nome de “humano” em nossa conduta, estamos praticando o que é próprio de nossa natureza, o que nos torna únicos em todo o mundo.
Coloquemos essas ideias em exemplos: Imagine um adolescente na escola, vendo um grupo de amigos colar na prova. Ele sabe que é errado, mas sente a pressão: “Se eu não colar, vou tirar nota baixa.” A tentação de evitar a dor da nota baixa é sedutora, além disso, o fato de todos estarem cometendo esse erro nos faz pensar que podemos também realizá-lo, afinal, “se todos estão fazendo, não deve ser tão errado”.
Porém o que está em jogo ali não é apenas uma nota, é o caráter. A cada escolha, pequena ou grande, moldamos quem estamos nos tornando. Ceder ao erro para ser aceito ou evitar uma dor é o mesmo que dizer ao mundo: “Prefiro ser igual a todos do que ser fiel a mim mesmo.”
O problema é que “todo mundo faz” virou justificativa para quase tudo: mentir, trair, desrespeitar, enganar. E, com o tempo, esse comportamento cria uma sociedade onde ninguém confia em ninguém, e o que importa é “se dar bem”, não ser justo. Sócrates, que foi condenado à morte por não abrir mão de sua verdade, dizia que “a vida sem exame não vale a pena ser vivida”, ou seja, uma vida em que não estamos refletindo e percebendo nossos erros e acertos, no que precisamos corrigir e avançar, não faria sentido.
E, de fato, quando pensamos sobre o assunto, quando deixamos de lado os critérios do que é ser bom ou ruim, acabamos à mercê do senso comum, do pensamento da maioria que, via de regra, tende a não ser o ideal.
Ser certo é, antes de tudo, ter uma consciência limpa. É poder deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo, sabendo que não traiu seus valores. Isso parece simples, mas é uma das conquistas mais difíceis na vida. Kant, o filósofo prussiano, dizia que a consciência moral é uma espécie de tribunal interior. Ela julga nossas ações, mesmo quando ninguém mais vê. Podemos enganar o mundo, mas jamais poderemos enganar a nós mesmos. A consciência é o que nos faz sentir arrependimento, vergonha ou orgulho. É ela que nos empurra para a verdade. Por isso, ignorar a voz interior que nos chama ao bem é se afastar da própria humanidade.
A filosofia prova que sabemos o que é o certo
Caso ainda não aceitemos que não há um relativismo profundo entre o certo e o errado, vamos refletir com base em algumas perspectivas filosóficas, principalmente com as ideias de Aristóteles e Kant. Comecemos pelo filósofo macedônio Aristóteles, que se debruçou sobre a felicidade. A famosa “eudaimonia”, como tanto se falava no grego antigo, era o resultado de viver de acordo com a virtude. A virtude, para ele, não é um dom, mas um hábito. Você se torna justo praticando a justiça; se torna corajoso, praticando a coragem.
Para os jovens, isso significa que ser certo não é algo que “acontece” de um dia para o outro. É algo que se constrói, pouco a pouco, através das escolhas. Cada vez que você diz “não” ao que sabe ser errado, está fortalecendo sua virtude. Assim, alcançar uma vida moral não é apenas definir seus valores, mas principalmente ser capaz de plasmá-los no mundo através de sua vontade e ação.
Se nos debruçarmos sobre as ideias de Immanuel Kant, perceberemos que ele acreditava que o que torna uma ação boa não é o resultado que ela gera, mas a intenção com que é feita. Para Kant, fazer o certo só porque dá lucro ou porque alguém está olhando não tem valor moral, pois suas intenções não estavam visando o bem comum. O verdadeiro bem é feito por dever, não por conveniência.
E como saber quando estamos realmente agindo bem? Para isso, Kant desenvolveu um conceito chamado “Imperativo categórico”. Ele é simples: antes de agir, pergunte-se: “E se todo mundo fizesse isso?” Se a resposta for “o mundo seria pior”, então essa ação é errada. Essa ideia ajuda a perceber que o certo é universal. Se algo não pode ser feito por todos sem gerar prejuízo ao mundo, então não deveria ser feito.
Por exemplo, se todos mentissem, a confiança deixaria de existir. Se todos trapaceassem, a justiça seria impossível. Por isso, o bem precisa ser vivido individualmente, mas com consciência do impacto coletivo.
A contracultura do bem
Visto tudo isso, fica claro que há uma necessidade de ação em prol da bondade. Não basta não ser uma pessoa má, é preciso ser conscientemente bondoso. Hoje, ser bom é o novo ato revolucionário. Quando o sarcasmo e o cinismo dominam, acreditar no bem é uma forma de resistência. Entretanto, devemos lembrar que ser certo em um mundo errado não é seguir regras cegamente, mas ser capaz de escolher, com consciência e liberdade, aquilo que eleva a alma. É ser uma luz onde todos preferem a escuridão.

E a juventude tem esse poder: de questionar, de reconstruir, de não aceitar o que está errado como algo normal. “Ser certo em um mundo errado é um ato de coragem.” Essa frase é mais do que uma reflexão: é um chamado. Um chamado à consciência, à lucidez e ao amor. Quando você escolhe o bem, você se torna uma semente de esperança em meio ao caos. Você mostra que ainda é possível ser verdadeiro, justo e humano em um tempo de aparências.
O mundo precisa desesperadamente de pessoas que escolham o certo, não por medo das consequências, mas por convicção. E quando um jovem toma essa decisão, ele se torna o tipo de pessoa que muda o destino do mundo, não por força, mas por exemplo.




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