Série “A Revolução Francesa”: A queda da Bastilha

Chegamos ao terceiro texto da nossa série “A Revolução Francesa”! Para os aficionados em história e aos que querem entender um pouco mais sobre esse evento que mudou o curso do Ocidente, a nossa série tem por objetivo informar e refletir sobre como mudanças sociais tão bruscas são capazes de ocorrer e como, nem sempre, elas podem ser a melhor opção.

Feedobem Revolucao Francesa

É evidente que um fato tão relevante em nossa História não pode ser visto sob uma só ótica e não há como abarcar todos os mínimos detalhes dos dez anos revolucionários que ocorreram na França. Contudo, ainda é possível extrair valiosas lições a partir de um apanhado geral sobre a Revolução Francesa e trazer elementos para a nossa vida cotidiana, afinal, as revoluções internas existem e ocorrem dentro de cada um de nós. É preciso, portanto, saber discernir como fazê-las da melhor maneira; e ao aprender sobre história, podemos perceber as consequências que tais ações podem resultar.

Contudo, se você ainda não conhece a nossa série, recomendamos fortemente a leitura do nosso texto de introdução, lá você encontrará reflexões pertinentes que guiarão nossa percepção acerca da Revolução Francesa e sua importância dentro do mundo ocidental.

Dito isso, chegou a hora de mergulharmos em um dos eventos mais icônicos da revolução, que ainda hoje é celebrado pelos franceses como um grande marco na vitória sobre o Absolutismo e na queda do Antigo Regime. Estamos falando da tomada da Bastilha, um símbolo da revolução francesa!

O que era a Bastilha e qual é sua importância?

Paris é uma cidade medieval. Não, não estamos falando da moderna cidade das luzes que conhecemos hoje, mas sim da Paris do século XVIII, com suas fortalezas e muralhas seculares. Para entender o quão poderosa era a Bastilha e o quão significativa a sua tomada foi, é necessário embarcarmos em uma viagem pelos séculos passados e retornarmos até meados dos anos 1400. Encontraremos, fatidicamente, uma França tomada pela crise e disputa contra sua rival, a Inglaterra, na sangrenta guerra dos Cem Anos. 

A Bastilha, antes da Revolução Francesa.
A Bastilha, antes da Revolução Francesa.

As perdas francesas eram inúmeras até que uma camponesa chamada Joana D’Arc conseguiu reverter a situação do exército francês, restabelecendo sua moral e identidade nacional. Assim, o século sangrento foi chegando ao fim, e a França voltava a ser uma grande nação, saindo ideologicamente mais poderosa do que no começo do confronto. É nesse contexto em que a Bastilha, uma das principais fortificações de Paris, é construída. Pensada para ser um refúgio contra invasores, o castelo se tornou essencial na defesa da cidade nesse período.

Entretanto, 300 anos após sua construção, em um período de relativa paz e sem ameaças sérias de invasões, a Bastilha acabou se tornando uma prisão. Nela, assim como em todas as prisões no mundo, estavam aqueles que iam de encontro com a justiça e cometiam crimes. Lembremos, porém, que nesse período a figura do rei representava todos os poderes do Estado, logo, também era ele o detentor da justiça. Assim, em uma sociedade em que uma pessoa tem tamanho poder, aqueles que não concordavam com suas ideias e projetos também estavam, a rigor, indo de encontro com a justiça e poderiam ser prisioneiros. 

Nesse sentido, a Bastilha era muito mais que uma prisão, pois lá estavam todos aqueles que não concordavam abertamente com a forma que Luís XVI regia a França. O cárcere era, portanto, uma assinatura de rebeldia, muitas vezes passível da pena de morte. Por outro lado, para os defensores do Absolutismo, a Bastilha era o símbolo da autoridade real, mostrando o que acontece com todos que vão de encontro ao direito divino do rei.

A Bastilha, antes da Revolução Francesa.
A Bastilha, antes da Revolução Francesa.

Como símbolo, ao cair a Bastilha fica claro que a autoridade real já não existe e que a França viveria mudanças, tempos vindouros estavam vindo. Não sejamos, entretanto, tão românticos assim. A estratégia de tomar a Bastilha não tinha apenas um ideal simbólico, mas também uma lógica de guerrilha e de revolucão. Para isso, devemos entender que, do ponto de vista social, a grande parte das revoluções – para serem de fato chamadas assim – precisava usar da violência para chegar ao poder.

A Revolução Francesa não foi uma exceção. Para derrubar um governo é preciso de força, não apenas de pessoas. Pessoas desarmadas seriam tão frágeis que facilmente poderiam ser dispersadas frente aos tiros de canhão e golpes de baioneta. Um exemplo claro disso foi o domingo sangrento ocorrido na Rússia Czarista. Esse lamentável episódio da humanidade ceifou a vida de 20 mil pessoas que protestavam sob o desastroso governo de Nicolau II.

Essa, entretanto, é uma outra história. Voltemos para a Bastilha. Por ser uma prisão, era natural que nela existisse armamento, munição e pólvora. Ao mesmo tempo, relata-se que poucos guardas existiam para proteger o forte, visto que a população, em condições normais, não ousaria invadir o local. Assim, essa brecha na segurança do próprio forte permitiu que o dia 14 de julho de 1789 entrasse para a história com a queda da Bastilha.

A queda da Bastilha

Chegamos, então, ao dia 14 de julho de 1789, na França. Na manhã daquele dia, uma multidão cercou a fortaleza, exigindo a entrega das armas e da pólvora. Vale lembrar que um mês antes, como vimos no texto anterior, o Terceiro Estado, composto pela grande massa da população, assumiu um caráter revolucionário ao desistir dos Estados Gerais e convocar a Assembleia Nacional. 

Gravura mostrando a Toma da Bastilha e a detenção do diretor Marquês de Launay
Gravura mostrando a Toma da Bastilha e a detenção do diretor Marquês de Launay

Esse ato político precisava agora de força para fazer-se valer. Frente a esse problema, o governador da Bastilha, Bernard-René de Launay, tentou negociar com a multidão, mas a tensão escalou rapidamente. Os revolucionários não desejavam mais conversar, o período de negociar de maneira pacífica havia ficado para trás. Naquela manhã, os revolucionários invadiram a Bastilha, e a fortaleza se tornou um cenário de guerra: de um lado os poucos soldados, armados, tentavam controlar a multidão, mas foram desarmados e controlados. Os prisioneiros foram libertos, assumindo assim a causa dos revolucionários e, após horas de confronto, Launay foi capturado e  executado pela multidão.

Pela primeira vez, o absolutismo francês era derrotado. A Bastilha caiu e com ele a autoridade real. Se o ato de criação da Assembleia Nacional era uma afronta a forma de fazer política de Luís XVI, a queda da Bastilha foi o estopim de uma guerra civil, um confronto aberto contra o governo e que mostrava que toda Paris estava pronta. Aos poucos, o ideal revolucionário se espalhou para outras cidades, para o campo, e assim começava uma verdadeira marcha contra a monarquia francesa.

O evento da tomada da Bastilha, mesmo sendo visto como um ato pernicioso e violento, é celebrado ainda hoje na França como uma conquista nacional. De fato, do ponto de vista sociológico, foi um evento que fez renascer o sentimento de nacionalidade, de um coletivo unido por uma causa comum. Porém, as medidas extremas e violentas que marcaram a queda da Bastilha foram apenas o prelúdio do que se poderia esperar dos revolucionários. Eram tempos de guerra, e a paz já não existia no coração dos franceses.

Comemoracao do dia da Queda Da Bastilha
Força aérea da França participa da tradicional parada militar que comemora a Queda da Bastilha, — Foto: Gonzalo Fuentes/ Reuters

Se refletirmos sobre esses fatos, podemos entender que situações extremas, como a fome e a crise econômica vivida na França, levaram a população para ações igualmente extremas. Isso é um fato. Porém, cabe a nós pensar sobre o perigo de deixarmos, do ponto de vista individual, essas emoções negativas nos conduzirem. É extremamente comum ficarmos “cegos” em momentos de dificuldade, e nosso instinto de sobrevivência necessita da violência como mecanismo de autodefesa, mas o que ocorreu na tomada da Bastilha – e que também ocorre conosco em alguns momentos – foi o desejo de vingança canalizado em ações brutais, que não condizem com nossos princípios.

No âmago dessa discussão, cabe-nos refletir como a força do coletivo se impõe aos valores individuais, afinal, é razoável considerar que nem todos que participaram desse evento brutal desejavam, de fato, a carnificina. Entretanto, foram partícipes desses atos chocantes. Isso ocorre, em grande parte, devido ao efeito manada, que nos leva a seguir o pensamento da maioria, das multidões, mesmo que em nossa mente saibamos que estamos cometendo um erro. Essa convulsão social, quando não é racionalizada, leva-nos a atos impensáveis e que vão de encontro com a nossa natureza humana.

Por fim, é isso que queremos extrair desse momento histórico: reflexões para a nossa vida cotidiana. A história não serve ao passado, aos que já estão fadados às areias do tempo, mas aos vivos, aos que estão caminhando sobre a Terra e que podem, dentro das suas possibilidades, aprender e não repetir os mesmos erros que outrora existiram. Assim, que possamos refletir cada vez mais sobre os eventos do passado e extrair poderosas lições para a nossa vida.

Nossa saga na Revolução Francesa continua! Aguardamos todos no próximo texto!

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