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A inquietude da mente

A mente humana é uma das forças mais poderosas do Universo. Já percebeu que quando colocamos uma ideia em nossa cabeça é quase impossível mudar nossa opinião? Ou quando estamos convictos de algo, parece que não há nada que possa nos dissuadir de realizar o que desejamos. Não é por acaso que hoje, um dos grandes campos da ciência é a psicologia que busca desvendar um pouco dos mistérios da nossa mente e emoções.

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Porém, esse fascínio pela mente não começou nos últimos séculos. Na verdade, todas as antigas tradições humanas já falavam sobre o poder e os perigos que essa ferramenta pode nos trazer. Se nos remetermos à doutrina Tibetana, por exemplo, encontramos pérolas de sabedoria preciosas a respeito da nossa mente. Uma delas é de que “a mente é a destruidora do real.” Essa enigmática frase, em síntese, nos mostra a ideia de que muitas vezes nossa mente irá moldar uma realidade que não é, de fato, verdadeira. Basta pensarmos nas vezes em que ficamos desconfiados de algo, seja uma situação comum ou de que algo específico está prestes a acontecer. Do momento em que nos fixamos nessa percepção, parece que nossa mente passa a analisar tudo que nos ocorre a partir deste evento.

Colocando em exemplos, imaginemos que um grande amigo chega até nós e diz que precisa muito conversar conosco, mas que essa conversa não poderá ser agora. O que nos acontece? Passamos a pensar sobre os possíveis tópicos daquela conversa, se há algum problema a ser resolvido, se ele está bem ou não etc. Desse modo, somos levados para uma outra realidade que só existe em nossa mente, gerando diferentes possibilidades.

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Agora sejamos sinceros: quantas vezes por dia vivemos problemas, situações e até mesmo brigamos em nossa mente?  Quem de nós nunca ficou angustiado com uma dúvida ou passou dias pensando sobre a melhor maneira de conversar sobre um assunto desconfortável? Ou ainda, quem não se pegou pensando com situações que nada correspondiam com a realidade? Essas diferentes situações, que às vezes beiram o absurdo, são vividas cotidianamente em nossos pensamentos. 

De acordo com a sabedoria egípcia, o Universo é mental, ou seja, aquilo que pensamos se torna, mais uma vez, a nossa realidade. E, de fato, se colocarmos esse ensinamento de maneira objetiva, chegaremos à conclusão que tudo que fazemos é fruto de um pensamento. Basta refletirmos como vivemos nosso cotidiano: pensamos nas atividades que iremos executar naquele dia, no que vamos comer, os compromissos que iremos assumir. Antes de viver qualquer um desses itens,  decidimos em nossa mente, definimos o melhor meio para realizar tais tarefas e, por fim, o executamos. Assim, nossa vida objetiva é, em síntese, apenas uma sombra da nossa vida subjetiva.

Dito isso, é fundamental entendermos o valor de cuidarmos dessa vida subjetiva que ocorre em nossa mente. Não por acaso, o famoso ditado “mente vazia é oficina do diabo” é preciso quando nos mostra que se deixarmos nossos pensamentos vagarem sem uma direção, se não a disciplinamos com atividades, responsabilidades e outras demandas, acabaremos levados por devaneios e suposições, roubando-nos assim uma imensa quantidade de energia e tempo. 

Eis aqui o grande problema da nossa mente: ela nunca para. Simplesmente porque não conseguimos fazer com que ela “pare”. A todo momento, somos levados por desejos, reflexões e ideias. Há, portanto, um meio de aquietar esse incansável sistema mental? Para responder a essa questão, iremos nos apoiar na filosofia, que, através da razão, busca conhecer os mistérios do mundo e do Ser Humano. 

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Vejamos, portanto, o que a doutrina Tibetana tem a nos dizer acerca da mente. Como vimos, ela é a “destruidora do real”, pois seu mau uso nos faz cair em ilusões. Assim, é preciso controlar tais impulsos, percebendo que, muitas vezes, nossos pensamentos serão influenciados por nossas emoções, sensações e sentimentos.

Pensemos em um exemplo simples de como isso ocorre: lembremos de uma pessoa que não gostamos muito. Qual ideia vem a nossa mente quando pensamos nela? Provavelmente, sentimos alguma emoção ruim como raiva, rancor ou tristeza. É possível que sempre que encontramos essa pessoa ou ouvimos falar sobre ela, seja positivamente ou negativamente, acabamos recordando dessa mesma sensação. Assim, nosso pensamento acerca desse indivíduo está condicionado pelas emoções e nos impede, definitivamente, de termos uma imagem objetiva dessa pessoa. 

Se expandirmos esse exemplo para outras situações, como locais que frequentamos, vivências cotidianas ou até mesmo traumas que carregamos, percebermos que nossa mente está sempre condicionada por algo e que isso, em grande medida, nos impede de enxergar as coisas como são. Por isso que o primeiro passo para conseguir buscar essa quietude da mente seria uma correta visão acerca do mundo que nos rodeia, sem deixar que ela seja definida por uma emoção, seja ela boa ou ruim.

É evidente que não podemos tirar as emoções por completo dessa equação. Há coisas que nos agradam e outras que não nos agradam. Há pessoas que gostamos de estar junto e outras que não. Entretanto, o gosto pessoal não pode burlar a visão objetiva acerca do que estamos tentando enxergar. No fim, é importante que vejamos o mundo tal qual ele é, sem preferências ou exclusões. Essa, definitivamente, não é uma tarefa fácil. Nós sabemos que é preciso um esforço diário para conseguir não ser “pego” por essas influências. Neste sentido, diversas doutrinas orientais, como a Budista, nos falam que um dos caminhos para a sabedoria é o “reto pensamento”, ou seja, ter ideias claras. Quando conseguimos acalmar nossa mente, ela, de maneira natural, nos faz enxergar aquilo que necessitamos. 

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Porém, esse não é um caminho simples e muito menos sem pedras a ser trilhado. Isso porque a nossa mente tem diversas camadas, como nos ensina a psicologia. Grandes estudiosos dessa faculdade humana como Jung se debruçaram não apenas sobre o que pensamos de forma consciente, mas também tudo que habita em nossos aspectos mais profundos, como o subconsciente e até mesmo aquilo que ainda não sabemos, mas que nos conduz, o inconsciente.

Essas três camadas funcionam como níveis, classificadas a partir do que podemos controlar e até aquilo que nos foge do controle por não sequer sabermos que existe. Os sonhos, por exemplo, são um reflexo deste mundo mental que não controlamos, por isso não conseguimos compreender muito bem as ideias que vivemos nesse outro estado de consciência e, normalmente, achamos esses momentos “estranhos”. Apesar de não parecer ter nenhum nexo, os sonhos são, objetivamente, reflexo de aspectos dos nossos pensamentos, emoções e desejos que não conseguimos lidar de maneira objetiva.

Portanto, devemos compreender que nossa mente guarda segredos que não possuímos as chaves para desvendar. Ainda assim, à medida que expandimos nossa consciência e aprendemos a conduzir melhor nossos pensamentos, temos a oportunidade de trazer à superfície elementos que outrora estavam escondidos em nosso subconsciente. Essa dinâmica, ao longo do tempo, faz com que possamos nos conhecer melhor e controlar essa indomável força que nos define.

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Um excelente exercício que podemos fazer para aquietar a mente envolve a concentração e o foco, já que a tendência natural de nossa psique é a dispersão. Por isso, devemos ensiná-la, cada vez mais, a realizar as tarefas de modo integral, estando sempre presente naquilo que realizamos. Um dos métodos mais conhecidos, geralmente utilizado por estudantes em suas jornadas exaustivas de aprendizado, é o Pomodoro. Esse método nos ensina a disciplinar a mente e a focar em nosso trabalho, através do ritmo e contra-ritmo. 

Primeiramente, devemos colocar um timer de 25 minutos e começar as nossas tarefas. Durante esse tempo, devemos estar totalmente concentrados no que devemos fazer, sem distrações. Isso envolve estar longe das redes sociais, do e-mail e qualquer outro elemento que possa nos causar distração. Após esse tempo, coloca-se um novo timer, desta vez de 5 minutos, para descanso. Deve-se repetir esse exercício várias vezes e, com o passar do tempo, aumentar o timer de foco para evoluir nossa capacidade de concentração.

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É evidente que a técnica Pomodoro funciona não somente para estudos, mas qualquer tarefa que necessite de concentração. Como um exercício mental, ele também é válido para percebermos a dificuldade que temos em manter nossa mente disciplinada, sem fugas ou com visões distorcidas. Os benefícios são, como podemos perceber, evidentes, pois conseguimos aumentar nossas habilidades mentais, além de termos a chance de perceber diversos aspectos de nós mesmos, como os tipos de pensamentos ou situações que me levam a perder o foco, ou mesmo o quanto de controle possuímos sobre essa faculdade.

Por fim, lembremos da filosofia: a mente é a nossa principal arma. Ela, através da razão, levou o Ser Humano a explorar Marte, a conhecer o mundo invisível dos microrganismos e a desvendar os mistérios do Cosmos. Porém, talvez ela seja, em suma, o maior de todos os mistérios que nos ronda. Busquemos, então, explorar nossos enigmas para, enfim, dominá-las.

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