Uma antiga ideia viaja com a Humanidade através dos tempos. Seu nascimento entre os Seres Humanos perdeu-se com as voltas que demos ao redor do Sol. Mas, em qualquer tempo, em qualquer lugar, sempre se levantam vozes nos ensinando: somos todos um só!
Na África, existe o ubuntu: eu sou, porque nós somos. Uma ideia verdadeiramente incrível e que nos lembra que não estamos sozinhos nesse mundo! Que nossa aventura é estarmos juntos e construirmos Unidade, Harmonia e Felicidade. No Oriente, Buda nos lembrou que a ideia de um “eu” separado, de um ego pessoal, distante dos demais, é a raiz de nossos sofrimentos e uma prisão criada pela nossa mente dual. Quando nascemos entre os índios Sioux, aprendemos que a Generosidade é uma das Virtudes mais importantes, porque nos une a todos na comunidade. Jesus Cristo veio para “os seus, mas os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus …” (Jo 1-11 e 12). Se continuarmos com as citações, encontraremos essa ideia se plasmando lentamente ao longo do tempo, como se a Humanidade a cultivasse sempre.
É provável que no começo da nossa caminhada neste planeta, nós tenhamos experimentado alguma forma de Unidade. Basta ver como viviam as comunidades primitivas, ou observar o que pensam os povos tradicionais até hoje. Era uma época em que ainda havia alguma magia no ar. Vivíamos em tribos bem menores do que as cidades de hoje, e funcionávamos como se fôssemos um único Ser. Haviam os protetores que com garras e presas dedicavam-se a zelar pela segurança. Haviam também os fortes que ajudavam a carregar o peso, como uma coluna poderosa. Haviam ainda os que como uma cauda graciosa, contribuíam para o equilíbrio. E, sempre houve, por fim, aqueles que como um grande coração, ansiavam por manter o organismo vivo e unido.
Opa… sem querer, acabamos de descrever Kumandra. Uma terra com formato de dragão, que vivia em Harmonia. Isso porque contava com dragões mágicos, que lhe trouxeram água, chuva e tudo o que seus habitantes precisavam para viverem juntos. Mas, depois da infestação de uma praga misteriosa, os Drums, a nação conheceu um lado Humano pouco iluminado. Os Drums retiram as Almas das pessoas, as transformando em pedras. Os dragões deram tudo o que tinham contra esse inimigo poderoso e como último e derradeiro esforço uniram suas magias para criarem a jóia do Dragão. Com ela, derrotaram todos os Drums, mas foram transformados em pedras na batalha. Com exceção de Sisu, a caçula que desapareceu misteriosamente após a expulsão dos Drums. Após o sumiço da magia, deixados à mercê de suas próprias decisões, os Homens fizeram o que sabiam de pior: guerra, desconfiança, separação e lutas pelo poder. A jóia foi entregue a região de Coração que mantém vivo o sonho de uma Kumandra unida! O chefe de Coração, decide fazer uma tentativa de unir o povo mais uma vez, convidando todos para um encontro. Mas, a desconfiança ainda reina, porque todas as tribos querem a jóia, acreditando que ela fornece poderes mágicos que explicam porque Coração é a região mais próspera. Sua filha Raya, uma menina esperta e uma guerreira audaz com um bichinho de estimação fofo, trata de quebrar esse clima, iniciando uma amizade com Namaari, princesa do reino arqui-inimigo de Presa. Tudo ia bem, até que o desejo de proteger o seu povo faz com que Namaari traia a confiança de Raya e tente roubar a jóia. A disputa envolve todos os povos e termina com a quebra do amuleto e a volta dos Drums… Raya, então inicia uma vida de aventuras, buscando encontrar Sisu, restaurar a jóia e derrotar os vilões.
Kumandra é a terra descrita no maravilhoso filme em animação da Disney: “Raya e o último dragão”. Cheia de lições sobre como a Confiança e a Unidade são as respostas necessárias para os problemas da Vida. Brigamos, criamos fronteiras, roubamos, mentimos, traímos porque não confiamos na Bondade Humana. É isso que divide Kumandra. Não temos fé na capacidade humana de redimir-se de seus erros, de lembrar que somos uma única raça, um único povo, um único Ser. A maior praga, aquela que arrasa a Terra, que obriga os Seres Humanos a viverem em condições de penúria e miséria, vem dessa falta de memória, dessa falta de confiança no Ser Humano. Ou melhor, no Coração Humano. Naquele pedaço da nossa Alma que sente a necessidade de Fraternidade, de Virtude, de Amor. Todos os grandes homens e mulheres que passaram por aqui, mudaram a história por acreditar nisso. Gandhi libertou toda uma nação, acreditando que em nosso coração há Piedade e Generosidade.
“Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.”
Mandela quando saiu da prisão e se elegeu presidente, buscou o Amor nos corações sul-africanos para construir uma Nação. Anos depois ele diria que sua luta fora inspirada pelas ações não-violentas de Gandhi.
“As pessoas são ensinadas a odiar e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, porque o amor é algo mais natural para o coração humano do que seu oposto.”
Um mês depois da prisão de Mandela, condenado à pena perpétua, os EUA promulgaram a Lei dos Direitos Civis, acabando com a segregação social e coroando a luta de Martin Luther King, um pastor norte-americano que se inspirou adivinhe em quem: Gandhi!
Você consegue perceber o padrão? Se tentássemos unir todas essas pessoas pelas semelhanças físicas, pelos seus gostos, pelos seus projetos de vida, falharíamos terrivelmente. Somente o Amor de seus Corações é forte o suficiente para vencer as barreiras do tempo e do espaço. Somente pelo Coração, eles poderiam se Unir. Raya, os amigos que ela encontra ao longo de sua jornada e a própria Namaari, vão ter que descobrir isso, se querem salvar sua terra do perigo dos Drums. Por que não seguimos essa trilha? Por que não fazemos um esforço para confiar em nossa vocação para a Bondade? Para ver que características físicas, emocionais e mentais não podem nos unir?
Como Gandhi e Raya aprenderam, alguém precisa dar o primeiro passo. E como eles nos ensinaram, quando alguém dá esse passo com toda a sinceridade de seu próprio Coração, as consequências podem alcançar todo um planeta. Sonhamos com uma Kumandra em nossa Humanidade, sonhamos com a volta da magia… Ela pode até não vir na forma de um dragão, mas que venha como uma força inspiradora, como um lembrete de Esperança, Fé e Amor. Sabemos que lutar nesse campo pode ser cansativo… Nesses momentos, vamos nos unir ao Coração de Gandhi. Porque só o Coração pode nos unir.
“Quando me desespero, lembro-me de que em toda a História a verdade e o amor sempre venceram.” Gandhi.