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Quem precisa de Religião?

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Dizem que em assunto de religião, política e futebol cada um tem a sua crença e não adianta discutir, porque sempre acaba em confusão. A Religião então, é um tema que por vezes esteve à frente de vários conflitos históricos ao longo de nossa humanidade, vista por alguns como um elemento de dominação e manipulação política, e por outros como um elemento integrador da sociedade, que pode unir a todos os indivíduos em torno de um sentimento de fraternidade. Mas, pouco se fala ou quase nunca se reflete sobre quais as interferências da religião na vida do indivíduo, como isso afeta o sujeito que tem suas particularidades e subjetividades que estão para além de uma necessidade material e social

Embora existam vários conceitos sobre religião e cada um traga em si um reflexo de seu contexto histórico, todos vão apontar para a religião como uma relação entre o indivíduo e uma dimensão transcendental que se encontra acima desse indivíduo. Através dessa relação se constrói um conjunto de princípios e práticas morais que vão nortear o cotidiano dos praticantes. Como cada indivíduo é diferente, cada um vai captar e expressar essa “mensagem” à sua maneira. O mais importante de perceber é que, geralmente, a busca por essa relação transcendente está muito ligada a uma busca de virtudes, uma busca de viver determinadas ideias que tragam sentido para a vida, sentido este que esteja além da necessidade da sobrevivência.

No mundo clássico grego, por exemplo, essa dimensão religiosa se expressou através da busca pelas virtudes da justiça, temperança, coragem e prudência, tais virtudes revelam a lógica do pensamento grego. Esta conduta esperada pelos deuses deveria ser a base moral do indivíduo e da sociedade… Sri Ram, um dos pensadores indianos mais importantes do séc. XX, também concordava com essa visão do mundo grego. Ele entendia que nos aproximamos da Divindade ao adquirir virtudes através do uso da razão, pois este é o caminho de evolução do Ser Humano. Já a influência do Cristianismo em todo o ocidente traz consigo a busca por outras virtudes, como a humildade, a caridade, o amor e a fé, que são buscas não muito ligadas ao campo racional, mas eram vistas como caminhos mais próximos ao coração de Deus. Já no oriente, para uma das versões do budismo, um viver religioso deveria estar identificado com a verdadeira sabedoria, conhecida como auto sacrifício em detrimento de toda a humanidade. Assim, cada grupo humano vai experienciando e vivendo essa relação na conquista das virtudes a partir das suas necessidades e dos elementos culturais de seu povo.

Muito diferente das sociedades anteriores, a nossa sociedade atual é marcada pela negação de qualquer necessidade transcendente, pelo materialismo estéril a tudo o que não possa ser medido e analisado num laboratório. Se num passado vivíamos os dogmas impostos pela Igreja, que alegava ser aquela a “Vontade de Deus”, hoje em dia vivemos sobre a ditadura de outros dogmas, de verdades que não podem ser questionadas por serem “cientificamente comprovadas”, ou “reconhecidas academicamente”. Acontece que ideias absurdas, como a eugenia, já tiveram no passado a tal “comprovação científica”.

Como disse Nietzsche, a nossa sociedade “matou” a Deus, no sentido de que acreditamos ser possível viver sem transcendência, sem espiritualidade. Acreditamos que a vida se encerra somente no que a matéria nos oferece, e em função desta crença, construímos formas artísticas, científicas e políticas. Karl Marx, dizia que a religião era o “ópio do povo”, pois era usada somente para tirar o indivíduo da realidade, e transformá-lo num “escravo” do seu traficante, neste caso, do seu sacerdote. Não podemos dizer que a crítica de Marx é indevida, pois não são raros os casos de seitas religiosas que manipulam os fiéis, tratando a espiritualidade como um tipo de mercadoria. Porém, será que estes são exemplos genuínos de religiões, ou são deturpações? Será que a humanidade seria melhor se não existissem as religiões?

O ser humano não é somente um ser de carne e osso, existe um “algo a mais”, não importa como cada um chame isso, de alma, espírito, essência… O importante é entender que, além das necessidades do corpo, o Ser Humano também possui necessidades mais transcendentes. As verdadeiras expressões religiosas são aquelas que ajudam o Indivíduo a encontrar a sua plenitude neste campo imaterial. Elas não são o ópio do povo, mas sim o alimento da alma.

Nem deveria ser necessário pontuar exemplos para demonstrar que estes “dogmas” materialistas são falsos, pois em todo lugar que observamos, vemos famílias que “tem de tudo”, mas que são desestruturadas, vivem em crise e todos infelizes. O mesmo vale para países que conseguiram garantir o tal “bem estar social” da população, mas isto não impede que as pessoas vivam constantemente na angústia, desespero e depressão. “Nem só de pão vive o Homem”, parece ser uma frase antiga, porém muito certa.

Inúmeras pessoas que só conheceram o abuso e a violência, e por isso transmitiram essa mesma agressividade às outras pessoas, acabam na cadeia, onde a lógica do abuso e violência só é reforçada. Qual é a chance de um indivíduo desse mudar a sua mentalidade e a sua vida? Quase nenhuma. Mas, para o bem ou para o mal, as instituições que estão dentro das prisões são as igrejas, e, de alguma forma, conseguem transformar a vida de algumas pessoas. É até difícil de admitir, mas mesmo que algumas dessas igrejas estejam entre as mais corruptas, até mesmo essas, que são as piores formas religiosas, conseguem trazer um pouco de dignidade e esperança para uma “alma perdida”. Além disso, a religião serve também como uma ferramenta de formação moral. Imagina o grande ganho que é para a sociedade quando um indivíduo passa a entender a importância do “Não matarás” e do “Não roubarás”. 

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Pegando o outro extremo da sociedade, o das celebridades que tem muito dinheiro, fama e reconhecimento público, também são inúmeros os casos de pessoas com as vidas destruídas internamente. São os “sepulcros caiados”: muito bonitos e enfeitados por fora, mas dentro há um cadáver. Muitos são os artistas que apresentem uma imagem de poder e de sedução, mas por dentro vivem em angústia e desespero. Faça uma experiência: abra um desses sites que falam da vida dos famosos, anote os cinco primeiros nomes de celebridades que aparecem, agora veja quantas delas já não teve graves problemas com vícios, depressão ou mesmo com crimes. E onde é que muitos deles encontram algum tipo de alívio para o sofrimento? Na religião.

Nos anos 90, duas bandas de Rock faziam muito sucesso entre os jovens brasileiros: “Charlie Brown Jr” e “Raimundos”. Os vocalistas Chorão e Rodolfo, sempre foram muito amigos e, como era muito comum nesse meio, eles viviam a vida louca, cheia de mulheres, drogas e rock and roll. Mas um certo dia, Rodolfo se converte ao cristianismo, decide abandonar este meio, sai dos Raimundos e, claro, recebe crítica de muita gente. Afinal de contas, quando pensamos na vida de um rockstar e de um crente, qual delas é a mais desejada pelas pessoas? Chorão e Rodolfo continuaram amigos, mas cada um vivendo seu estilo de vida. Infelizmente, em 2013, a Banda Charlie Brown perdeu o seu vocalista, vítima de uma overdose de cocaína. Hoje, Rodolfo Abrantes segue a sua carreira como músico e pregador cristão, está casado há mais de 18 anos com Alexandra Horn, com quem tem um filho e desde que se converteu, deixou de ser usuário de drogas. No vídeo abaixo, Rodolfo comenta um pouco sobre o seu relacionamento com Chorão.

Por mais que existam críticas ao fanatismo e à hipocrisia de muitos religiosos, não podemos negar que a experiência religiosa é muito importante para muitas pessoas e para a sociedade de forma geral. Sem dúvida nenhuma, podemos dizer que a religião salvou a vida de Rodolfo, e por consequência, de sua família também… E quantos foram os jovens que rejeitaram a trilha autodestrutiva do vício, por influência dele?

Outro grande artista famoso que está passando por este processo é o rapper americano Kanye West, que decidiu lançar no final de 2019 um album totalmente gospel, mas muito carregado da sua identidade. O nome do albúm é “Jesus is King” (Jesus é Rei). Ele diz que existe uma cultura de negação à religião no mundo artístico. Numa das suas músicas ele diz:  “Dizem que eu posso fazer rap sobre tudo, menos sobre Jesus. Isso quer dizer: armas, sexo, mentiras, clipes, Mas se eu falo sobre Deus meu CD não vai tocar”

E quando falamos de religião, não é somente o cristianismo que tem esse valor. Na biografia de Malcolm X, grande militante dos direitos raciais nos EUA, vemos que ele se tornou uma pessoa muito mais equilibrada depois que passou a seguir o Islamismo. Porém, como era uma vertente racista, uma seita chamada “Nação do Islã” que pregava a supremacia negra e dizia que os brancos são demônios, ele tinha muita revolta dentro de si. Somente quando conheceu o islamismo na sua essência, quando viajou para Meca, para realizar a cerimônia tradicional de todo muçulmano, lá ele viu pessoas de todas as etnias e todas as classes orando para o mesmo Deus. Isso fez com que ele abandonasse a Nação do Islã para seguir o islamismo tradicional.

Este é um outro valioso ensinamento. As religiões são melhores, quando mais tradicionais e próximas das mensagens de seus fundadores. Geralmente, as “inovações” religiosas, são criadas por manipuladores que tem mais interesse em ganhos materiais egoístas do que em transmitir uma proposta espiritual. Claro que existem aquelas pessoas que não sentem necessidade de frequentar alguma instituição religiosa, e não há problema nenhum nisso. Muitos encontram na filosofia, na arte, na ciência e até mesmo na experiência política o caminho para esse algo transcendente que chamamos de “Deus”. Ou seja, de certa forma, também estão fazendo uma “religião”, já que estão se reconectando com algo mais profundo.

Cristão, budista, muçulmano, ateu… Cada um deve buscar a sua própria experiência, encontrar aquilo que mais faz sentido. O que não podemos fazer é desrespeitar a experiência do outro e ignorar que as verdadeiras religiões são fundamentais para muitos indivíduos, e para  a sociedade como um todo. Então, vamos buscar o nosso próprio caminho e praticar aquela máxima que aconselham “viver e deixar viver”!

 

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