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Quando a Honra Superou a Guerra

Durante a segunda guerra, um avião da aeronáutica americana pilotado por Charles “Charlie” Brown, que estava extremamente avariado e sem bússola após um duro combate, voando sem orientação, invadiu o espaço aéreo alemão.

Para abater o inimigo invasor, foi enviado um veterano da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), Franz Stigler. Franz era um excelente piloto e, para conseguir a condecoração “Cruz de Cavaleiro”, precisava abater apenas mais um avião.

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Charlie Brown e Franz Stigler

No céu, Franz viu dentro do cockpit da danificada aeronave inimiga uma tripulação ferida e sem condições de combater. Ele então se lembrou do que seu antigo comandante dizia “Vocês são pilotos de combate, sempre! Se eu souber que algum de vocês atirou em um inimigo de paraquedas, eu mesmo irei atirar em vocês.” Franz considerou que aqueles inimigos estavam de paraquedas, pois já estavam fora de combate. E, ao invés de derrubar a aeronave americana, Franz fez a sua escolta até fora do espaço aéreo alemão e, após garantida a segurança do inimigo, fez uma saudação e voltou para a base sem disparar nenhuma vez.

Anos após a guerra, Charlie Brown foi em busca desse misterioso piloto que havia poupado sua vida. Eles trocaram muitas cartas e se reencontraram frente a frente quarenta anos após o incidente. Segundo o relato de Charlie Brown, após um forte abraço que quase quebrou suas costelas, Franz olhou em seus olhos e disse: “I love you, Charlie!”

Os dois aviadores se tornaram grandes amigos. Na verdade, passaram a se considerar irmãos e conviveram por vários anos até 2008, quando ambos morreram com alguns meses de diferença.

Esta é uma história que demonstra perfeitamente o que realmente faz um guerreiro dos ares. Não é simplesmente uma máquina de matar, ou um indivíduo que perdeu o seu senso de humanidade. Muito pelo contrário, o piloto militar é uma pessoa que assumiu uma das mais difíceis funções dentro da sociedade, não porque deseja o combate, mas sim porque ama a vida.

Hoje em dia, existem muitas críticas ao meio militar, à formação marcial e à cultura guerreira. Isso é comum, principalmente dentro de uma mentalidade medíocre em que se pensa ser possível melhorar a sociedade simplesmente falando mal do que está estabelecido, sem jamais se comprometer com nenhuma atitude.

Acontece que a formação de um militar é, acima de tudo, uma formação moral. Um trecho do boletim “Força Aérea 100 Anos”, sintetiza bem esta ideia:

“Na alma do profissional militar, não deve prosperar a cobiça e o delírio de promover-se; nem a omissão, a covardia, a maledicência, sequer a inércia, o comodismo, e muito menos a ostentação, a vaidade ou a prepotência. A Força Aérea é forte pelas virtudes de desprendimento, solidariedade e idealismo dos seus homens e mulheres, que fizeram o juramento de bem-servir com eficiência e profissionalismo, na paz e na guerra, sempre fiéis às suas consciências.”

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Alguém pode ainda ficar chocado de estarmos falando de Stigler, um aviador alemão da segunda guerra, ou seja, alguém que lutou ao lado dos nazistas. Antes de tudo, é algo óbvio, mas importante lembrar que nem todo alemão era Hitler, ou concordava com a ideologia nazista, ou mesmo sabia das atrocidades dos campos de concentração. E para além disso, o que está sendo exaltado aqui é exatamente o contrário do que conhecemos em tempos de guerra: um senso de Humanidade.

Franz, tinha todos os motivos para derrubar o B-17 dos americanos. Seria fácil, ele receberia reconhecimento dos seus superiores e companheiros, ele ganharia uma medalha… Mas ele trairia a si mesmo, trairia o seu código e os seus mestres que lhe ensinaram sobre as virtudes de um guerreiro dos ares. Então ele escolheu o caminho difícil, escolheu reconhecer que ali dentro da aeronave inimiga estavam seres humanos, assim como ele. Homens cheios de esperanças, sonhos e que estavam lutando pelo que acreditavam.

Eles estavam em lados opostos da guerra, é verdade, mas talvez tenha passado um pensamento na mente de Franz: “Para além dessas guerras criadas por mentes deturpadas, quando as ilusões que separam os seres humanos forem quebradas, quem sabe eu e esses pilotos possamos ser amigos… ou até irmãos.” Em nome dessa ideia ele decidiu arriscar a sua própria vida escoltando o “inimigo” até o espaço aéreo seguro.

Sobre este evento, a banda sueca Sabaton criou a música “No Bullets Fly” (Nenhum Tiro Disparado):

Dia 23 de Agosto é celebrado o Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira, por ser a data em que Alberto Santos-Dumont realizou o primeiro voo com o 14 BIS, em 1906. Deixamos aqui, então, a nossa homenagem a todos os pilotos da FAB, que dedicam as suas vidas para proteger e servir a população desde os céus, e também aos pilotos da aviação comercial que passam muito tempo longe de suas casas para que nós possamos chegar aos nossos destinos… E que este espírito aeronáutico de honra e virtude possa inspirar a todos nós.

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