É chegada uma das épocas mais esperadas do ano. Entramos no clima de fim de ano, de confraternizar, de agradecer, de se aproximar da família. O Natal representa, de certo modo, todos esses momentos e talvez, por isso, seja um dos momentos mais aguardados. Além de juntar os momentos finais de um ciclo, junta-se a isso as férias escolares e os momentos de pura confraternização, seja entre familiares ou amigos.
Outro ponto que enche os nossos olhos de prazer é a decoração natalina. De repente, todos os estabelecimentos se enchem de árvores de Natal, os shoppings ganham papais noéis e, até mesmo dentro de nossas casas, a decoração ganha uma atenção especial.
Apesar de todos esses pontos positivos, o feriado do Natal também é marcado pela tradicional troca de presentes. Seja realizando sorteios nos famosos “amigos secretos”, em que cada pessoa recebe o nome de uma pessoa na para a qual precisa dar um presente, ou mesmo nas nostálgicas cartinhas que escrevemos ao papai noel, descrevendo quais brinquedos queremos ganhar – os presentes fazem parte da tradição natalina.
Quem nunca passou sufoco nas vésperas do Natal em tentar comprar presentes? Naturalmente, é nessa época que aflora ainda mais o nosso desejo consumista, afinal, existe uma boa razão para comprarmos presentes nesse momento. Assim, as filas em lojas se tornam longas e demoradas, e todo o espírito natalino, por vezes, é resumido na troca de presentes, estes que muitas vezes se tornam verdadeiras sagas até chegarem nas mãos dos presenteados.
Todo esse esforço nos faz refletir: qual será o presente mais valioso do Natal? Não estamos nos referindo a valores materiais, pois a lista seria inimaginável até alcançarmos o mais valioso dos presentes nesse quesito. Nos referimos aos verdadeiros presentes, aqueles que fazem nossa alma aquecer e entender o real sentido de toda a celebração por trás do Natal. Convidamos você, caro leitor, a embarcar nessa reflexão conosco. Está preparado?
A armadilha do consumismo no Natal
Sejamos honestos: na época de fim de ano, à medida que se aproxima, a preocupação maior não é nem com o simbolismo do Natal, nem com os votos de ano novo ou com a gratidão pelos momentos vividos naquele ano, e sim com o que queremos ganhar, assim como o que vamos dar. Uma grande parte da nossa empolgação, tanto enquanto crianças como adultos, está nos presentes que podemos ganhar e também na felicidade de presentear nossos familiares. Não por acaso, o comércio, atento a essa tendência, utiliza o pretexto das festas para incentivar a compra de presentes.
Frases como “sua mãe merece um natal feliz”, “mostre ao seu pai o quanto você o ama”, e muitas outras que nos incentivam a comprar, nos induzem ao consumismo e nós, inconscientemente, somos arrastados por esse pensamento. O extremo dessa mentalidade está expressa nas crianças. Para a maioria delas o Natal se resume a ganhar presentes do papai noel e toda a noite de Natal se baseia na espera da sua chegada.
A causa desse movimento não é um segredo: somos consumistas. É lugar comum falarmos que compomos uma sociedade consumista e materialista, mas será que precisamos assumir essas características de maneira tão explícita? Focamos tanto no valor material das coisas que esquecemos completamente do Valor Espiritual. Assim, os verdadeiros motivos para a reunião da família em torno de uma mesa, da famosa ceia de Natal, como símbolo de fraternidade e união com as pessoas que amamos, se torna um evento social no qual devemos trocar presentes, nos alimentar e apenas isso.
Estamos abrindo mão do verdadeiro significado das celebrações em troca de uma vida materialista que estimula apenas o nosso consumismo. Quando falamos em “Valor Espiritual”, nada mais queremos dizer a não ser tudo aquilo que não podemos tocar ou ver, mas que sabemos que existe. Um exemplo disso é o amor, cada vez menos cultivado nas famílias, ou mesmo a fraternidade. Assim, para alguns, a pior parte do Natal é justamente estar em família e isso é, infelizmente, um sintoma de como nossa espiritualidade anda mal. Já não nos sentimos conectados, logo, pensar em fraternidade e amor entre os seres humanos se torna um discurso vazio e utópico quando, na verdade, esse deveria ser o maior presente de Natal.
Como chegamos a esse ponto? Definitivamente, o Natal não se transformou em uma data consumista do dia para a noite. A bem da verdade, o consumismo é que se apossou das nossas celebrações, uma vez que se tornou a tônica de nossas vidas. Consumimos o tempo todo, em todos os aspectos da nossa personalidade.
Os diferentes tipos de consumismo
Para entender como somos controlados pelo vício do consumismo, basta observarmos que em diferentes aspectos acabamos cedendo aos nossos impulsos, muitas vezes estimulados pela propaganda e mídia. No aspecto físico, por exemplo, além de comidas e bebidas, consumimos produtos que nos prometem a juventude e bens que nos causam prazer. No fim, desejamos alcançar nossa realização por meio destes produtos, mas o fato é que seu efeito é tão efêmero e sua manutenção tão grande que nunca chegaremos de fato a ser jovens novamente ou ter uma pílula de felicidade como tanto prometem.
Já no campo emocional, muitas vezes queremos consumir um sentimento positivo do outro. Queremos sugá-los e obrigá-los a ouvirem as nossas queixas e lamentações. Assim, acreditamos que nossas dores e emoções são as únicas que importam e fazem com que as pessoas ao redor exerçam sua paciência para nos entender e aturar. Além disso, o consumismo ataca diretamente nas emoções, afinal, nos ensinam que o melhor a se fazer quando estamos tristes é fazer compras, muitas vezes mascarando nossa dor.
Já na nossa mente, as músicas que ouvimos, os filmes que assistimos, os livros que lemos acabam sendo consumidos porque queremos ter uma sensação de bem estar, de adrenalina, de conforto que eles nos proporcionam, mas NUNCA fazemos nenhum desses atos pensando em uma forma de crescermos como Seres Humanos, de nos voltarmos ao aspecto mais Espiritual da Vida.
É urgente retornar ao sentido profundo do Natal
Visto tudo isso, nos parece claro que o presente mais valioso do Natal não está nos bens materiais e na satisfação temporária que eles podem nos fornecer. Com as pessoas próximas a nós, pensamos em qual lembrancinha de fim de ano devemos presentear, mas alguma vez já paramos para pensar em qual Virtude deveríamos nos comprometer a desenvolver? Será que ao invés de presentes caros não poderíamos nos comprometer a sermos mais generosos, bondosos, pacientes, gentis ou qualquer outra virtude? Se nos comprometermos com essas virtudes e cumpri-las, o benefício desse presente de Natal não será destinado a uma pessoa, mas a todas que convivem conosco.
Quando alguém nos presenteia com algo físico às vezes é útil, assim como às vezes fica esquecido em algum canto da casa. Mas quando alguém nos presenteia com uma Virtude, ou seja, nos dizendo o que eles vêem de Belo em nós, jamais esquecemos, é guardado no Coração. É algo tão atípico e verdadeiro que não ouvimos frequentemente, e também por isso estes presentes Espirituais têm ainda mais Valor.
Talvez, se passássemos mais tempo pensando na Virtude que aquela pessoa nos inspirou ou o que aprendemos com ela no ano, não nos preocuparíamos tanto com qual presente comprar, porque ele seria apenas um motivo para nós olharmos nos olhos dela e darmos o presente Espiritual. Faça esse teste. Com todos que você deseja presentear esse ano, pense um pouco em suas Virtudes e em seus gestos, e ao invés de mandar um cartão de Feliz Natal, escreva do fundo do seu coração o que você mais admira nela, e se possível, fale para ela.
Com certeza será um Natal diferente de muitos outros que vivemos. Colocaremos um significado profundo e Espiritual por trás de algo que já se tornou quase banal, resgatando o verdadeiro sentido desta celebração. Muito mais valioso que presentes na árvore é um momento para refletir sobre o que verdadeiramente importa, o que é invisível, essencial: a Vida em sua mais Bela forma de expressão.