Preguiça: o maior inimigo das nossas ações 

Os Novos Tempos nos trouxeram, entre tantos desafios, a chance de realizar mais atividades no Conforto do lar. O trabalho, que antes nos obrigava a cruzar a cidade para merecê-lo, já nos garante que o trajeto máximo que vamos percorrer, pela manhã, é da cama para a escrivaninha, onde faremos tudo o que costumávamos fazer, mas pelo computador, à distância. Perto dali, alguns fiéis escudeiros como a geladeira e o sofá não nos deixam esquecer o quão dispostos estão a nos apoiar a todo momento. É aí que chega uma visitante que, na verdade, já estava ao nosso lado há muito tempo: a preguiça.

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A preguiça é altamente versátil e pode aparecer de diversas formas no nosso dia a dia. Quando estamos confortavelmente sentados e temos que levantar pra realizar alguma tarefa, pensamos: “será que isso realmente precisa ser feito agora?”. Essa dúvida também surge em diversas outras camadas de nossas Vidas, nos campos emocional e mental, por exemplo. Sentir preguiça para se levantar, ou para levar o lixo para fora de casa pode não parecer um grande problema. Mas quando começamos a “empurrar com a barriga” a solução de um problema importante seja no relacionamento, seja uma decisão a ser tomada ou um conflito recorrente familiar, não notamos que todas podem ter a mesma raiz.

Delia Steinberg Guzmán, presidente honorária da Organização Internacional Nova Acrópole, chama a atenção, em seu texto Preguiça….Eu?, para o quão sutil e sorrateiro o bichinho da procrastinação pode ser, se não estivermos atentos a ele.

A preguiça não é tão forte, segundo a Filósofa, que possa paralisar nossos pensamentos e emoções. No entanto, ela nos faz aumentar o tempo que levamos entre imaginar e agir, ao ponto de nos tornar lentos, demorados e tomar de nós nossas realizações. Não apenas relacionadas a atividades simples, mas, mais perigosamente, àquilo que naturalmente temos dificuldade de enfrentar, adiando indefinidamente a solução de nossos problemas. O desejo de não se esforçar aparece, mesmo em pessoas fisicamente ativas, bem humoradas e enérgicas, ao contrário do que imaginamos. Pois, a preguiça pode estar relacionada também com receio de enfrentar situações desconfortáveis e não apenas com a realização de pequenas atividades.

O preguiçoso ama o conforto e detesta mudanças, mas isso entra em conflito com a mente ativa, que não tem preguiça de fantasiar. Quando podemos realizar nossas tarefas através de outras pessoas (como quando pedimos que façam compras por nós, ao invés de fazê-las nós mesmos), ou assumimos a responsabilidade por problemas, esperando que se resolvam “sozinhos” (como quando sabemos que é nosso dia de lavar a louça, mas, convenientemente, temos um imprevisto após o almoço, que fará outros membros da família o fazerem por nós), achamos nossa verdadeira zona de conforto. No entanto, quando as coisas não saem como o esperado e, dessa vez, nós é que precisaremos realizar as tarefas de outra pessoa, toda aquela Paz e Tranquilidade que costumamos associar à preguiça some, e dá lugar à raiva. “Por que eu, afinal!?”.

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O medo, por exemplo, pode ter uma função importante, em nosso dia a dia, como nos prevenir de fazer algo perigoso ou chamar a atenção para um certo aspecto. Desde que atue apenas como conselheiro, e não como ditador, decidindo o que podemos ou não fazer em lugar da Razão. A preguiça, por sua vez, não tem qualquer utilidade para nós, pois já não vivemos em um tempo selvagem em que poupar energia é um grande talento estratégico para evitar a exaustão do corpo, e nos deixar prontos para enfrentar predadores. Aliás, talvez estejamos diante do oposto, quando temos hábitos que consomem, cada vez, menos energia do corpo e da mente. Não precisaríamos ir até uma academia de ginástica para nos exercitar, se movimentar nosso corpo já fizesse parte de nossa rotina. Além disso, comemos mais do que o suficiente para abastecer nossas necessidades diárias, e assim, engordamos. Portanto, como se trata de algo sem benefícios, eliminá-lo de nosso comportamento deixa de ser apenas recomendado, e passa a ser Fundamental.

Dentre as muitas ferramentas existentes para resolver a preguiça, desde um compromisso com alguém que lhe inspire a movimentar, até a tratamentos de Saúde, dois fatores são essenciais: Disciplina e Iniciativa.

Disciplina é o braço direito tanto da nossa Razão como da nossa Vontade. Quando nos comprometemos a mudar algo em nós, em nossos hábitos, ou realizar alguma coisa nova, é comum começarmos repletos de Motivação, com bastante Energia e Disposição. Ao longo do projeto, quando nossos esforços vão se desgastando, a preguiça tenta nos convencer que não é tão importante assim manter a dieta do jeito que a Razão mandou, ou que a quantidade de exercícios que fizemos esta semana já é mais do que suficiente, mesmo que tenhamos planejado muito mais do que isso, quando estávamos cheios de Vontade. Aí, é preciso algo que soe mais alto que nossa mente e nos lembre dos compromissos que assumimos, e porque é tão importante continuar. Esse é o papel da Disciplina. Não importa o que aconteça, nos momentos mais duros, nossa mente buscará formas de nos persuadir a fazer o que nos dá mais Prazer e trocar o difícil pelo mais fácil. Mesmo que isso custe nossa qualidade de Vida. Precisamos sempre obedecer à Disciplina que nos remeterá à Razão, lembrando que todo o esforço tem um Sentido. 

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Tal importância também tem a Iniciativa. Ouvir a voz da Razão, entender os motivos pelos quais é preciso fazer algo, encher-se de disposição para fazê-lo e dar o primeiro passo. Toda ação precisa de um motor de partida para se realizar. Em nós, esse mecanismo é a Vontade. É ela que faz com que homens e mulheres tenham descoberto a cura para doenças; subido ao cume das montanhas mais altas; descido às profundezas mais remotas do oceano; criado maravilhas tecnológicas sem as quais sofreríamos mais para viver etc. O poder da Vontade sobre a preguiça mudou o mundo. 

Deixar de fazer o que precisa ser feito, ou abandonar algo que precisa ser mudado por preguiça, é impensável para todos aqueles que vemos como grandes exemplos de Transformação, ao longo da História. Claro que fugir da pilha de louças para lavar não será uma grande mudança, mas, assim como vários Sábios disseram, toda jornada começa com o primeiro passo. Gandhi jamais teria mostrado ao Mundo o que é possível conquistar sem violência, se, quando se deparou com a primeira tarefa que tinha oportunidade de escapar, não tivesse assumido sua Responsabilidade de fazê-la mesmo assim. Se fosse perguntado como podemos mudar o Mundo, o Sábio Indiano responderia que é preciso primeiro mudar a si mesmo, e então sua casa, sua rua e assim por diante. Então, inimigos como a preguiça, precisam ser derrotados não apenas para nosso benefício, mas para o bem de toda a Humanidade. Como disse Gandhi: “sejamos a mudança que queremos ver no Mundo”. 

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