Por que Recife Tem uma Identidade Tão Forte?

Como nasce a nossa identidade? A partir de que momento conseguimos nos reconhecer como indivíduos e definir o que somos e o que não somos? Essa não é uma pergunta simples de ser respondida. Para se construir uma identidade, é preciso separar exatamente o que nos pertence e aquilo que não nos pertence. Nos primeiros meses de vida, por exemplo, o recém-nascido não compreende que é um ser diferente da mãe, mas sim que sua progenitora é uma extensão dele. A liberdade da criança só começa quando reconhece que ela é um ser distinto da sua mãe e do seu entorno. Essa é a primeira marca da identidade.

O outro passo é reconhecer aquilo que nos forja culturalmente. Gostemos ou não, somos seres que se alimentam do passado. Essa pode parecer uma afirmação absurda ou até dogmática, mas ainda assim carrega uma Verdade. Nosso passado moldou, em grande parte, o que somos.

A nível individual, é comum percebermos que nossos traumas e experiências dos anos anteriores forjaram nossa identidade e crenças atuais. Muitos podem falar, por exemplo, que são “cristãos” ou “ateus” devido a experiências boas ou ruins dentro de uma crença religiosa. Afirmamos que somos torcedores de um time de futebol por nossa identificação com o clube, com o estádio, com a torcida. Nesse aspecto, a todo momento nossa identidade individual está sendo moldada – enquanto outros pontos desse grande prisma estão, em certa medida, inalterados – e constitui a base sólida na qual podemos nos apoiar: nossa identidade enquanto ser social.

Vamos explicar de maneira mais objetiva: essa Identidade, que é a resposta para a pergunta “Quem sou eu?”, também pode ser percebida em um nível mais amplo, como numa cidade, região ou país. Essa força da cultura, seja a nível local, regional ou nacional, está presente no nosso cotidiano, em maior ou menor grau, a depender do lugar. 

Falamos com orgulho que somos brasileiros, por exemplo, e por isso não desistimos nunca. Há quem se agarre às raízes nordestinas e fale, também com orgulho, que é do Nordeste, terra de homens e mulheres fortes. Hoje, porém, falaremos de uma identidade que perpassa tudo isso e aborda, de maneira local, uma das mais fortes raízes identitárias do nosso país. Falaremos de uma dessas cidades e que carrega com orgulho esse componente identitário, que é Recife.

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Uma breve história de Recife

Recife, capital do Estado de Pernambuco, nasceu em 1537 como um vilarejo à sombra de Olinda, mas com o passar dos séculos, a cidade passou a ter mais notoriedade. Um fato importante dentro desse breve histórico é a invasão holandesa, que fez de Recife a capital do Brasil Holandês por 24 anos. Esse período marca um primeiro impulso de modernização e construção dessa Identidade local. 

Ao caminhar pelo centro histórico de Recife, ainda é possível enxergar as marcas do desenvolvimento feito pelo governador holandês da época, Maurício de Nassau, na arquitetura e urbanização da cidade. É também nesse período que a produção de açúcar na capitania de Pernambuco vai chegar ao seu auge, sendo considerada a capital mais produtiva da colônia.

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Entretanto, um ponto ainda mais relevante na história dessa construção da Identidade de Recife está no século XIX. Berço de diversas revoltas e tentativas de revolução, Recife é um ponto de convergência de intelectuais e idealistas que desejavam mudanças na política, seja enquanto colônia e, após a independência, enquanto império. Por causa deste ímpeto, ainda hoje é comum, ao visitar Recife, ouvirmos falar que a primeira experiência republicana no Brasil ocorreu lá, em 1817, após a revolução pernambucana. Essa característica de se mostrar sempre como “o primeiro” ou “o melhor” vai permear muitos elementos da cultura pernambucana como um todo.

Devemos ressaltar aqui a importância da história como fator identitário de uma população. O fato de Recife, desde suas raízes coloniais, se mostrar como protagonista em eventos políticos, seja gerando revoltas ou se tornando a capital do Brasil holandês, infla na população esse sentimento de protagonismo, de ser pioneiro. É evidente que as pessoas que atuaram no passado já não são as mesmas de agora; porém, o passado não foi esquecido e conversa com o presente, criando o sentimento de orgulho que todo recifense sente em seu peito, mesmo que não tenham sido eles os que pegaram em armas ou fizeram a revolução. 

Nesse aspecto, pertencer a uma região é absorver sua história e aceitá-la como sua, mesmo que objetivamente o indivíduo não esteja ligado aos fatos. Sua ligação é com a terra em que pisa, ou seja, com os locais que agora já marcam sua própria história, como uma onda que ao chegar arrasta tudo e todos, transformando-os em uma só coisa, em uma só identidade.

Ainda no século XIX, a modernização da cidade do Recife vai ocorrer bem antes das outras capitais do Nordeste. Isso se dá pelo fato de Recife e Salvador serem os dois grandes pólos econômicos na região naquele período. Desse modo, enquanto, por exemplo, em Natal a renovação urbana só foi ocorrer por volta dos anos 1920, na capital pernambucana esse novo modelo de cidade já surgiu após 1850 e continuou a se expandir até o início do século XX. 

Mais uma vez Recife sai “na frente”. Com essa modernização, a cidade se torna palco de um ambiente que busca o progresso, apesar de ainda ter os pés no passado colonial e na utilização da mão de obra escrava. Mesmo assim, essa ideia de avanço, tanto a nível material como intelectual, cria na cultura pernambucana uma percepção de que Pernambuco sempre está à frente das mudanças que ocorrem no Brasil. Desse modo, para entendermos o Orgulho e a Identidade do povo pernambucano, é preciso compreendermos o modo de vida e os avanços ocorridos em Recife ao longo do século XIX.

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O orgulho de ser de Recife

Certa vez o recifense Gilberto Freyre, um dos maiores intelectuais da história do Brasil, ao comentar sobre a cidade de Recife, comparou sua cultura à Atenas clássica, considerando as duas como berços da civilização ocidental. O que para alguns pode ser considerada uma comparação sem fundamento, para o intelectual pernambucano passou a ser comum. Esse é um bom exemplo do orgulho que habita no peito de cada cidadão de Recife, ao enxergar sua cidade – e povo – como um verdadeiro expoente da cultura ocidental.

Se por um lado sobra o exagero, por outro é interessante observar a autoestima alta que esse orgulho produz e que, a bem da verdade, quando bem canalizada, pode ser um motor capaz de fazer a cidade crescer ainda mais a partir da força produtiva e empreendedora de sua população.

Esses aspectos, com o tempo, foram enraizados na mentalidade do povo pernambucano e especialmente no povo de Recife, criando uma Identidade regional que, além de responder a pergunta essencial do “quem sou?”, causa um segundo efeito, que é o “eu tenho orgulho de ser daqui”. Quem já foi a Recife ou conviveu com pessoas de lá sabe bem do que estamos falando. O orgulho de ser pernambucano é extremamente comum ao se andar e conversar com quem é de lá.

Como dito no começo desse texto, somos Homens do passado. Recife é um ótimo exemplo de como a nossa história fundamenta o que somos hoje, desde nossa cultura até a forma de enxergarmos os outros e a nós mesmos. A moderna e pioneira Recife do século XIX, então, permanece viva no Orgulho e Estima do seu povo.

A forte cultura e o bom humor do povo pernambucano deveriam ser uma inspiração para que todos nós também aprendêssemos a valorizar aquilo que temos de Bom.

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