Não viemos ao Mundo sozinhos e muito menos conseguimos viver só. Por mais que, às vezes, tenhamos esse desejo, o Ser Humano não foi feito para o isolamento. Desde o nosso nascimento, estamos cercados de pessoas que nos dão Afeto e Carinho, além de nos ensinar sobre o Mundo e como devemos nos comportar. Nossos pais, portanto, são os nossos primeiros Mestres, aqueles que estarão prontos para nos ver dar os primeiros passos. São eles que nos protegerão até conseguirmos nos tornar seres autônomos e, em nossa formação, são um dos elementos mais importantes, visto que aprendemos, em grande medida, através do exemplo.
Desse modo, o convívio com os pais é de extrema necessidade para toda criança em formação. Biologicamente, por exemplo, nossas mães nos ajudam a crescer, dando-nos os alimentos que precisamos. Já no aspecto social, tanto o pai quanto a mãe nos ensinam, desde cedo, os valores que devemos cultivar ao longo da Vida. Vale ressaltar, contudo, que ao falarmos de “pai” e “mãe” estamos nos referindo aos papéis sociais que esses termos designam. Uma vez que as mais diferentes configurações familiares podem romper com o que, tradicionalmente, conhecemos dentro desses termos. Sendo assim, ao nos referirmos aos pais, entendemos, em geral, como as pessoas que se dedicam a criar e educar seus filhos.
Dito isso e sabendo da importância deles na criação de uma criança, podemos nos perguntar acerca do que pode acontecer quando crescemos sem essa referência. Em muitos casos, por uma série de razões, há pessoas que não conhecem seu pai ou sua mãe, ou mesmo nenhum dos dois. Será que a ausência de uma dessas referências nos afeta profundamente?
Não precisamos de muitas evidências para saber que sim. A falta de um pai ou mãe pode gerar nas crianças problemas de Confiança, sentimento de abandono e uma série de dificuldades em nossa Vida. Fazendo uma breve analogia, viver desde cedo sem pais é tão desafiador quanto tentar aprender algo sozinho, ou seja, sem um Professor para nos ajudar a compreender e acelerar nosso processo. Muito além disso, o impacto em nossas emoções pela falta dessas figuras é imensurável. Até mesmo nas coisas simples do nosso dia a dia, desde uma celebração na escola, como o “dia dos pais” e “dia das mães”, pode ser uma verdadeira tortura psicológica para quem nunca conheceu seus genitores.
Frente a essa questão, hoje viemos indicar um filme que retrata bem o tema de crescer sem a referência de um pai, no entanto, de maneira um pouco descontraída e com humor. Estamos falando do filme “Pai em dobro” – uma comédia Brasileira lançada pela Netflix em 2021. Estrelado por Maísa Silva (que ganhou fama como o programa “Bom dia e Cia.”), o longa nos conta a história de Vicenza, uma jovem que vive, em uma Comunidade Hippie, com sua mãe, e que cresceu sem conhecer seu pai. Ao completar 18 anos, a jovem decide partir em busca de respostas e finalmente conhecer o homem que a gerou. Porém, ela não sabe ao certo quem é o seu pai, pois sua mãe teve dois relacionamentos muito próximos. Assim, Vicenza lança-se ao Mundo em busca desses dois homens para conhecê-los e descobrir quem, de fato, é seu genitor.
Apesar de ser um filme de comédia, a discussão levantada por “Pai em dobro” é muito relevante para nós. Entre as cenas cômicas, está o dilema de Vicenza que precisa suprir uma carência afetiva e que, mesmo com os esforços de sua mãe sempre presente e buscando educar a filha da melhor maneira, ainda assim não a impediu de se sentir incompleta. Apesar de sabermos que o Ser Humano é capaz de adaptar-se a muitas situações, tanto físicas como psicológicas, é certo que a ausência de uma referência familiar nos afeta enormemente. Podemos, de fato, sobreviver sem um pai ou uma mãe, e talvez possamos superar essa falta ao longo do tempo, mas certamente isso nos deixará com cicatrizes em nossa psique.
Além disso, há um estigma social para com as pessoas que não conhecem seus pais. Na fase infantil, principalmente, tais pessoas podem ser facilmente alvo de bullying e pequenos constrangimentos cotidianos, como nos dias comemorativos, em que não poderão levar seus pais; ou mesmo na saída da escola, em que todas as crianças estão com seus familiares esperando o fim das aulas. Assim, crescer sem pais é um desafio tanto dentro como fora de nossas casas.
No caso de Vicenza, além da busca pelo seu pai, um outro ponto também é enfrentado pela jovem hippie: a adaptação à cidade grande. Com uma criação voltada a valores distintos do meio urbano, aos poucos, a jovem passa a aprender como se vestir e portar de acordo com os costumes locais. Isso, porém, não lhe impede de ser autêntica e manter os princípios que lhe foram ensinados desde que nasceu.
A jornada atravessada por Vicenza a leva a conhecer Paco e Giovani, seus possíveis pais. E na relação dela com os dois homens, é possível notar a diferença entre crescer com um referencial paterno ou não. Eles passam a conviver intensamente, tentando recuperar o tempo perdido dos últimos dezoito anos. A mensagem mais interessante que o filme nos passa, porém, é a de que representar o papel de pai não tem relação nenhuma com a ligação biológica. Um dos dois homens não compartilha do mesmo sangue que Vicenza, mas isso não diminui a relação da garota com ele. Assim, “Pai em dobro” mostra que, para além do parentesco real, há sempre a oportunidade de sermos pais ou mães de alguém que precise.
Frente a essa realidade, não há barreiras que nos impeça de servirmos como um canal materno ou paterno. E essa é, acima de toda a parte cômica, a verdadeira lição que “Pai em dobro” nos proporciona. Sendo assim, indicamos a todos que assistam a essa produção nacional.