O psicólogo suíço Carl Jung dizia que toda a Natureza é simbólica. Com isso, ele estava dizendo que toda a matéria e energia de que somos feitos, assim como todo o espaço em que nascemos, vivemos e morremos, estão carregados de informações. Se todos os livros do mundo fossem queimados, ainda assim a Sabedoria seria acessível, pois um verdadeiro sábio lê a realidade na Natureza. Nesse sentido, os quatro elementos, que são Terra, Água, Ar e Fogo, aparecem nas grandes tradições místicas como símbolos de nossa Natureza profunda e desconhecida.
Enquanto a ciência moderna se ocupa em refutar a tese de que os quatro elementos são a base do mundo material, os filósofos antigos estavam mais interessados no que conseguiam aprender a partir desses elementos. Para além disso, notava-se uma profunda semelhança desses quatro elementos com as nossas características físicas, energéticas, emocionais e mentais.
A Terra, a Água, o Ar e o Fogo formam um sistema simbólico organizado, que nos revela uma ação inteligente e consciente. Observe que a reunião dos quatro gera todas as florestas, nutre todos os seres viventes e permite o funcionamento de toda a mecânica do planeta e do sistema solar. Que semente germina sem terra, água, ar e calor? Como o planeta giraria em torno de seu próprio eixo se não fosse um núcleo ativo a 6000ºC de temperatura? A vida não seria possível sem água, não por acaso 70% da superfície terrestre é formada por oceanos com média de mil metros de profundidade. Já o ar atmosférico não fica atrás em matéria de importância, uma vez que garante a possibilidade da vida, pois dentre a variedade de substâncias de que é composto encontra-se o oxigênio (O2), sem o qual não respiramos. Toda a nossa possibilidade de existência está intrinsecamente correlacionada com Terra, Água, Ar e Fogo.
As principais tradições religiosas do mundo, desde as religiões de matriz africana às religiões abraâmicas: judaísmo, cristianismo e islamismo estão impregnadas de simbolismos relacionados a esses elementos. Na Torá judaica, por exemplo, que também é a base do cristianismo, o homem vem da terra, inicialmente modelado pelas mãos do criador, que em seguida sopra dentro de suas narinas o ar. Quando esse fôlego de Deus percorre as paredes internas do corpo humano, este ganha a Vida. Vê-se aí a coalizão dos elementos Terra; Água, que lhe permite a liga para modelar o corpo; e Ar, proveniente do fôlego Divino lhe dá a Vida.
Na mitologia africana, antes deste mundo existir, o ayê era habitado apenas pelas forças das águas, do vento e do fogo, personificadas nos orixás, até que Olodumaré, o Deus de todos os Deuses para aquela tradição, deu ordem para que se criasse o ayê ou o mundo físico tal como conhecemos. Depois, ele manda criar um ser do pó da terra, que é modelado inicialmente como um protótipo inanimado, mas que ao receber o sopro em suas narinas passa a ter Vida. Na mesma linha, o Alcorão, Livro Sagrado do islamismo, afirma: “Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: Criarei um ser humano de argila, de barro modelável.” (Alcorão 15:28).
A ciência moderna, em sua hipótese mais aceita sobre o surgimento do Universo, admite que há mais de treze bilhões de anos, o Universo surgiu de uma grande explosão e que é das ressonâncias dessa explosão que vão surgindo os estados de matéria que nossa percepção imediata hoje assimila como Fogo, Ar, Água e Terra. Dentro dessa cosmovisão, os elementos guardam memórias ou informações ao longo de treze bilhões de anos.
Quando você olha para si mesmo em um espelho, o que vê de imediato? Um corpo físico, não é verdade? Com cabeça, tronco e membros. Esse corpo é denso, concreto, é possível percebê-lo com o tato, enxergá-lo com a visão, senti-lo com o olfato, etc. Mas você percebe que não tem só um corpo aí. Se assim o fosse não passaria de um boneco de cera. Você percebe que esse corpo tem calor, vibra, está vivo, tem tremores, sensibilidades, reflexos, está em movimento, assim como as águas do mar. As tradições antigas costumavam dizer que este corpo físico que temos está envolto em um outro corpo, menos denso, chamado de corpo energético, e o encontro dos dois permite a animação, a Vida. Isso é muito parecido com os estados físicos do mineral e da água. A água tem densidade menor que a pedra, tem mais mobilidade, mais vida e do encontro da água com as pedras nasce a argila moldável.
A lógica misteriosa que envolve a natureza da terra e da água está presente em nós, em nossos ossos, em nossos tecidos e em nossa natureza vivente e animada. Mas a nossa constituição não se limita ao corpo e a energia. Somos seres que sentem. Ficamos tristes, temos momentos de alegria, somos afetuosos, nos encantamos com o mundo e não só isso, também temos uma mente que vive ardendo em milhões de pensamentos. Observe que parece haver uma gradação de densidade nesta constituição. O corpo físico é mais denso do que a nossas energias, que são mais densas do que as nossas emoções, que são mais densas do que os nossos pensamentos. Todas essas variações se encaixam perfeitamente em uma alegoria com os quatro elementos da Natureza. Nosso corpo físico é semelhante à terra, ao mineral, nosso corpo energético assemelha-se à água, nosso corpo emocional assemelha-se ao ar e nossa mente, ao fogo.
Há um Mistério na Natureza que também está em nós. E se é possível lapidar um metal precioso, também é possível refinar nossas personalidades. Esse jeito de pensar não é novo no mundo. Desde que as culturas humanas começaram a estudar a química do mundo que fazem essa correlação. A cultura árabe, por exemplo, ao estudar a química chamavam-na de “Al Khen” ou “a química” é daí que vai surgir uma prática chamada alquimia. Os alquimistas existiram nas principais civilizações da história conhecida, como: egípcia, árabe, mesopotâmia, persa, entre outras, mas é a alquimia da Idade Média que nos é mais conhecida. É possível que você já tenha ouvido falar deles como os buscadores de fórmulas para transformar o chumbo em ouro e para descobrir o elixir da longa vida, que curasse todas as doenças e nos eternizasse no mundo. Mas é possível também que já tenha ouvido falar que eles buscavam a pedra filosofal, ou algo místico, profundo, de que nunca se sabe explicar bem o que é. Então, os alquimistas não estavam ligados exclusivamente à matéria. Os bons estudiosos da história dos alquimistas preferem vê-los como buscadores de uma transmutação interna da Alma Humana, pois percebiam a estreita correlação que nossa Alma tem com a natureza dos quatro elementos e sabiam que assim como esses elementos são transmutáveis, nós também podemos transmutar para evoluir.
Por fim, estas tradições milenares apontam para uma presença em nós de uma potência tão sublime quanto a que enxergamos na variedade de elementos geológicos, na vastidão dos oceanos, na complexidade do ar atmosférico e na temperatura elevada do centro da Terra. Se em algum momento você foi capturado pela Beleza, a Força e a Grandiosidade da Natureza, tenha certeza que é constituído da mesma Potência e da mesma Beleza. Precisamos reconhecer essa natureza latente em nós. Só assim poderemos encontrar a chave que nos permita abrir esse portal e deixar fluir todos esses poderes que se encontram escondidos na profundidade de nós mesmos. Logo, passaremos a conhecer profundamente do que somos feitos, e nos sentiremos tão Grandiosos, Fortes e Harmônicos como a própria Natureza.