Se pudéssemos caracterizar o estilo de Vida da nossa sociedade atual, certamente diríamos que um dos seus principais pilares existenciais é a busca por um modo de Vida cada vez mais confortável. Queremos sempre que a Vida nos demande menos tempo, menos gasto de energia ou trabalho. O problema de tudo isso é que essa filosofia de Vida nos arrasta para uma quase paralisia ou inércia diante da Vida, além de nos trazer sérios problemas de saúde.
É claro que as facilidades atuais com as quais convivemos como água encanada, eletricidade, automóveis e utensílios domésticos nos impactam positivamente e facilitam e muito a nossa vida diária. Ganhamos tempo ao dinamizar algumas atividades domésticas, por exemplo, como utilizar aspiradores automáticos ou mesmo com máquinas que preparam o nosso café em questões de segundos. Essa não é a questão. O que podemos refletir é que essas facilidades e a busca por uma Vida prazerosa e confortável tem sido cada vez mais um valor sagrado em nossa sociedade, mesmo que isso nos traga consequências inestimáveis para a nossa saúde física e psíquica.
Uma pergunta que quase nunca fazemos é: como e onde utilizamos o tempo que ganhamos frente a toda essa economia de energia? Talvez gastemos nosso tempo a mais no sofá, ou em paradas obrigatórias na geladeira e longos períodos de repouso quase “inofensivos”. Ademais, é em nome desse estilo de Vida que nos tornamos cada vez mais sedentários e viciados em confortos desnecessários. A sociedade do controle remoto e dos utensílios domésticos comandados por inteligência artificial, dos sofás e das camas com tecnologias cada vez mais confortáveis e aconchegantes, é a mesma que condiciona milhões de pessoas ao sedentarismo, deixando-as expostas a várias doenças comportamentais.
Pesquisas recentes, largamente divulgadas em veículos nacionais e internacionais, já apontam que o sedentarismo é tão prejudicial quanto o uso de cigarro. Por exemplo, um estudo realizado pela Cleveland Clinic em 2018, afirma que a inatividade pode afetar mais a expectativa de Vida de uma pessoa do que o cigarro. E não para por aí, segundo um dos periódicos do Journal of the American Medical Association, em um dos trabalhos coordenado pelo cardiologista Wael Jaber, analisou-se através de estatísticas de mortalidade que pacientes entre os anos de 1991 e 2014, a depender de seu estilo de Vida, puderam desenvolver ao longo do tempo uma maior ou menor qualidade de Vida, os pesquisadores ainda perceberam que o índice de mortalidade maior foi encontrado no grupo de pessoas que não praticavam nenhuma atividade física.
O sedentarismo é representado, principalmente, pela ausência de atividade física e um gasto calórico reduzido a 2200 calorias por semana para cada pessoa, segundo alguns especialistas. Assim, uma pessoa que se alimenta de maneira desregrada, não faz exercícios físicos e tem cada vez mais hábitos comportamentais que a deixam inativa pode-se não só ser considerada como sedentária, mas pode desenvolver sérios problemas de saúde física como hipertensão, diabetes, colesterol, problemas cardíacos e vasculares, além dos vários problemas psicológicos que possam vir a acarretar.
Esse estilo de Vida sedentário ao qual nos propomos e adotamos como um padrão já nos demonstrou que nos faz mais mal do que bem. Porém, porque ainda insistimos em segui-lo? Por que cada vez mais nos permitimos viver uma Vida dedicada ao prazer de nos alimentarmos, em vez de atendermos a nossa real necessidade? Aqui, minimamente, temos que admitir que perdemos a capacidade de reconhecermos quais os limites e os referenciais para uma Vida saudável e equilibrada. Isso expressa, claramente, uma ausência de Justiça com o nosso próprio corpo.
Entendamos aqui a Justiça como uma ideia profundamente discutida no nosso passado ocidental por alguns de nossos filósofos clássicos. Platão, por exemplo, entendia a Justiça como dar a cada um segundo a sua natureza e atos. No caso de nosso corpo físico, encontrar a justiça seria dar ao mesmo o que é necessário para manter a sua natureza saudável e equilibrada. E como já discorremos acima, comer ou repousar além do necessário não é e nunca será saudável para nenhum Indivíduo. Assim, onde não há Justiça não há equilíbrio e, consequentemente, não há saúde.
Por outro lado, é possível observar que a busca por uma inatividade é contrária à própria Natureza Humana, que sendo vista como uma reprodução em pequena escala da Natureza do Universo, deveria assemelhar-se ao seu movimento. Ao observarmos a Vida chegaremos a conclusão, mais cedo ou mais tarde, que tudo está em movimento: os dias, os meses, os anos, os ciclos, as estações, a água, a terra, enfim, nada está parado porque, como diz a nossa velha filosofia, a Vida é movimento puro.
É a energia constante, o movimento e a transformação das coisas que dá a garantia à evolução da Vida. Desse ponto de vista, por que com o Ser Humano seria diferente? Tudo o que está vivo se movimenta e o contrário também é verdadeiro, tudo que está parado, estagnado está morto ou em estado de putrefação. Basta lembrarmos de uma água parada. A própria neurociência já aponta estudos que mostram a importância do movimento dentro do corpo, pois, a velocidade de conexões cerebrais e impulsos elétricos que os nossos neurônios fazem para realizar, por exemplo, uma simples atividade motora é surpreendente.
Portanto, toda e qualquer forma de sedentarismo não é só prejudicial ao nosso físico, mas a nossa própria Natureza Humana que busca expandir-se e, assim como todo o Universo, quer expressar o potencial latente que carrega consigo, e se manter inativo é inviabilizar todo esse processo. Como diz o poeta, tudo o que se move é sagrado pela própria razão de existir e, se assim não nos percebemos, há uma desconexão profunda entre nós e a nossa própria Natureza, entre nós e o próprio Universo. Que possamos portanto vencer a inércia, um dos maiores perigos contra a evolução do Ser Humano. Não deixemos ela inviabilizar o pulsar da Vida porque a Vida se transforma e se renova no simples e puro movimento.