Quais são os Princípios que nos guiam? Em linhas gerais, aprendemos os Valores que carregamos durante a vida ainda na infância, junto à nossa família e na escola. Nessa fase de formação, tanto biológica como social, somos ensinados a respeitar as outras pessoas, a ajudar antes de sermos ajudados e, principalmente, a jamais machucar o nosso semelhante. Entretanto, à medida em que vamos crescendo, tais ideias vão se tornando vagas e relativas: não agredimos fisicamente outra pessoa, mas passamos a criticá-la de maneira dura; queremos ser ajudados sempre que possível, mas raramente estamos dispostos a sacrificar nosso tempo e conforto para ajudar alguém necessitado.
Observando a partir desse ponto de vista, nos parece evidente que as lições que carregamos dos nossos pais quando crianças vão sendo modificadas ao longo da vida. Por que isso acontece? Poderíamos elencar uma série de motivos que nos levam a desviar-se, às vezes, daquilo que nos ensinaram ser o certo, porém, podemos resumir em alguns poucos pontos. O primeiro deles é que não fomos nós que elegemos os Princípios, eles nos foram passados. Assim, nunca paramos para refletir sobre os seus significados, muito menos se era dessa maneira que queríamos viver. Assim como não escolhemos esses Valores, não compreendemos o verdadeiro sentido de vivermos tais ideias. Nos falta Convicção, uma Virtude que só podemos conquistar vivendo todos os dias em prol daquilo que elegemos ser os nossos Valores.
Aos mais céticos, a Convicção pode soar como algo dogmático ou mesmo impossível, afinal, no mundo existe uma série de situações que podem nos fazer abrir mão dos nossos Princípios. Assim, nada melhor do que refletirmos sobre um verdadeiro exemplo dessa Virtude. Por isso, hoje trouxemos uma indicação de filme que reflete com exatidão a importância de termos Princípios e, acima de tudo, vivenciá-los. Estamos falando de Desmond Doss e seu exemplo de Convicção em “Até o último homem”.
Baseado em fatos reais, o filme estreou nas telas do mundo inteiro em 2017 e foi dirigido por Mel Gibson. O longa metragem nos conta a história do médico Desmond T. Doss (interpretado por Andrew Garfield) durante a Segunda Guerra Mundial. Criado em lar cristão, o jovem médico aprendeu desde cedo uma importante lição: nunca matar outro Ser Humano. Esse valor, que está incutido em praticamente todos nós, passa a ser ignorado quando se apresenta um cenário de guerra tal qual o vivido por Desmond Doss. Obrigado a servir no exército americano, o jovem ainda assim não concordava com o destino que o aguardava nos campos de batalha. A primeira prova, portanto, do protagonista, está em harmonizar os seus deveres como cidadão americano e os seus Princípios.
Concentrado em não ferir outro Ser Humano, Doss não aceita segurar sua arma e decide que atuará na guerra apenas como médico. Essa decisão contraria a lógica geral e mesmo o exército tenta dissuadi-lo da ideia, mas sem sucesso. No fim, aceitam que ele dedique-se apenas à medicina no campo de batalha e o jovem Desmond parte em sua jornada. Uma das primeiras reflexões que podemos fazer sobre isso mostra como a Convicção nos permite resistir a situações que parecem ser impossíveis. Seria inimaginável, por exemplo, um só homem convencer uma instituição como o exército de sua posição. Não por acaso, dizemos que a Convicção, em geral, é sinônimo de um outro atributo: a Força. Não estamos falando da força física, mas da psicológica. Quando estamos verdadeiramente convictos, nossa psique mantém-se estruturada e isso nos dá o impulso necessário para realizarmos o que queremos. Quando combinamos essa Força em harmonia com um Princípio, obtemos um valor moral perante as circunstâncias que, não importa o que ocorra, não deixamos de viver sob as Leis que elegemos.
O filme apresenta diversos momentos de conflito durante a Segunda Guerra Mundial, mas seu centro está nas batalhas ocorridas no Oceano Índico, mais precisamente no conflito de Okinawa entre americanos e japoneses. É nessa batalha que o verdadeiro valor de Desmond Doss é colocado à prova. Quando seu batalhão inteiro cai em uma armadilha, centenas de americanos ficam à mercê da morte sob um intenso ataque japonês. O general que comandava a operação em Okinawa, ao ver a complexidade que seria resgatar os soldados e, além disso, a possível perda de ainda mais homens, toma uma dura decisão: deixar os que estavam sob o fogo cruzado morrerem. A maioria estava ferido e não tinha condições de combater, situação essa que tornava o resgate ainda mais perigoso.
Quando todos consideravam que essa era a decisão mais “prudente” a ser tomada, Desmond Doss ergueu-se da sua posição e resolveu arriscar-se para salvar o máximo de pessoas que conseguisse. O médico sozinho entrou na linha de combate não para tirar vidas, mas para salvar o máximo que lhe fosse possível. Assim, arrastou-se pelas trincheiras e resgatou 75 homens da morte iminente. Ao assistirmos as cenas da batalha de Okinawa, temos a certeza desse ser apenas um fato fictício, colocado no filme para dar um “ar” de heroísmo à figura de Desmond Doss. Porém, na realidade, o filme suprimiu algumas partes da história real, justamente pelo fato de que ninguém iria acreditar, contou Mel Gibson. De fato, Desmond ainda iria provar sua coragem em outras duas batalhas, também salvando o máximo de soldados. Mas, como um só homem conseguiu esses feitos, quando seus superiores, contando com mais soldados e recursos, achavam impossível?
Para além da coragem necessária, o que moveu as ações de Doss foi atuar em nome do seu Princípio. É fundamental refletirmos sobre isso, pois, quando falamos em Princípios e Valores, não estamos apenas teorizando sobre o assunto, mas mostrando que essas ideias precisam ser vividas em nosso cotidiano. Se, por exemplo, elegemos como Princípio a Honestidade, significa dizer que iremos viver de forma honesta, em qualquer situação, e não somente falarmos e pensarmos sobre essa Virtude. Viver os Princípios os tornam reais e, consequentemente, nos torna pessoas mais fortes perante as dificuldades da vida.
Foi atuando em nome do seu dever enquanto médico que Doss conseguiu reunir os atributos necessários para realizar esse grande feito. Sua vida ficou em risco em diversos momentos, inclusive quando foi alvejado por alguns tiros em meio ao caótico cenário de guerra. Ainda assim, resgatou com vida dezenas de companheiros e seus atos foram reconhecidos como heroicos. Ele recebeu uma medalha de honra devido à sua atuação na batalha de Okinawa.
A convicção em seus Valores foi o motor que o impulsionou até o fim da vida. Para tanto, Doss não precisou de super poderes, muito menos de dinheiro, nem de comandar uma centena de pessoas, apenas da coragem necessária de viver sob as regras que elegeu. Seus Princípios, acima de tudo, baseavam-se na Unidade entre os Seres Humanos. Dessa forma, jamais poderia atuar de maneira que o separasse dos demais. Assim como um médico não escolhe os pacientes que irá curar e um professor ensina a todos sem distinção, uma pessoa com Princípios vive sem diferenciar os demais não causando discórdia entre eles. Um Valor Humano só o é, afinal, se gerar uma Unidade entre as pessoas.
Por fim, é fundamental sermos convictos das ideias que achamos importantes de existirem no mundo. Se, por exemplo, queremos um mundo mais justo, que sejamos nós os baluartes da justiça em nossos ambientes. Seja na família, no trabalho ou com os amigos, que possamos expressar essa Virtude a todo momento. Uma antiga frase diz que, mais importante do que morrer por um ideal, é viver um. Que possamos viver, cotidianamente, os nossos Princípios até que no último dia de nossas vidas, ao escrever o capítulo final do livro da nossa existência, possamos ver que todas as páginas foram dedicadas a uma vida de União e Valores verdadeiramente Humanos.