O Segredo do Ritmo: Respiração e Produtividade

Saber respirar pode trazer benefícios inimagináveis para um Indivíduo. Controlar os pulmões e respirar devagar não só ajuda a controlar a ansiedade, mas também nos faz relaxar das tensões, evitando o estresse, além de trabalhar a oxigenação no cérebro. Estudos científicos já comprovam os problemas causados por uma respiração superficial, descontrolada ou sem o ritmo adequado para o bom funcionamento dos nossos corpos físico, psíquico e mental. A julgar pelo alto índice de pacientes cada vez mais diagnosticados com síndromes causadas pela ansiedade e doenças correlatas, além da busca crescente por especialistas e cursos focados em técnicas de relaxamento e terapias respiratórias, pode-se concluir que somos uma sociedade que tem muita dificuldade no ato de respirar. 

Porém, engana-se quem pensa que a respiração só se restringe ao processo mecânico do nosso corpo físico, que a boa respiração só ajuda o cérebro a diminuir a ansiedade ou relaxar as tensões, como os estudos e as pesquisas científicas já divulgaram amplamente. 

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Imagem: Via Freepik

No mundo corporativo, a busca pelo bem-estar e pela alta produtividade dos funcionários e associados tem levado as empresas a contratarem profissionais para a prática de várias técnicas. Entretanto, nenhuma prática trará resultado eficaz se não a compreendemos em sua profundidade. Para além da explosão de técnicas de respiração que cada vez mais caem na graça do consumidor, é preciso a consciência de que essas terapias guardam em si uma visão muito profunda de Unidade entre a Humanidade e todo o Universo que a cerca.

Curiosamente, embora poucos atentem para isto, a onda das terapias respiratórias e técnicas de relaxamento massivamente divulgadas e praticadas no mercado tem sua base em ensinamentos filosóficos ou em textos antigos como os escritos védicos. Vale ressaltar que são, a maior parte deles, textos sagrados, que falam da importância do controle da respiração através de práticas profundas de pranayama ou exercícios respiratórios de ioga.

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Imagem: Via Pinterest

Esses escritos abordam o tema da respiração como um conceito mais amplo e profundo, correlacionando-o a um dos princípios fundamentais do Universo, a Lei do Ritmo. De acordo com essa lei fundamental, tudo no Universo funciona a partir de um ritmo ou um ciclo, que pode ser observado em diversos padrões da Natureza. Observe a vida natural que está ao seu redor: as plantas possuem um tempo de florescer, gerar frutos e deixar suas folhas caírem ao solo; os animais possuem hábitos noturnos ou diurnos, adaptando momentos de extrema atividade com intervalos para descanso; a própria Terra possui seus diversos ciclos, como o da água e dos ecossistemas, assim como o dia e a noite e todo movimento de rotação e translação. Tudo funciona a partir de um ritmo, marcando a harmonia da Natureza nas diferentes etapas em que se vive. Se percebermos essa lei, poderemos notar que tudo tem um fluxo, que ora se apresenta com muita energia (o que chamamos de vida), ora com pouca ou nenhuma energia visível (o que chamamos de morte). 

Aprofundando ainda mais essa ideia, de acordo com o livro “Caibalion”, as mesmas leis que operam a  na Natureza (o macrocosmos) também atuam no mundo interno do ser humano e dos demais seres da Natureza, o que chama-se de microcosmos. Logo, o ser humano também está sujeito aos ciclos e a lei que dita o ritmo harmônico da Natureza, e se encontramos o ponto de equilíbrio desta lei, poderemos dançar pelas águas da vida de forma a navegá-la e não ser conduzida(o) pelas tempestades que arrastam nossa existência para a dor e o sofrimento.

Curiosamente, os maiores mitos sobre a criação do mundo e de todos os seres que nele existem perpassam pelo sopro suave de um Deus, seja ele Brahma para os hindus, ou Jeová para os judeus e cristãos. Isso nos leva a refletir que, simbolicamente, somos fruto da respiração cósmica, resultado de um pensar que foi propagando-se e criando todo o espaço. Essa respiração incorpórea perpassa todas as coisas e seres existentes, criando com isso uma Unidade que representa a União de todas as coisas. Sobre esse assunto você pode aprofundar-se a partir do texto “Manvantara e Pralaya: a respiração de Brahma e sua relação com o tempo”. Para acessá-lo, basta clicar aqui.

Porém, a ideia do ritmo não está presente apenas nos mitos. Se olharmos pelo lado da ciência, uma das maiores teorias sobre a criação do Universo – e a mais aceita no mundo moderno – é a do Big Bang. Nela o Universo se expande desde um ponto singular. Essa expansão – e não explosão, como o senso comum nos apresenta – um dia irá parar e o Universo, que agora expande, começará a retroceder, voltando para o seu ponto de início. O que esse movimento representa? Não nos parece, de fato, uma respiração que enche nossos pulmões de ar e os seca quando o expiramos? 

Nos parece que apesar de seguirem por caminhos diferentes, os mitos e a ciência moderna aproximam-se de uma mesma verdade: a Lei do Ritmo. Se considerarmos, portanto, que essa é uma lei universal, tal qual a gravidade, será que nossa forma de viver não deveria ser diferente? Hoje não entendemos o ritmo como uma vida harmônica, equilibrada, com diferentes ciclos e momentos. Achamos que o ritmo é fazer sempre mais, de forma mais produtiva e eficiente, e, na maioria dos casos, com pouco espaço para descanso e ócio. Nessa visão de mundo seríamos como um agricultor apressado que tenta plantar na estação errada e deseja colher os frutos rapidamente. Entender o ritmo da vida é saber que em tudo há um tempo: tempo de produzir, tempo de descansar, tempo de refletir, tempo de festejar. 

É natural que, se partirmos desse pressuposto, poderemos compreender que integrar-se ao Universo e seguir ritmicamente as suas Leis é entrar no fluxo da Vida. E uma vez lá, se tem a visão necessária para viver além da existência. Olhando para o Todo é mais fácil saber o tempo certo e o ritmo necessário para a execução de cada projeto e a prioridade deles. Por isso, para aprender a respirar, é preciso aprender a ter ritmo. E esse ritmo está no compasso da Vida que preenche todo o Universo.

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Para os que se interessam em estudar a ciência da respiração, é condicional beber dessas fontes filosóficas antigas e, necessariamente, transcender a superficialidade das práticas, que, por vezes, acabam nos deixando presos dentro de esquemas acríticos e mecânicos. Sabemos que aqui, no Ocidente, as práticas e técnicas de respiração são muito conhecidas e utilizadas, apesar dos seus conceitos filosóficos ainda serem muito pouco difundidos e, em geral, desassociados dos exercícios.

Com essas ideias em mente, é importante mencionar que as grandes tradições da Humanidade – tibetana, hindu, egípcia, grega, entre outras – veem o Universo como um retorno à Unidade, a partir de uma complexidade de elementos diferentes que estão no caminho da evolução. Assim, essa Unidade se expressa na Natureza através do ritmo dos seus ciclos. Então, quanto mais alinhados estivermos ao compasso da Natureza, mais Harmonia teremos, e, por conseguinte, mais possibilidades de sucesso em tudo o que nos propomos a fazer. Entretanto, quanto menos integrados estivermos, mais descompassados e desarmônicos nos tornaremos, tanto internamente como externamente. Talvez daí derive a nossa desconexão com a Vida e, por decorrência, o pânico de viver e enfrentar as adversidades da caminhada. Lembremos que é mais fácil desistir do que continuar em frente. Talvez venha daí a nossa falta de visão e as nossas prisões em nossos particularismos.

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Imagem: Via Freepik

Tratando-se de ritmo, uma das coisas mais difíceis que existe na nossa rotina é assegurá-lo, do início ao fim, nos projetos e metas a que nos propomos. Às vezes começamos com as maiores e melhores motivações, mas, com o passar do tempo, vamos nos dispersando e nos perdendo pelo caminho. Assim, acabamos por desistir daquele mestrado, do curso de idiomas que já procrastinamos tantas outras vezes; abandonamos o projeto daquela viagem tão sonhada, os treinos de corrida ao despertar, as aulas de dança, o yoga, a lista de livros que esperam o dia ideal para serem lidos… E lá se vão mais projetos para o nosso cemitério de empreendimentos não realizados.

Sejamos bem sinceros, todos nós temos uma lista enorme de projetos inacabados que carregamos sobre os nossos ombros. Entretanto, mais interessante do que a análise dessa lista é a reflexão sobre o que podemos fazer para manter o ritmo das atividades em execução e não abandoná-las no meio do caminho. Vem da Tradição Oriental o conselho de que, para tudo na Vida, é preciso saber inspirar e expirar. Os benefícios de saber respirar corretamente estão para além da saúde física do corpo, perpassam nossas emoções e nossas mentes, impactando diretamente os estudos, o campo profissional e a relação social.

Simbolicamente, quem sabe respirar corretamente, consegue compreender a importância da alteração regular e compassada no decorrer dos fatos ou situações que acontecem no seu cotidiano. É importante perceber que tudo o que existe na Natureza necessita de uma energia que precisa ser renovada constantemente. É assim com a nossa energia vital, com os ciclos da Natureza e com os nossos projetos pessoais.

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Como uma magia silenciosa, há um ritmo para cada coisa que se alterna no levar para dentro de si e gestar e depois trazer o resultado para fora e ofertá-lo. Simbolicamente, o ciclo só acontece se os dois processos – de dentro e de fora – estiverem se alternando harmonicamente. Isso é oxigenar, renovar e manter a Vida em expansão. Portanto, aqui não cabem extremos, nem só dentro e nem só fora.

Como já dissemos, os nossos projetos pessoais também funcionam de forma semelhante. Um Indivíduo que só tem projetos internalizados e não parte para a execução, dificilmente poderá avaliar a sua eficácia na realidade. Da mesma forma, um outro Indivíduo que prioriza a ação e executa sem planejamento certamente terá que lidar com muitos inconvenientes e gastará muita energia nas resoluções de problemas, que poderiam estar previstos no planejamento. Por isso, trabalhar o ritmo das nossas energias e a sua renovação pode nos ajudar a encontrar aquela ideia que estava faltando, solucionar um problema que parecia ser enorme ou adquirir a motivação necessária para continuar em frente após uma derrota.

Por fim, partindo do pressuposto de que o Indivíduo está Uno com a Natureza e com as suas Leis, tudo o que ele se proponha a fazer estará inserido nesse ciclo rítmico. Aqueles que despertam para isso conseguem se conectar e ajustar o seu compasso ao ritmo da Natureza e, por conseguinte, essa Harmonia permite que seus projetos tenham grandes possibilidades de serem realizados. Consequentemente, aprenderão a respirar verdadeiramente e renovarão a sua energia vital. Mas, antes de realizar qualquer empreendimento na Vida, precisamos decidir quem somos: se somos do time que busca Harmonizar-se com a Vida ou se lutamos contra ela. Depois dessa decisão, façamos o que temos de fazer.

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