O que nos dizem as músicas?

A música é para muitos a primeira das Artes, não só cronologicamente falando, mas principalmente pela força contida em suas mensagens e pela facilidade que ela tem de nos emocionar. 

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 Se utilizando do poder quase hipnótico dos sons harmônicos ordenados pelas Leis da Música, os seus mestres, poetas e pensadores, conseguem nos abrir a consciência para as mensagens contidas em uma obra musical. Ela nos fala de Amor, paixões, tristezas, desenganos, alegrias, sonhos e esperanças de uma maneira poética, delicada ou agressiva, ao sabor do estado de espírito dos seus criadores. Por isso, separamos algumas canções consagradas em nosso país para analisarmos o sentido profundo de alguns de seus versos. 

Na canção “Caçador de mim”, o artista Milton Nascimento canta os seguintes versos:

“Por tanto amor, por tanta emoção a vida me fez assim.
Doce ou atroz, manso ou feroz. Eu, caçador de mim…“

Em poucas frases essa canção nos mostra que a busca pelo autoconhecimento é uma “batalha” sem fim. Que todas as experiências vividas estão sempre nos lapidando, e que não adianta temer essa “luta”, nem tentar fugir dela, pois, a própria Vida irá se encarregar de colocar em nossos caminhos todos os desafios que precisamos para realmente crescer. Ele nos fala que o apego e as ilusões de nossas paixões podem nos afastar do nosso verdadeiro lugar, ou seja, de nós mesmos. E finalmente, diz que podemos ir muito longe quando descobrirmos o que realmente nos motiva, o que nos torna caçadores de nós mesmos. 

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Esse deve ser o foco: a busca pelo entendimento da nossa própria realidade. Qual o meu papel dentro do contexto da Humanidade e de toda a Natureza, e qual o combustível que faz essa “máquina” funcionar? Sabendo o que nos move e como devemos nos mover, a “linha de chegada” não é tão longe assim. O importante sempre será a caminhada e o constante crescimento que podemos conseguir alcançar durante o trajeto, enquanto vislumbramos um horizonte cada vez mais próximo dos nossos ideais. Nossa missão deve ser tentar descobrir o que nos faz sentirmos caçadores de nós mesmos, de nossa essência.

Outra bela canção chamada “Deus me proteja de mim” do artista paraibano Chico César e do pernambucano Dominguinhos canta os seguintes versos: 

“Deus me proteja de mim
e da maldade de gente boa,
da bondade da pessoa ruim.
Deus me governe e guarde,
ilumine e zele assim…”

A canção fala da importância de uma constante conexão com o que há de Sagrado em nós. Todas as influências que sofremos das pessoas com quem interagimos, seja pelo comportamento ou pelas opiniões, podem nos afetar, às vezes de maneira negativa. Nesse caso a nossa reflexão é sobre o fato de que nada chega até nós sem que já não nos pertencesse antes. Tudo o que vemos no outro e recebemos dele, é nosso. É a nós mesmos que devemos tentar melhorar. Óbvio que devemos nos cuidar, mas o que realmente nos protege é estarmos presentes, conectados com o agora.

A mesma canção tem outro verso que diz que o “caminho se conhece andando” e isso nos faz concluir que devemos continuar caminhando, tentando e tentando, sempre atentos. E o crescimento pessoal conquistado com os ensinamentos da vida nos tornarão capazes de captar apenas as vibrações a que estamos sintonizados. 

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“Perigo é se encontrar perdido. Deixar sem ter sido. Não olhar nem ver…“ e “Bom mesmo é ter sexto sentido… espalhar bem-querer…” Essas palavras contidas nesta bela canção também nos fazem perceber que toda a proteção que precisamos está em nós mesmos, na nossa capacidade de purificar os nossos pensamentos, atitudes e posturas. Ela nos lembra uma antiga doutrina que nos apresenta o “Deus” que habita em nosso interior, parafraseando a canção, nos governando, guardando, iluminando e  zelando.                                                                                                                        

Já em “Gita”, do irreverente Raul Seixas, temos Pérolas de Sabedoria musicalizadas:

“EU sou a luz das estrelas,
EU sou a cor do luar,
EU sou as coisas da vida,
EU sou o medo de amar…”

A canção nos leva a uma profunda e fascinante viagem ao interior do nosso Ser. Se utilizando dos versos do “Bhagavad Gita”, texto da tradição hindu, Raul Seixas  nos lembra desses infinitos conflitos entre todos os “Eus” que tentam nos governar. A batalha no Campo de Kurukshetra, citada no épico Hindu, é literalmente uma batalha que ocorre dentro de cada um de nós. São todos os nossos dilemas colocados à prova na nossa Vida a cada segundo, na tentativa de encontrarmos uma Virtude que possa superar todas as fraquezas, e nos conduzir à vitória.

 “Eu sou a vela que acende. Eu sou a luz que se apaga. Eu sou a beira do abismo. Eu sou o tudo e o nada…” Todos os extremos estão em nós, e isso nos leva para lados opostos da razão. Por isso sofremos, não nos governamos, ou fazemos de tudo para que até mesmo os nossos desejos mais nefastos sejam satisfeitos. Não aceitamos sequer a opinião dos outros, e nos achamos em qualquer situação, únicos, tanto os melhores quanto os piores em tudo. Enfim, quando vem a compreensão de que fazemos parte de todas as coisas, e elas de nós, que a eternidade depende do momento presente e que cada pequena coisa influencia o todo e vice-versa, podemos entender que não temos outra alternativa, se não cumprirmos com a nossa função para o melhor funcionamento de todas as coisas, pois: “Eu sou o início, o fim e o meio…”  

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Por fim, artistas também são pessoas. Essa afirmação parece lógica, mas o que queremos dizer é que eles, assim como nós, também têm suas dúvidas, certezas, fraquezas e fortalezas. Quando compartilham suas vivências através de sua Arte, entretanto, estão generosamente nos trazendo ensinamentos captados em uma dimensão sutil e superior de uma maneira lúdica e abstrata, que às vezes um olhar puramente racional, por incrível que pareça, não é capaz de nos mostrar. São como pontes que ligam ideias e sentimentos elevados ao mundo. E se escutarmos com mais atenção nossas músicas preferidas, talvez encontremos mensagens muito mais profundas do que aquelas que nos alcançam em um primeiro momento. A “impressão digital” da Alma do artista, com toda a certeza, se encontra registrada em sua obra. Graças a isso eles nos dão a oportunidade de enxergarmos o mundo através de seus olhos, avaliarmos situações e até, quem sabe, resolvermos muitas das nossas questões por termos conseguido compreender a realidade, amparados por um outro ponto de vista.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

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