O Que Fazer com a Liberdade?

A humanidade clama por liberdade. Essa talvez seja a palavra mais repetida no nosso mundo atual. Queremos liberdades de todos os tipos: expressão, sexual, ideológica etc. Entretanto, sabemos exatamente o que é liberdade? E se a possuímos, somos capazes de utilizá-la bem?

Mãos libertas quebrando correntes com fundo ensolarado.
A liberdade como símbolo de escolha e superação.

Em geral, achamos que ser livre está na possibilidade de tomar decisões por conta própria. Desse modo, quando vamos a um shopping, por exemplo, temos a liberdade de comprar o que desejamos com o dinheiro que possuímos, correto? Em parte, isso é verdade; porém, engana-se quem pensa que ser livre está relacionado à opção de escolher. Até mesmo nesse exemplo, nossa liberdade não é total, uma vez que existe um limite, que, no caso, é o nosso dinheiro. Sendo assim, a liberdade não é apenas a escolha, mas a capacidade de poder escolher. 

Aqui encontra-se um dos pontos principais a pensarmos antes de refletirmos sobre a liberdade: se só somos livres quando podemos escolher, será que alguma vez fomos livres? Ou, ao contrário do que o senso comum nos apresenta, somos todos presos, e a falsa sensação de liberdade é apenas o espaço entre as barras que compõem nossa prisão? É o que vamos descobrir hoje.

O dilema do sonho da liberdade

Quando você, meu caro leitor, pensa em liberdade, o que lhe vem à mente? A imagem de um pássaro voando em um céu claro e sem nuvens? Essa é uma analogia muito comum quando falamos desse tema, entretanto, mais uma vez, o senso comum nos coloca em outra armadilha. Basta pensarmos que o pássaro, enquanto uma ave, não possui escolha alguma a não ser voar. Logo, essa imagem é a liberdade ou a prisão? Uma vez que o pássaro não pode escolher, não existe liberdade para ele a não ser a de seguir seu próprio destino.

Pássaro voando livre em um céu azul sem nuvens.
O voo do pássaro: liberdade ou destino?

O mais interessante é que o pássaro, assim como qualquer outro animal que segue seu destino, se realiza sendo o que nasceu para ser. Ele não necessita da escolha para ser o que a sua natureza determinou. Visto isso, por que achamos que essa imagem está relacionada com liberdade?

Podemos inferir que a imagem em si contempla algo que o ser humano, enquanto espécie, não alcança, mas que lhe traz a sensação do que poderia ser. Isso porque, diferentemente do pássaro, somos capazes de escolher, decidir se seguiremos nossa natureza ou não. Ao ser humano foi concebido o livre-arbítrio; até onde sabemos, o único ser na natureza com essa capacidade. Isso significa, em resumo: somos capazes de observar a nós mesmos e decidir se seguiremos nossa natureza humana ou não. 

Nos mitos, sempre se coloca o ser humano nessa encruzilhada, e há vários deuses e heróis que representam essa dúvida. Essa dualidade de diferentes caminhos se apresenta também no que se refere ao próprio ser humano, que nas diferentes culturas é visto como um ser de dupla natureza: uma terrena e material, e outra celeste e espiritual. Sendo assim, nossa liberdade está unicamente em fazer essa escolha, mas, para tanto, é preciso estarmos conscientes desse dilema que nasce no coração de cada ser humano, mas que muitas vezes é soterrado pelas pressões do mundo material.

Dessa maneira, uma realidade comum que vivemos é a de que acreditamos que a liberdade está apenas no plano material, no qual eu decido qual restaurante irei frequentar, o tipo de música que quero escutar ou os prazeres que mais me apetecem. No fundo, nada disso é uma escolha, mas apenas várias opções que nos mantêm prisioneiros do mundo da matéria. Assim, resgatando a analogia do prisioneiro em sua cela, essa liberdade que acreditamos ter é apenas escolher em que local da cela iremos deitar, mas ainda continuamos presos.

Pessoa olhando para o horizonte através de barras de prisão simbólica.
A falsa sensação de liberdade no plano material.

Por isso que no mundo atual, em que a liberdade nunca foi tão vivida como agora, ainda nos sentimos presos. Pois, apesar de poder escolher tudo fora, há uma prisão em nosso peito que ainda não aprendemos a nos libertar. Esse é o sonho da verdadeira liberdade, que só pode nascer quando possuímos a consciência da nossa verdadeira batalha e que não é, definitivamente, no plano material. Tanto faz, no fim das contas, nossa conta bancária, a casa em que moramos, os livros e filmes que assistimos, pois se nossa escolha não está voltada para realizar nossa natureza humana, ainda continuaremos sentindo-nos como prisioneiros em nosso corpo físico.

Como buscar a liberdade?

Devemos entender que a busca pela liberdade é, no fim das contas, a busca por si mesmo. Ao longo da vida nos afastamos de nossa essência humana devido a muitos fatores, desde traumas e experiências que foram mal compreendidas, até condicionamentos sociais e outra série de fatores que nos afastam de nós mesmos. No seu lugar, acabamos vestindo uma máscara, criamos uma personalidade que seja bem aceita nos termos sociais, ao passo que alimentamos vícios e desejos passageiros. 

Caminho bifurcado representando escolhas espirituais e materiais.
O dilema humano entre valores espirituais e materiais.

Desse modo, achamos que a liberdade é poder viajar pelo mundo, comprar aquilo que deseja ou mesmo não obedecer nenhuma lei. Quando, no fundo, a liberdade só pode ser vivida quando compreendemos perfeitamente nosso papel no mundo, seja social ou no cosmos, e nos realizamos obedecendo aos ditames que a natureza nos impõe. Seguir nossa natureza humana, ou seja, viver racionalmente e sob o comando de valores atemporais, é a verdadeira liberdade, que pouco – para não dizer  nada – tem a ver com a satisfação incessante dos desejos.

Como buscar essa tal liberdade, então? Será que devemos abrir mão de todos os nossos bens materiais? Não! A liberdade não precisa de doações ou abstinências da nossa vida. Basta colocarmos um sentido espiritual em nossa existência e perceber a beleza por trás de nossas escolhas. No fundo, a grande escolha de nossa vida é essa: vou alimentar valores espirituais ou valores materiais?

Para sermos claros, chamamos de “valores espirituais” tudo que perpassa o ser humano positivamente e não pode ser quantificado. São os arquétipos de que Platão falava em sua República, como a Justiça, a Bondade, a Beleza, a Verdade. Quando colocamos o sentido de nossa vida nesses valores, a nossa liberdade está em segui-los, apesar das dificuldades. Assim como o pássaro só pode voar, um ser humano deveria não ter outra opção a não ser seguir os seus melhores valores. Porém, somos livres e, por isso, podemos continuar escolhendo os valores materiais, aqueles que, como o nome já diz, buscam o acúmulo daquilo que a matéria valoriza.

Assim, há quem coloque seus valores no dinheiro, no capital, nas emoções ou mesmo na sua beleza física, sem conseguir construir um legado atemporal. Esses valores, tal qual castelos na areia, tendem a desaparecer com o passar das gerações. Já os valores espirituais se assemelham a sementes, que, plantadas em um terreno fértil, podem gerar uma frondosa árvore e doces frutos ao longo do tempo. Qual desses valores queremos escolher?

Uma imagem simbólica mostrando um castelo de areia sendo lavado pelas ondas ao lado de uma árvore frutífera crescendo em solo fértil, representando a escolha entre valores materiais e espirituais.
Valores transitórios e eternos: um castelo de areia efêmero e uma árvore frutífera duradoura.

Essa é a nossa única e incondicional escolha existencial. Eis o ser humano e seu dilema mais importante. Todo o resto é variável e está sujeito à mudanças devido à intempérie da nossa própria existência.  Por isso, a liberdade sempre foi algo muito valioso para o Ser Humano, uma verdadeira pérola perseguida independente da cultura ou época em que viveu.

Do mesmo jeito, o dilema de se sentir um prisioneiro de si mesmo, dos seus vícios e hábitos também é uma das dores mais profundas que podemos sentir. Não por acaso, os mitos e as tradições religiosas tratam o livre-arbítrio como uma verdadeira dádiva, um presente dos deuses, mas também como uma maldição, pois pode nos transformar na pior das bestas. 

Por fim, após colocarmos essa reflexão, deixamos um vídeo especial para que você possa refletir sobre este tema e tirar suas próprias conclusões sobre a verdadeira liberdade que devemos almejar.

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