Uma antiga doutrina filosófica nos fala que a mente é o atributo mais poderoso do Universo. De acordo com essa doutrina, tudo nasce nessa dimensão mental e dela surgiram os demais aspectos da natureza. Para o leitor mais cético, essa pode ser uma teoria infundada, e, de fato, não há base científica que confirme, até então, essa ideia. Porém, é um fato que toda ação humana nasce em sua mente, a partir de ideias e comandos a que ela responde. Platão, o grande filósofo grego do século V a.C, já nos apontava essa mesma percepção através de sua teoria das ideias, que diz que todo o Universo visível e mensurável é apenas a sombra do visível e imensurável.
Vamos tornar essa ideia mais prática com exemplos: todos nós seguimos um ideal de vida, seja em termos de sucesso financeiro, uma boa relação familiar etc. Essa premissa molda nossas ações e comportamentos para que possamos alcançar esse ideal, correto? Sendo assim, as nossas ações não são frutos de si mesmas, mas apenas a consequência de um pensamento que nos guia através das experiências. Percebe, assim, como a mente influencia em nossas tomadas de decisão?
Visto isso, vamos um pouco além: será possível que uma ideia seja capaz de influenciar um grupo de pessoas, ao ponto de o que é gerado por uma pessoa possa ser captado por outra? Não estamos falando de uma ideia que é massificada, como geralmente acontece por meio da propaganda, mas sim de uma força capaz de conectar outros seres humanos apenas pela mente. Parece uma cena de ficção científica, não é mesmo? Apesar de realmente parecer uma ideia maluca, essa teoria está sendo testada atualmente. Estamos falando da “teoria dos campos mórficos”. Você já ouviu alguma coisa dela?
Para explicar essa teoria, vamos inicialmente pensar no seguinte cenário: entreguem um smartphone novo a uma criança de sete ou oito anos e observem a velocidade com que ela aprende a manuseá-lo. Agora, voltem no tempo, imaginem que fosse possível nos anos setenta vocês fazerem a mesma coisa: entregar um smartphone a uma criança de sete ou oito anos. Será que aquela criança dos anos setenta teria a mesma rapidez e desenvoltura para aprender a manuseá-lo? O que está acontecendo com as crianças de hoje? Por que são tão velozes no trato com a tecnologia?
Agora pensem no mundo animal. Já observaram que os gatos têm comportamentos semelhantes, em lugares diferentes e em épocas distintas? Todos os gatos gostam de entrar dentro de malas, bolsas e qualquer coisa que lembre uma toca, por exemplo. Por que isso acontece? Por que padrões de comportamentos começam a ser repetidos por membros de uma mesma espécie, sem que haja comunicação direta entre eles?
Se vocês conseguiram despertar curiosidade em torno dessas questões, então estão começando a captar o ponto de partida do que são os espaços mórficos. A palavra morphé, do grego, significa forma. Tudo que se manifesta diante dos nossos olhos, ouvidos, paladar e tato é dotado de formas, padrões. Por exemplo, uma laranja tem uma forma, um padrão que se repete em todas as laranjas do planeta, ainda que não estejam em contato direto umas com as outras. Se um pé de laranja começar a produzir um fruto neste momento, o fruto irá reproduzir o mesmo padrão estético e essencial de todas as laranjas do mundo. Como se explica isso?
Por muito tempo, a ciência investigou a causa das formas através da leis físicas, biofísicas e bioquímicas. Para tanto, precisou classificar as partes que compõem os organismos; por isso, quando estudamos biologia na escola, seguimos um programa de estudo com vários compartimentos: o seguimento da citologia estuda as células, o seguimento da histologia os tecidos, a anatomia estuda as estruturas corporais e subsequentemente se tem uma diversidade de compartimentos, em que cada caixinha guarda o seu conjunto de fenômenos. Em que pese os grandes avanços a que este jeito de estudar nos permitiu chegar, é certo que há muitas lacunas, muitas perguntas sem respostas.
Foi justamente por conta dessas perguntas sem respostas, provenientes dessas lacunas do conhecimento científico, que um cientista britânico chamado Rupert Sheldrake – pesquisador nas áreas de bioquímica e fisiologia vegetal, com experiência nas maiores universidades do mundo, como Harvard e Cambridge – começou a investigar a causa das formas a partir de uma abordagem holística. Holismo vem de hólos, do grego, que significa todo. Assim, ele começou a fazer experiências que considerassem todos os elementos envolvidos, e não apenas segmentos específicos. Ele começa a partir da premissa de que as leis bioquímicas são incontestáveis, mas não atuam isoladamente, há um campo morfogenético que dá origem às formas. Um processo físico-químico pode seguir milhões de caminhos diferentes, mas é conformado a determinado padrão em razão de um campo invisível, não material, que lhe rege, que lhe conduz a um resultado específico. É assim que nascem as formas, na visão de Sheldrake.
E como nascem esses campos? Não se sabe exatamente, mas é possível perceber que uma necessidade pode gerar um hábito para um membro de uma espécie, e esse hábito pode começar a determinar um padrão para toda a espécie. Por exemplo, em uma floresta, uma determinada planta precisa aprofundar mais suas raízes para alcançar mais nutrientes. O campo mórfico dessa planta assimila esse comportamento e começa a transmitir essa informação. Depois de algum tempo, o mesmo comportamento começa a ser detectado em todas as plantas da mesma espécie em todo o planeta. Essa transmissão da informação é o que se chama de ressonância mórfica.
Depois que Sheldrake começou a escrever sobre campos mórficos, diversas experiências vêm sendo realizadas para testar essa hipótese. Uma das mais interessantes foi realizada pelo Dr. Arden Mahlberg, psicólogo de Wisconsin. Ele pegou duas pessoas que não sabiam nada sobre código morse e começou a ensinar separadamente cada uma delas a ler o código morse, mas com uma diferença: para uma delas, o padrão de código morse era o universalmente usado; e, para a outra, era um padrão diferente, que ninguém conhecia. Tal foi a surpresa ao perceber que o padrão já conhecido da humanidade era rapidamente assimilado pelo aprendiz, já o desconhecido era aprendido com muita dificuldade.
O próprio Sheldrake fez experiências com ratinhos de laboratório, os quais eram ensinados a sair de um labirinto e logo se percebia que outros ratinhos começavam a demonstrar muita habilidade também em outros labirintos.
A teoria dos campos mórficos ainda não é aceita pela comunidade científica, alguns a chamam de pseudociência. No entanto, faz muito sentido e nos apresenta muitas respostas. Precisamos vê-la como um horizonte, uma possibilidade. Ainda que não seja exatamente como vem sendo formulada e reproduzida em tantos livros, a teoria dos campos mórficos, no mínimo, já nos sinaliza que tem algo misterioso na integração de todos nós e de todos os seres que existem.
De certo modo é como se uma teia invisível ligasse todos os seres e de algum modo fôssemos capazes de nos conectar. Essa ideia quando aplicada em nosso cotidiano pode nos ajudar a melhorar nossas relações sociais, uma vez que uma mudança de comportamento e pensamento, seja em relação a uma atividade ou pessoa, pode ser capaz de influenciar o meio em que estamos inseridos. Assim, a teoria dos campos mórficos pode ser entendida como uma capacidade de criar um ambiente a partir de nossa postura interna, pois isso mostra como os nossos comportamentos e os nossos hábitos, ressoam para além dos nossos círculos individuais.
Portanto, o que se faz no mais recôndito de si reverbera para muito além dos próprios limites. Isso implica, naturalmente, em nosso dever para com as nossas ações, afinal, podemos influenciar negativamente as pessoas ao nosso redor, mesmo que indireta e inconscientemente. E não precisamos da teoria dos campos mórficos para comprovarmos esse fato: nossa conduta em meios sociais irá reverberar, tanto positivamente como negativamente, dentro daquele ambiente. O exemplo que passamos e a postura que tomamos frente a uma situação influenciam e inspiram as pessoas ao nosso redor. Desse modo, precisamos estar sempre atentos para que cada vez mais possamos conduzir nossa Vida de maneira exemplar, a fim de que, ao final dessa jornada, possamos olhar para trás e constatar quantas sementes foram plantadas por meio de nossa postura perante a Vida.