Você já ouviu a frase “Eu só acredito vendo”? Em geral, ela nos revela alguém cético que busca comprovar o que é real apenas baseado nos nossos sentidos. Porém, há um grande problema quando buscamos entender o mundo dessa maneira. Isso porque os nossos sentidos são extremamente limitados, o que, naturalmente, fará com que tenhamos uma compreensão limitada do Universo que nos cerca.
Todos os nossos sentidos podem ser burlados. Não por acaso, as ilusões de ótica, tão famosas nas aulas de Física, são um exemplo clássico de como não podemos dar crédito absoluto às nossas percepções. Se considerarmos de um ponto de vista mais científico, notamos que nossa visão atende apenas a uma pequena faixa do espectro da luz, mais precisamente o que vai da luz violeta até à vermelha. Entretanto, há outra série de frequências que não podemos observar, como o ultravioleta, e também frequências que estão abaixo do vermelho, chamadas de infravermelho.
O mesmo ocorre com nossa audição, uma vez que alguns animais, como cachorros e gatos, são capazes de escutar sons inaudíveis aos nossos ouvidos. Assim, é completamente aceitável afirmarmos que a realidade está muito além dos nossos sentidos. Em um aspecto mais profundo, o principal acesso à realidade que podemos obter é através da nossa razão, que não apenas decodifica o que é captado por nossos sentidos, mas nos possibilita investigar os fenômenos naturais, sejam eles observáveis com os nossos sentidos ou não, de maneira mais especulativa.
Sendo assim, entre o visível e mensurável, e o invisível e o imensurável há uma grande zona cinzenta, na qual podemos acessar através da busca pela Sabedoria, mas que em diversos momentos será um verdadeiro mistério para nós. Um desses grandes mistérios é a Aura, na qual diversas tradições, tanto orientais como ocidentais, afirmam que existe e que faz parte da constituição humana. Porém, o que seria, de fato, essa enigmática energia?
Antes de entrarmos neste assunto, é importante ressaltarmos a importância de mantermos nossa mente livre de julgamentos ou preconceitos. Dizemos isso porque, apesar de ser um termo que nos dias atuais, geralmente, é associado às práticas místicas e que não são diretamente corroboradas pelo método científico, a ideia de que essa energia flui por todos os seres humanos é tão antiga quanto a própria humanidade. Visto isso, devemos, no mínimo, refletir sobre o seu significado, mesmo que não sejamos adeptos dessa visão de mundo.
Dito isso, comecemos pela etimologia da palavra Aura. Advinda do Grego, seu significado literal é “vento suave e gentil”. Sua definição relacionada com o vento é interessante, pois tanto a Aura quanto o vento não podem ser vistos. No entanto, de acordo com os antigos Gregos, ambos podem ser sentidos. Em linhas gerais, a “Aura”, nessa antiga tradição, seria um fluxo de energia que envolve o nosso corpo como um campo magnético. Ele seria composto de uma matéria sutil e invisível aos nossos sentidos, mas que ainda poderia ser notada pelas pessoas mais sensíveis.
Fazendo um paralelo com nossa Cultura Popular, quem de nós nunca percebeu que um amigo estava triste sem ele expressar nenhum tipo de incômodo? Os mais céticos poderão dizer que a nossa linguagem corporal denuncia quando estamos em estados de ânimo baixo, porém há pessoas que escondem com maestria as suas emoções e, mesmo assim, ainda são alvo desse tipo de percepção. É evidente que nem todos percebem de forma consciente essa energia, mas, conscientes ou não, estamos interagindo com ela.
De acordo com as Tradições Orientais, essa energia que chamamos de Aura está diretamente ligada às nossas emoções e pensamentos, podendo mudar de cor, expandir ou retroceder a depender do nosso estado psicológico. Desse modo, ela não seria estática e presa a uma forma, mas estaria constantemente em mutação, como uma expressão “viva” da nossa psique. Essa energia ainda teria um reflexo visível em nossas ações, pois poderia nos encher de vitalidade ou sugar nossa energia. Se levarmos isso em consideração, podemos perceber, por exemplo, que nossas emoções modelam, em grande parte, a energia que desempenhamos em uma atividade. Basta observar a nossa empolgação quando estamos fazendo algo que gostamos e comparar quando estamos realizando uma tarefa que não nos agrada.
Assim, mesmo para aqueles que não acreditam em Aura, é nítida a ideia de que as nossas emoções modificam a energia que colocamos nas atividades. Desse modo, mesmo que não estejamos inclinados a aceitar a existência da Aura como um fato, podemos utilizá-la como um símbolo em nossas vidas. Porém, será que existe uma explicação mais científica que compreenda a ideia de Aura?
A resposta, em síntese, é sim, mas vamos explicar. Uma das principais teorias que apresentam uma resposta científica para a ideia de Aura está nos estudos de campos eletromagnéticos. De acordo com a Física, um campo magnético é formado quando uma energia (geralmente elétrica) passa de um pólo ao outro, formando um circuito que circula de maneira fechada. É dessa maneira, por exemplo, que o nosso planeta mantém seu campo eletromagnético que nos protege da maior parte da radiação solar. Levando o mesmo conceito para o corpo humano, considera-se que o nosso cérebro, responsável por milhões de impulsos elétricos em seu funcionamento, pode criar um campo eletromagnético. Isso porque o cérebro manda tais sinais para o corpo através do nosso sistema nervoso, e o corpo, por sua vez, também se comunica com o cérebro através desses mesmos impulsos. Assim, é comprovado que em nosso organismo circula um mini campo magnético.
A dúvida, portanto, é saber se essa energia ultrapassa nosso corpo e se torna externa. Frente a isso, uma nova descoberta científica afirma que existe sim essa propriedade humana que circunda nosso corpo. Chamada de “expossoma”, ela seria formada não apenas por esse campo magnético, mas também por micro-organismos e outras partículas que seriam atraídas por essa força. Desse modo, teríamos elementos nos “orbitando”. Tão interessante quanto essa descoberta foi o fato de que duas pessoas, expostas ao mesmo ambiente, formavam expossomas diferentes, atraindo quantidades de partículas distintas. Isso significa dizer que essa relação de atração/repulsão das partículas pode estar diretamente envolvida com a maneira como se forma nosso campo magnético. Ou seja, ele, assim como a Aura das antigas tradições, não é um elemento estático.
É claro que o expossoma ainda é um conceito relativamente novo e que muitas lacunas ainda precisam ser fechadas, entretanto, é, no mínimo, curioso como as coincidências que as propriedades do campo magnético individual têm com a Aura. Ainda assim, esse é um assunto que segue um mistério para a humanidade.
Em outras tradições, a Aura era considerada um elemento sagrado, próprio dos Santos e dos Sábios. Envolta desses seres quase Divinos se resplandecia essa luminosa presença. Na tradição Católica, por exemplo, os Santos tinham uma auréola ao redor da sua cabeça, sinal de sua santidade e entrega ao serviço de Deus. Já em tradições mais esotéricas, a Aura tinha diferentes cores, sendo essas variações de acordo com o nível espiritual de cada pessoa.
Como podemos notar, por diversos caminhos, tenta-se encontrar uma definição precisa para essa energia. Mesmo que pela via religiosa ou científica, o fato de que há elementos na natureza que não podemos perceber com os nossos sentidos é crucial para estarmos abertos a entender sobre a Aura. Lembremos do dito popular que nos fala “Não é porque não podemos ver algo que ele não exista”. O que nos cabe, portanto, é seguir caminhando e investigando acerca desse assunto e, acima de tudo, perceber suas pistas no nosso cotidiano.
Se, por exemplo, entramos em um lugar e não nos sentimos bem, seria absurdo achar que ali exista uma energia que nos afete negativamente? De igual modo, quando adentramos a um templo ou ambiente mais voltado ao sagrado, será que é uma questão puramente estética que desperta em nós uma boa sensação? Não nos cabe especular acerca desses mistérios, mas sim vivê-los. Acreditando ou não na Aura, é inegável o fato de que os nossos olhos jamais poderão nos mostrar a natureza em sua máxima beleza. Portanto, façamos com que a verdade do Universo seja vista pelos nossos sentidos internos, a nossa razão mais refinada, e que percebamos, de maneira intuitiva, todo o mistério que preenche nossas vidas.