Bem-vindos a mais um capítulo da série “Gêneros Musicais”! Neste texto, vamos explorar a música pop, um dos gêneros mais influentes da história, e entender como ela moldou culturas, comportamentos e se tornou um espelho da sociedade moderna. Aqui falamos sobre como os diferentes estilos de música, em sua trajetória no tempo e na relevância, influenciam pessoas e despertam em cada um de nós emoções e sensações distintas.
Hoje vamos nos debruçar sobre o “pop”, um estilo um tanto quanto controverso, amado e odiado por muitos. Apesar dessa dualidade, é fundamental entendermos o que estamos chamando de “pop” e o que caracteriza esse estilo musical, que perpassa outra série de artes, mostrando toda versatilidade e capilaridade social que só a música consegue ter.
Entretanto, antes de adentrarmos a este universo, recomendamos fortemente aos leitores que ainda não conhecem a nossa série que leiam o nosso texto de introdução. Nele abordamos as ideias principais e nossos objetivos com mais clareza, para que assim seja possível compreender as nuances e pressupostos dos quais partimos antes de analisarmos cada gênero musical. Você pode ter acesso a esse texto introdutório clicando aqui.
O que é o pop?
Essa pergunta é, talvez, uma das mais importantes para começarmos nossa reflexão sobre o valor da música pop. Do ponto de vista musical, o pop (abreviação para a palavra “popular”) é uma linguagem sonora que nasce da mistura e da adaptabilidade. Essas duas características são a essência do pop, pois, como veremos, a cada década esse estilo ganha novas formas e cores, mostrando assim sua capacidade de seguir e ditar as tendências da sociedade.

Ele não é um estilo fechado, mas sim um território em constante mutação, absorvendo elementos do rock, da música eletrônica, do funk, do hip-hop e até do folk, conforme as tendências culturais de cada época. Musicalmente, o pop é caracterizado por refrões marcantes, melodias “grudentas” e uma produção refinada que prioriza a estética e a capacidade de mexer com o público. Nesse sentido, esse tipo de música tem uma forte tendência comercial por conseguir “grudar” na mente dos ouvintes, com letras e melodias fáceis de decorar e reproduzir.
Porém, mais do que um gênero musical, o pop é um modo de fazer música que dialoga diretamente com o presente, com as massas e com os sentimentos universais. Para alguns críticos, esse tipo de música é uma forma de “alienação” da população, para outros a música pop é uma forma de arte complexa e capaz de traduzir as ideias de um mundo que, por força do tempo, está a toda hora em constante mudança.
Observando a partir deste ponto de vista, a música pop carrega um universo inteiro de significados, sons, histórias e ídolos. Não podemos resumi-lo em batidas fáceis, refrões chicletes e videoclipes coreografados, apesar dessa ser uma parte real e inegável do gênero. Entretanto, por trás desse verniz comercial reside um fenômeno cultural complexo e multifacetado que vem moldando gerações desde o século XX. Vamos conhecer um pouco da sua origem agora.
A origem e evolução da música pop
Antes de o mundo chamar esse fenômeno de “pop”, ele já existia sob outras formas. Suas origens estão imersas na intersecção entre gêneros populares dos Estados Unidos e do Reino Unido: o jazz, com sua improvisação; o rock, com sua rebeldia; o soul, com sua espiritualidade; e o folk, com suas narrativas cotidianas. Todos esses gêneros musicais, dentro dos seus nichos e contextos, ajudaram a formatar a música durante os primeiros cinquenta anos do século XX.
Porém, ao chegarmos nos anos 1950, o termo “popular music” passou a se referir àquilo que era produzido para atingir grandes públicos. O contexto de um mundo pós-guerra, agora conectado não apenas pelos rádios, mas também pela televisão, fez com que a arte se difundisse de modo ainda mais rápido e crescente. Assim, a imagem (e não somente a música) passou a ser algo fundamental ao pensar em uma produção musical.
É nesse cenário que a música pop começa a ganhar os seus primeiros contornos. Assim, apesar de ser feita para agradar o grande público, o pop não se chamava assim por ser necessariamente “simples” ou “vendável”, mas porque falava diretamente ao coração da juventude. Enquanto as novas tecnologias abriram caminho para que artistas alcançassem massas como nunca antes, a música deixou de ser vista como um consumo local, feita por artistas da região e apenas para um público específico, e passou a alcançar todo o país, até mesmo o mundo, dando assim uma dimensão global para a arte.
Foi nessa década que o mundo assistia ao nascimento de um novo tipo de ídolo: o astro pop. Elvis Presley não foi apenas um cantor; ele foi um terremoto cultural. Com sua voz rouca e sua dança provocadora, Elvis sintetizava a rebeldia juvenil e o desejo de liberdade que fermentavam nas novas gerações do pós-guerra. Rapidamente se tornou um fenômeno em todo o mundo, sendo imitado tanto no Oriente como no Ocidente. Era o primeiro ícone da música pop, cantando um tipo de estilo de rock nascente. Assim, o pop, com sua adaptabilidade, ia dando voz a outros estilos e lançando-os no mundo, ditando uma moda que, sem perder suas características, alçava voos conjuntos com outros gêneros.
A televisão, como já citamos, teve papel crucial aqui. Pela primeira vez, milhões podiam ver seus ídolos em ação. A música deixava de ser apenas som; tornava-se imagem, gesto, performance. A cultura pop começava a se consolidar como uma experiência completa, onde o visual e o sonoro se fundem em algo maior que a soma das partes.
Se os anos 1950 lançaram os alicerces, os anos 1960 ergueram a estrutura definitiva. A invasão britânica, com os Beatles à frente, transformou o pop em fenômeno global. O quarteto de Liverpool não só dominou as paradas como também revolucionou o modo de compor, gravar e consumir música. O pop se tornava, ao mesmo tempo, acessível e inovador. Não por acaso, ainda hoje os Beatles são vistos como a maior banda de rock de todos os tempos, por lançar o estilo ao mundo e consagrar uma nova forma de consumir música. O pop, nessas duas primeiras décadas, conseguiu manter uma tendência que até hoje é seu grande diferencial: o de moldar gerações inteiras.
Nos anos 1970, a música pop consolidou-se como um verdadeiro império cultural. Com a popularização dos LPs e a expansão dos programas musicais na TV, o pop alcançou novos territórios e começou a influenciar estilos de vida em escala planetária. O que antes era um fenômeno essencialmente anglo-americano passou a ser adaptado, reinterpretado e celebrado em diferentes partes do mundo.
Nessa década, surgem nomes que mudariam para sempre a indústria, como Michael Jackson, ainda jovem nos Jackson 5, e que logo iniciaria uma carreira solo meteórica. Michael não era apenas um cantor. Ele representava uma nova figura: o artista pop como marca, como ícone estético, como símbolo social. Cada passo de dança, cada figurino e cada clipe tornavam-se tendências globais. O pop começa a agregar não somente a música, mas também a dança e assim nascia as coreografias e performances, que são outra marca indelével desse estilo.
Paralelamente, a disco music, um estilo musical que ganhou o mundo pop ao longo dos anos 1970 e 1980, trazia para o centro das pistas de dança artistas como Donna Summer, Bee Gees e Gloria Gaynor. Nesse aspecto, o eixo do pop mudava um pouco, saindo do rock dos anos 1950 e 1960 e agora ganhando um estilo mais dançante. O pop agora estava ligado a batidas eletrônicas e reforçava sua vocação para unir pessoas em torno da celebração da vida. A “era disco”, como ficou conhecida, não era somente uma experiência musical, mas sim uma forma coletiva de expressão de vida.
Esse também foi o período em que o pop começou a ser estudado academicamente. Universidades e pesquisadores passaram a olhar o fenômeno com outros olhos, entendendo sua capacidade de refletir os valores sociais e políticos de seu tempo. Longe de ser apenas entretenimento, o pop já demonstrava sua força simbólica e transformadora.
Com a chegada da MTV em 1981, o mundo viu o nascimento de uma nova linguagem: o videoclipe. Pela primeira vez, o clipe não era só um extra da música, mas parte essencial de sua narrativa. Surgia a era visual da música pop. Michael Jackson, com o lançamento de “Thriller”, redefine completamente o formato. O clipe de “Thriller” não era apenas uma apresentação musical, mas um curta-metragem com roteiro, direção e efeitos especiais. Ele transformou o videoclipe em arte — e o pop, mais uma vez, deu um salto de linguagem.
Na mesma década, Madonna se consagrava como um dos maiores nomes da história da música. Sua ousadia, inteligência estética e capacidade de provocar discussões sobre gênero, sexualidade e religião mostram que o pop também pode ser politizado e profundamente simbólico. Não por acaso, ela ainda é vista como a grande ícone do pop e seus shows, após quase uma década, continua a fazer sucesso em todo o mundo.
Como consequência da expansão do mundo televisivo, a juventude dos anos 1990 era cada vez mais midiática. O pop, naturalmente, acompanhava a transição dessa nova geração, que saiu das fitas VHS para os CDs. É nesse período que o pop muda o seu formato: não era mais a era de uma único artista em cima dos palcos, mas sim uma banda inteira voltada ao pop. Assim, começava a era das boy bands, como Backstreet Boys e NSYNC, e das girls bands, como as Spice Girls. Além disso, existiram outros artistas fundamentais que ganharam fama ao longo da virada do século, como Shakira e Britney Spears.
Entre os anos 1990 e 2000, o pop consegue se consolidar como linguagem global. É nesse momento que artistas de países fora do eixo EUA-Europa começam a romper barreiras linguísticas e a alcançar audiências internacionais. Assim, o pop deixava de ser apenas americano ou britânico; tornava-se mundial.
Com a internet ganhando força, o século XXI assiste a maior revolução de consumo musical da história: é a entrada no mundo digital. Plataformas como o iTunes e Spotify mudaram completamente o modo como consumimos música, criando mais uma revolução no mundo da música e, consequentemente, no mundo pop. Também é nesse momento que surgem os primeiros fenômenos virais, antecipando o poder do YouTube como nova maneira de lançar vídeos por meio da internet. A partir daí, a música já não precisava mais do rádio para acontecer, pois tudo e todos passaram também a ser acessíveis pelo computador.
Desde então, temos vivido uma era em que o pop é cada vez mais híbrido, inclusivo e, acima de tudo, autorreflexivo. Artistas atuais, como Billie Eilish, por exemplo, desafiam padrões sonoros e estéticos, mostrando que o minimalismo, a vulnerabilidade e a introspecção também têm espaço no mainstream. Por outro lado, no Oriente, o pop também lança tendências com as famosas bandas de K-pop. Grupos como BTS, por exemplo, dominam as paradas mundiais e redefinem o conceito de performance.
O que podemos aprender com a música pop?
Agora que já conhecemos a trajetória da música pop ao longo do tempo, podemos refletir: o que podemos aprender com esse gênero musical? Se por um lado podemos perceber que cada década expressa aquilo que reverbera na sociedade, podemos olhar para os ícones pop do nosso tempo e entender quais ideias e conceitos estão sendo vividos pela juventude dos nossos dias. Nesse aspecto, o exercício de escutar a música pop vai para além de uma questão artística e perpassa outros campos, como a sociologia.
Frente a isso, a música pop vai muito além de melodias pegajosas e refrões repetitivos. Ela exerce um papel profundo na construção da identidade cultural, especialmente entre jovens, que são o grande público-alvo desse tipo de música. Mais do que um gênero musical, o pop é uma linguagem viva que conversa com os desejos, inseguranças, revoltas e alegrias de cada geração.
Enquanto música, em geral, o pop tende a buscar movimentar nosso corpo através de um ritmo dançante. Apesar de sua adaptabilidade ser a força motriz que o mantém sempre na moda, é notável que, enquanto gênero musical, o pop tem por característica criar uma forma de música que faça o ouvinte desejar o movimento. Se em tempos idos a dança era um tanto quanto comedida e se tornou, ao longo das décadas, mais sexualizada, isso nada mais é do que uma característica social que também pode ser constatada através de outras formas de arte.
Nesse aspecto, é impossível desassociar a música pop da moda do seu tempo, dos comportamentos e linguajar da juventude de cada época, que influenciam e são influenciados por esse tipo de música. E é justamente nesse aspecto que se revela a verdadeira força do pop, afinal, a sua capacidade de se reinventar constantemente e de servir como um espelho que reflete quem somos e quem queremos ser.
A crítica à música pop: superficialidade ou sofisticação?
Durante muito tempo, a música pop foi considerada, por setores da crítica musical, superficial ou até mesmo uma “arte menor” e que não teria outros propósitos, a não ser o de ser vendida para atender demandas da indústria da música. O motivo principal desta crítica está na sua acessibilidade e na quantidade de capital que consegue movimentar, visto que atinge uma massa de bilhões de pessoas.
Contudo, essa crítica ignora que a complexidade de uma obra não está apenas na técnica, mas também na capacidade de comunicação, na conexão emocional e no impacto social que ela produz. O fato de o pop buscar alcançar grandes públicos não o torna menos valioso, muito menos o coloca em uma condição menor ou mesmo que seja mais “fácil” de ser realizada. A bem da verdade, devemos perceber que requer uma habilidade imensa para dialogar com milhões de pessoas de diferentes culturas, classes sociais e idades, mantendo uma mensagem clara, mas significativa.
Além disso, muitos artistas pop têm desafiado os limites entre o mainstream e o alternativo, entre a indústria e a arte. Não por acaso, nos dias atuais, especialistas em música já entendem que o pop pode e muitas vezes é tão refinado quanto qualquer outro gênero musical, alcançando um status importante dentro do mundo da arte. É evidente que não há como falar de música pop sem mencionar a máquina industrial que sustenta e modela o gênero. Desde gravadoras, agências de marketing, plataformas de streaming e até algoritmos, todos esses têm papel central na criação e no sucesso de um hit, o que torna ele popular e consumido ao redor do mundo.

Essa dimensão mercadológica, que é real e tem como interesse o capital e não a arte, não precisa ser vista como algo completamente negativo. Muitas vezes, o mercado apenas amplia o alcance de uma arte que já é forte por si só, trazendo mais notoriedade para sua obra, como no caso de Michael Jackson, por exemplo.
É nesse equilíbrio entre arte e mercado que o pop se mantém em constante reinvenção. Por isso, apesar de agradar alguns e ser alvo de críticas de outros, o pop nunca deixará de existir, pois atende diretamente aos anseios do mundo. Visto isso, também há desafios no mundo atual em entender como a música pop irá se reinventar em uma sociedade cada vez mais mergulhada em uma tecnologia autônoma. Com o avanço da inteligência artificial, por exemplo, o futuro do pop será moldado não apenas por artistas, mas também por comunidades, algoritmos e experimentos tecnológicos. Entretanto, podemos ter certeza que o pop não irá deixar de existir. O futuro é seu destino e estaremos lá para consumir suas músicas, melodias e refrões.
Comentários