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Anos 70: A Era da Música Que Desafiou o Mundo

A arte é um traço indelével da humanidade. Através de suas expressões, pode-se compreender ideias, refletir sobre o meio em que se vive e interagir com elementos tão sutis que fogem da própria racionalidade. Não por acaso, normalmente confundimos a figura do “artista” como uma pessoa irreverente, criativa e, em alguns casos, excêntrica. Apesar desses estereótipos, é inegável o valor que a arte possui em uma sociedade.

Visto isso, pode-se afirmar que a cultura e a arte de um povo revelam muito sobre suas características e seu momento histórico. Hoje vamos voltar um pouco no tempo e mergulhar em uma das expressões mais populares da arte: a música. Mas não qualquer tipo de música, mas sim a que marcou uma geração na segunda metade do século XX. Estamos falando dos anos 1970, período marcado por tensões políticas, regimes autoritários e, em contrapartida, um grito de liberdade emitido pela juventude.

A diversidade musical dos anos 1970

Uma das características marcantes da liberdade é a diversidade. Sim, quando vivemos a liberdade, podemos assumir diferentes formas e gostos, uma vez que nos é permitido ser o que desejamos ser. Assim, em um momento histórico de tanta repressão como os anos 1970, o seu contraponto, natural em toda relação social, seria a busca pela liberdade. Isso se expressou claramente na música produzida nesse período. 

A década de 1970 foi a era da Discoteca, de John Travolta, do nascimento do Punk de Patti Smith e Sex Pistols e da experimentação de elementos da música erudita no Rock Progressivo de Pink Floyd. Nascia, em cada canto do globo, uma forma distinta de música que experimentava, ao seu modo, viver a liberdade a qualquer preço. Uns com ideais mais revolucionários, outros com uma busca quase espiritual em meio ao materialismo severo da época, mas todos miravam o mesmo arquétipo: a liberdade.

Já aqui, no Brasil, não foi diferente. Vivíamos o auge da Tropicália, dos Doces Bárbaros e Novos Baianos, todos buscando a liberdade de expressão e a quebra de tabus que eram impostos pelo momento político de muita repressão, crises econômicas e conflitos armados que aconteciam em todo o globo.
Como podemos perceber, as disputas geopolíticas não refletiam apenas nas guerras e sanções econômicas, mas também adentravam a cultura e construíram, assim, um novo front de batalha: o das ideias. Enquanto a ordem dos regimes totalitários pregavam um senso comum rígido, na arte era cada vez mais notório a busca por transgredir as leis e as normas e por reinventar as demandas sociais. Para a época, esse movimento foi fundamental para apresentar à população novas opções de vida, que fugiam normatividade, e por isso os anos 1970 foram tão marcantes, não apenas para quem os viveu, mas também como exemplo para as futuras gerações.

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O mundo dos anos 1970: A terra em tensão

Para contextualizar melhor o que se passava no nosso planeta, vamos a alguns fatos históricos dos anos 1970: primeiramente, ocorreu a crise do petróleo, que levou vários países, como EUA e Reino Unido, à uma grande recessão, enquanto que outras economias, como Japão, Alemanha e União Soviética, começaram a prosperar; também se vivia o ápice da Guerra Fria, a tensão entre EUA e URSS para ser a nação dominante do mundo; chegava também ao fim a Guerra do Vietnã e dava-se início a guerra da União Soviética contra o Afeganistão.

Já no Brasil vivíamos a ditadura militar e o “milagre econômico brasileiro”. Nos anos 1970, também vimos o surgimento de diversas ditaduras inspiradas nesse modelo em toda a América Latina, que montavam um cenário de excesso de segurança, conservadorismo e pouca liberdade mundo afora. 

Os anos 1970 em músicas

Frente a esse contexto histórico, o início da década viu o surgimento de muitos estilos musicais. No pop, no rock, nas experimentações como o jazz, o folk, o blues e rock psicodélico, incluindo artistas como The Carpenters, James Taylor, Stevie Wonder e The Temptations. A incorporação de instrumentos de música erudita ao rock clássico, que já havia se iniciado nos anos 60, se consolidou no início dos anos 70, no que ficou conhecido como rock progressivo, do qual os grandes destaques são Pink Floyd, John Lennon, Genesis, Yes.

Surgiu também o glam rock, movimento em que o chique e o glamour faziam parte do visual dos artistas através de grandes óculos, androginia, calça jeans boca de sino e bota plataforma. Artistas e bandas – como David Bowie, Queen e, principalmente, Elton John – foram os grandes expoentes desse estilo.

A aceleração e a distorção do blues deram origem ao hard rock, que também havia iniciado nos anos 60, mas só na década de 70, através de bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Kiss, Aerosmith e Rolling Stones, foi que se tornou bastante popular.

Na segunda metade da década de 70, um movimento nostálgico trouxe à tona um revival do estilo rockabilly dos anos 50. A série de TV “Happy Days” e o filme “Grease” também simbolizam essa tendência, cujo seu principal representante, de grande fama e repercussão mundial, Elvis Presley, morreu em 1977, no auge da carreira.

Foi a época também da disco music, em que tudo acabava nas pistas de dança e o verbo “travoltear” tornou-se internacionalmente conjugado, trazido pelo filme “Os Embalos de Sábado à Noite”, estrelado por John Travolta. Este fenômeno trouxe um novo balanço para a música pop, assim como gênios da música eletrônica, cujo maior expoente da época, a “rainha das discotecas”, foi Donna Summer.

O punk rock também foi um movimento de grande potência nesta década, que buscava revoltar-se contra o sistema, pregando a anarquia. Este reuniu artistas como Patti Smith,Television, New York Dolls, Sex Pistols, The Clash e The Ramones, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, voltando o rock à sua forma primitiva, vindo das garagens e dos porões.

Entre a disco music e o punk rock, surgiu o movimento new wave. Contrário ao punk, a nova onda celebrava o brilho do início da década. Algumas vezes a new wave chegou até a flertar com a disco music através da banda Blondie que trouxe o hit disco “Heart of Glass”.

Na música pop, imperava o ritmo em detrimento das letras; importava mais o balanço, o que propiciou a aparição de dezenas de grupos e estrelas de sucesso fulminante, porém, com um rápido desaparecimento. O efêmero e o descartável foram campeões em todas as paradas de sucesso, ganhando notoriedade somente nos seus 15 minutos de fama.

No pop, Michael Jackson lançou seus primeiros quatro álbuns em carreira solo e os Beatles, depois de 7 anos, se separaram, iniciando suas carreiras solos bem sucedidas.

No Brasil, estávamos vivendo a censura do regime militar e, portanto, os movimentos musicais refletiram bastante este momento histórico. Destaque para os trabalhos de: O Terço, Rita Lee & Tutti Frutti e a banda baiana Doces Bárbaros, idealizada por Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Caetano Veloso. Não esquecendo do movimento dos Novos Baianos, que marcou o movimento da contracultura.

Explorando outros universos da música brasileira, surgia uma nova geração influenciada pelos consagrados músicos dos festivais da década de 60, como Belchior, Gonzaguinha, Djavan e Ivan Lins.

A discoteca e o pop dançante, nas terras tupiniquins, serviram de base para uma geração de ídolos populares tidos como exuberantes e, por vezes, até pornográficos, como Sidney Magal, Gretchen, entre outros. Já a música sertaneja e o samba viviam momentos de desgaste, sendo executados somente nas áreas rurais e nos subúrbios das grandes cidades.

Qual o papel da cultura em uma sociedade?

Um grande sábio chinês, Confúcio, dizia que conhecemos um país pela música que lhe toca. Ele dizia: “A música surge do coração humano. Quando são tocadas as emoções, estas se expressam em sons, e quando os sons tomam formas definidas, temos a música. Desta maneira, a música de um país pacífico e próspero é tranquila e alegre, e o governo, ordenado; a música de um país agitado revela descontentamento e cólera; e a música de um país em decadência revela pena e nostalgia do passado, e o povo está angustiado. Assim, pois, vemos que a música e o governo estão diretamente vinculados entre si”.

Nos parece que a cultura é fundamental em uma sociedade, apesar de hoje a palavra “cultura” abarca uma série de elementos que vão para além da música e arte. Ainda assim, a cultura imprime em um país sua identidade, revela as marcas do seu tempo e é um elemento fundamental para conhecermos a história e os motores psicológicos de cada sociedade.

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Visto isso, se Confúcio estava certo, o que podemos dizer sobre o Mundo da década de 70? E sobre o Brasil? De grande efervescência cultural, sem dúvida, tanto que suas expressões musicais até hoje são ovacionadas, executadas, tidas como de grande riqueza musical. Falavam em serem livres, da quebra daquilo que para eles não fazia sentido, da busca por algo novo que fosse melhor. 

Foi um período de guerras, conflitos armados, governos autoritários e censura. Assim como um faminto fala de comida, um pobre fala sobre abundância e um preso fala sobre liberdade, nessa década a juventude cantava em suas músicas a crítica aos governos, a “Paz e Amor”, o “Sexo, Drogas e Rock’n Roll”, o rompimento com os valores religiosos e tradicionais… E faziam isso acreditando que conseguiriam construir um mundo melhor.

E agora, quase 50 anos depois, será que nossa sociedade alcançou o que tanto cantava em suas canções? Conseguimos vencer os desafios daquela época? E a sociedade que aqueles jovens construíram se tornou melhor do que a que eles criticavam? As respostas para essas questões podem ser diferentes dependendo do ponto de vista de cada um, porém, esta é uma reflexão que serve para todos nós e para todas as gerações.

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