Quem está totalmente satisfeito com a sua vida, levante a mão! Dificilmente alguém, sendo verdadeiro consigo mesmo, ousará levantá-la. Pois todo mundo tem sempre algum grau de insatisfação que o tensiona e o obriga a mudar, de modo consciente ou não. De maneira geral, constantemente estamos insatisfeitos, pois, a sensação que temos é a de que dá para ajustar aqui, melhorar ali, transformar acolá e, quando menos esperamos, queremos mudar, queremos deixar para trás ou superar determinada circunstância ou condição. E isso não é por acaso, acredita-se que todo o processo de mudança faz parte da vida. Por exemplo, se observarmos, tudo o que existe no universo e que está vivo tem a necessidade de se movimentar, de se transformar e de se renovar, e assim não seria diferente com os seres humanos. Portanto, a mudança faz parte da evolução e do amadurecimento de tudo o que existe.
Mas, por que e para quem mudar? Toda e qualquer mudança só é válida se tivermos como foco o Crescimento Humano, ou seja, se mudamos para sermos melhores e maiores em graus de Bondade, Justiça e Generosidade. Desse modo, entramos no fluxo da vida e, consequentemente, evoluímos e crescemos em consciência. Se, porventura, as mudanças que realizamos tem nos tornado mais egoístas, mais egocêntricos e mais individualistas, devemos entender que não houve evolução, mas, deslocamento ou reposicionamento em direção aos instintos e a involução. Tal situação nos coloca contrariamente ao fluxo da vida e a todas as leis que a representam. Portanto, mudança e evolução humana caminham juntas e não separadas como comumente costumamos pensar.
Já diziam os grandes mestres de sabedoria, todos os seres vivos caminham para a unidade porque a vida é una, nada está separado. Assim, se bem compreendido esse processo, a nossa percepção de mudança ganharia mais profundidade e perceberíamos que as verdadeiras mudanças não acontecem fora de nós, mas dentro. Aliás, as necessidades de transformações externas são apenas reflexos das necessidades de mudanças que carecemos dentro. Dessa ordem, a vida ganha um novo prisma e as insatisfações que carregamos conosco jamais seriam precedentes para tristezas, infelicidades, angústias, ou mesmo, estados de paralisação. Na verdade, elas serviriam de impulsos e nos ajudariam a nos movimentar, a seguir em frente e a não nos permitir ficar petrificados na inércia.
Entretanto, não há processo de transformações sem consciência, quando se fala da experiência humana. Uma vez que é um pré-requisito, antes de qualquer decisão, estarmos conscientes de que a mudança nos exige responsabilidade, compromisso e poder de decisão. Essas são condições vitais e delas dependem não só o movimentar para a verdadeira mudança, mas a garantia do nosso amadurecimento e crescimento, enquanto indivíduos. O problema é que ninguém nos ensinou que mudar ou romper com hábitos, apesar de necessário, é uma tarefa difícil. Basta pensarmos que, quando nos acostumamos, por exemplo, a irmos ao trabalho por determinado caminho, ou quando estamos habituados com uma rotina de atividades, qualquer coisa que altera essa dinâmica, nos desestabiliza, nos frustra e, por vezes, nos deixa totalmente desnorteados.
Se no campo físico mudar algum hábito já é difícil, imagine mudar um hábito psicológico ou mental. Já parou para pensar o quanto é complicado mudar um padrão de pensamento, uma ideia cíclica ou mesmo um sentimento negativo que nos absorve? Uma vez que estamos lidando com uma matéria mais sutil do que a matéria física, o grau de dificuldade para intervir e manejar tais fenômenos psicológicos aumenta consideravelmente, dada as suas complexidades. É por isso que, para mudarmos algo, precisamos canalizar muitos esforços e trabalharmos arduamente na formação de nosso caráter. Caso contrário, acabamos por nos tornar um joguete nas mãos das circunstâncias, que, muitas vezes, nos arrastam aos estados de ansiedade, passividade e impotência. E por que não dizer que ficamos à mercê de uma psique desordenada e caótica em que, horas se apresenta através de suas carências e hora se apresenta através de seus excessos.
É vital mudarmos, nos transformarmos e sonharmos com a nossa melhor versão humana. Sonhar é uma das capacidades mais bonitas e poderosas que um ser humano possui. Embora, quase sempre, a confundamos com fantasias ou alienações. Sonhos são projetos que pretendemos trazer à vida em algum momento no futuro. Ou seja, é uma ideia que tem prazo para nascer, exige muito esforço e trabalho para ser executada. Se pudéssemos dividir o ato de sonhar, diríamos que ele tem três fases: o nascimento da ideia, o planejamento e a realização em si. O que significa que só há sonho se a teoria e a prática estiverem unidas como duas faces de uma mesma moeda. Falhamos miseravelmente quando deixamos de ver os sonhos por essa perspectiva e caímos nas nossas fantasias, porque passamos a utilizar muita energia para imaginar e elaborar as nossas ideias, mas muito pouco para realizá-las.
Façamos com que as nossas insatisfações diárias nos forcem a olhar para dentro e nos impulsionem para as verdadeiras mudanças que tanto necessitamos para o nosso crescimento. Mas, não podemos esquecer que a responsabilidade desse movimento cabe única e exclusivamente a cada um de nós. Há quem diga que quando sonhamos, passamos a ser criadores de nossa própria vida e não criatura que segue as circunstâncias. Para alguns poetas, sonhar é dar cores e formas às palavras entrelaçadas nas regras rígidas da gramática da vida. Para os filósofos, sonhar é a capacidade de dar sentido à vida através da ação, porque não existe sonho sem realização e sem plasmação da ideia que um dia foi concebida em nossa mente
Por fim, mesmo que o sonho seja a razão mais profunda pela qual vivemos, se não decidirmos, se tomarmos a decisão de querer sonhar, de querer realizar, de nada adianta essa habilidade humana. Pois, viver para além da existência é uma escolha que nos exige decisões diárias, que nos exige movimento e muita ação. Por mais que nos pareça confortável delegar e responsabilizar o outro pelos nossos fracassos, na verdade, mudar algo, transformar ou romper com ciclos culturais que tanto nos limitam, só depende de nós mesmos. Toda decisão antecede uma ação e, quanto mais consciência, mais inteligência e clareza de ideias no movimento da vida.