Qual o preço de uma boa educação? Não estamos falando de escolas caras, de aulas extras e professores particulares, mas sim o quanto de esforço e dedicação precisamos ter para educar um Ser Humano. Para tanto é preciso tempo e planejamento e, claro, o mais importante: princípios. Se pensarmos em nossos filhos, desejamos que eles sejam bons profissionais no futuro, não é mesmo? Mas, e quanto à formação de seres humanos melhores, que possam pensar livremente e viver com base em valores como o Bem, o Belo e a Justiça?
Todos nós, em maior ou menor grau, desejamos esse futuro para os nossos descendentes. Entretanto, em nossa vida prática esse é um sonho que acaba ficando para trás quando mergulhamos na rotina. Ficamos “ocupados” demais com outras demandas e acabamos delegando essa parte da educação para os profissionais desta área como professores, coordenadores e toda a equipe pedagógica de uma escola. É evidente, contudo, que o esforço de educar uma criança é conjunto, uma vez que, para além dos valores e princípios éticos, esse pequeno Ser Humano em formação precisará também de outras ferramentas como as disciplinas escolares e outra série de atividades.
Sendo assim, nota-se que cuidar da educação de nossos filhos não é uma tarefa simples, muito menos com um prazo para acabar. Em verdade, sentimos que, ao longo de toda nossa existência, estaremos cuidando deles, por vezes, de maneira objetiva, mas principalmente nos assuntos mais subjetivos, orientando-os a seguir o melhor dos caminhos. Frente a isso, educar é um desafio e requer não somente planejamento, mas uma correta execução nas mais diferentes etapas da vida.
Partindo dessa perspectiva, hoje indicamos o filme “King Richard” que nos conta a história de Richard Williams, um pai que dedicou sua vida para tornar suas filhas as maiores tenistas do mundo.
Lançado em 2021, pela HBO Max, “King Richard” conta com um grande elenco. Nomes como Will Smith, Aunjanue Ellis e Tony Goldwyn são apenas alguns dos grandes artistas que dão vida a essa história real. Tudo começa quando Richard descobre que será pai em seu segundo casamento. Preocupado com o futuro de sua filha, ele faz um planejamento de incríveis 78 páginas acerca da criação e educação de sua prole, para que assim eles possam prosperar.
Seus métodos pouco convencionais naturalmente chamaram a atenção das pessoas, principalmente das autoridades, que viam na educação de Richard uma rigidez exacerbada. Suas filhas, por exemplo, começaram a treinar tênis por volta dos quatro anos de idade, sendo essa uma rotina comum da família. Todos os dias, praticava-se o esporte, além da rígida formação escolar. Richard desejava que suas filhas fossem vitoriosas nas quadras, mas sabia que elas precisavam ir além das habilidades físicas para conseguirem prosperar em qualquer área que desejassem.
Apesar de querer que suas filhas fossem bem sucedidas no esporte, Richard sabia que era preciso a conjugação de vários ensinamentos para que elas se tornassem não somente boas esportistas, mas Seres Humanos valorosos. Fazendo um paralelo com a visão de educação platônica que tinha como princípios a Música e a Ginástica, é notável como esses dois componentes são fundamentais ao tratarmos do assunto. Para Platão, entende-se como “Música” a arte das musas, ou seja, a soma de diversas habilidades intelectuais como a poesia, a história, a astronomia e diversas outras capacidades. Essa seria a educação da alma, esse aspecto mais subjetivo do Ser Humano. De igual modo, a ginástica educaria o corpo, tornando-o forte e saudável para executar todas as necessidades diárias.
Frente a esse modelo de educação, entende-se que a finalidade é manter não somente o corpo em um bom estado de atuação, mas também nossas faculdades mais abstratas, ou seja, a nossa psique. A famosa citação de Juvenal, um dos maiores poetas de Roma, faz-se perfeita ao dizer “Corpo são, mente sã”. Serena e Venus, as filhas de Richard, portanto, não foram criadas para vencer somente dentro das quadras, mas também estavam aptas a serem destaques em qualquer outra profissão que desejassem. É evidente, porém, que o foco do pai era que elas se tornassem as maiores vencedoras do Tênis, tanto na modalidade de duplas como competindo individualmente.
O sonho do pai tornou-se realidade. Sem dúvidas, Serena Williams, assim como sua irmã Venus, são nomes que marcaram a história desse esporte. Elas começaram vencendo, ainda adolescentes, diversos profissionais, mostrando uma habilidade fora do comum para garotas tão jovens. Com o tempo, e chegando à fase adulta, as então irmãs Williams ganharam o mundo e tornaram-se campeãs mundiais, chegando a ser a 1° e 2° no ranking mundial. Elas também marcaram história ao baterem recordes mundiais, sendo a única dupla no mundo do tênis a vencer três Olimpíadas.
Desse modo, a jornada de sucesso das irmãs foi alcançada graças ao esforço coletivo da família Williams. Apesar de destacarmos o papel de Richard com o planejamento e educação das filhas para esse objetivo, é fundamental o papel de Oracene Price, a mãe e esposa de Richard. Ela não somente sustentou financeiramente o sonho do pai de Venus e Serena, mas também persistiu ao longo dos anos na formação das jovens.
É importante destacar, porém, os perigos de uma educação baseada no desejo dos pais. Sabemos que criamos nossos filhos para “o mundo”, mas muitas vezes buscamos nos realizar através deles. Desejamos que eles sigam uma carreira que não conseguimos, ou mesmo que tenham habilidades que sempre desejamos possuir. Em grande medida, esse desejo contamina nossa forma de educação, levando a querermos fazer dos nossos filhos “mini cópias” de nós mesmos. Os efeitos desse tipo de criação podem ser muitos, desde traumas até a incapacidade de fazermos o que gostamos para agradar nossos pais.
Frente a isso, é fundamental um bom planejamento. Talvez não tenhamos a mesma disposição e energia que Richard Williams com suas filhas, mas ter um plano de educação, baseado nos valores que desejamos cultivar, nas oportunidades que vamos proporcionar aos nossos filhos e, sem dúvida, estar aberto para que cada um siga seus próprios caminhos é essencial para uma educação eficaz e formativa. Como a própria palavra diz, “educar” nada mais é do que “eduzir”, ou seja, fazer vir à tona aquilo que já existe em nós. Assim, por mais que queiramos que nossos filhos sigam determinadas tendências, talvez o melhor seja dar a eles a oportunidade de descobrir suas próprias potencialidades.
Considerando todos esses aspectos, indicamos “King Richard” por ser um exemplo de persistência em um sonho. De fato, formar Seres Humanos nunca foi (e provavelmente nunca será) uma tarefa simples. Exigirá de nós não apenas empenho, mas ter clareza quanto a finalidade que desejamos cumprir, além de um grande amor com todos envolvidos. Sem esse caráter de Unidade, de poder ajudar e compartilhar das angústias e prazeres vividos, educar seria um processo mecânico, sem vida e ineficiente. Não se trata, portanto, de colocar informações na mente dos jovens, mas cultivar uma semente de virtudes que irá crescer dentro de cada coração.