São inúmeros casos na ciência de insights, epifanias e intuições que levam os pesquisadores a encontrarem respostas misteriosas que não se apresentaram através dos experimentos e raciocínios lógicos. Nos lembramos da famosa frase de Arquimedes “Eureka!” ao descobrir como calcular o volume de um metal enquanto tomava banho na banheira. Ou o caso da maçã que cai na cabeça de Newton e o ajuda a entender a Lei da Gravidade.
Um outro caso que talvez não seja tão conhecido, mas que reafirma esta possibilidade de intuírmos respostas profundas para a Vida, é a descoberta do anel de benzeno através de um sonho do químico Kekulé.
Em 1865 os cientistas da época, incluindo o cientista alemão Friedrich Kekulé, buscavam, sem sucesso, respostas de como se desenhava a estrutura química da molécula de benzeno. Até que a resposta chegou através de um sonho!
Ele relata:
“…Estava sentado escrevendo meu manual, mas o trabalho não progredia; meus pensamentos estavam dispersos. Virei minha cadeira para a lareira e adormeci. Novamente os átomos saltavam à minha frente. Desta vez os grupos menores permaneciam modestamente no fundo. Meu olho mental, aguçado pelas repetidas visões do gênero, discernia estruturas mais amplas de conformação múltipla; longas fileiras às vezes mais estreitamente encaixadas, todas rodando e torcendo-se em movimentos de cobra. Mas veja só! O que é aquilo? Uma das cobras havia agarrado a própria cauda e a forma rodopiava de modo a debochar ante meus olhos. Como se à luz de um relâmpago, despertei; e desta vez, também passei o resto da noite tentando estender as consequências da hipótese. Senhores, aprendamos a sonhar, e talvez então encontraremos a verdade […] mas também vamos ter cuidado para não publicar nossos sonhos até que eles tenham sido examinados pela mente desperta.”
(Tradução de Jane Raquel Oliveira em “O intrigante do sonho de Kekulé: considerações sobre a história e a natureza da Ciência.”)
A proposta de Kekulé de uma estrutura em forma de anel para o benzeno, C6H6, ainda hoje aceita, advém de um sonho com uma serpente engolindo a própria cauda. Por mais criativa que seja esta imagem, ela não foi inventada pelo cientista alemão. A serpente que engole a cauda, o Oroboros, é um símbolo importante da história da humanidade. Oroboros, do grego Οὐροβόρος: ‘que consome a cauda’; é um símbolo presente em diversas tradições que, apesar de suas particularidades, no geral representa a ideia de ciclicidade, e ao mesmo tempo, do infinito. Pois a cobra não tem início nem fim.
O primeiro registro conhecido do Oroboros é encontrado na tumba do faraó egipcío Tutankhamun. Para os egípcios, era um símbolo que representava a união de Rá, Deus do inefável Mistério da Vida, e Osíris, Deus da primeira manifestação da Vontade, significando o conceito do Ciclo da Vida, do eterno retorno. Mas, para entendermos a profundidade desta idéia, é importante retornarmos ao conceito de símbolo.
Os símbolos, em síntese, são representações utilizadas pelas civilizações antigas, para traduzir ou sintetizar as Leis da Natureza. Os símbolos nos fazem transcender a visão comum que temos do mundo em busca de ideias mais profundas e espirituais. Desta maneira, o Oroboros apresenta-se como uma forma de representar a Ciclicidade da Vida, o elo que une o início e o fim. Todo fim também é um início, e todo início também é um fim. E essa Lei Natural se expressa em tudo, desde o anel de benzeno ao ciclo de nascimento e morte, até a passagem das estações, e de um dia após o outro.
O oroboros encontrado num manuscrito grego
Muitas vezes ficamos tão angustiados à procura de respostas nos livros, na sociedade, nos estudos, nas experiências da vida, que por fim esquecemos que muitas delas estão, na verdade, dentro de nós. Lembremos de Einstein e a Teoria da Relatividade: “Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio – e eis que a verdade se revela.” Todos nós temos uma voz interior, o que Helena Blavatsky, filósofa russa, chama de Voz do Silêncio, que nos diz o que é necessário ser feito, qual o caminho a seguir, qual o nosso papel.
As respostas para a nossa vida estão sempre dentro de nós. E é através das nossas experiências conscientes que vamos, cada vez mais, nos tornando aptos a escutá-las para por fim, agirmos da melhor forma possível no mundo.