Os jogos cooperativos estão vivendo uma fase de ouro. Isso não é exagero: nunca tivemos tantos games focados em fazer duas pessoas jogarem juntas, compartilhando risadas, desafios e momentos inesquecíveis. Mas, entre todos esses jogos, três deles se destacam de um jeito especial: “It Takes Two”, “Overcooked 2” e “Unravel Two”. Esses três não apenas divertem os jogadores, mas também foram criados de modo que sem a cooperação eles simplesmente não funcionam. E é exatamente isso que faz a experiência do game ser tão única e envolvente.
Frente a isso, precisamos entender o que estamos chamando de jogos cooperativos, os famosos “Co-op”. Se fosse necessário resumir em uma palavra esses jogos, poderíamos usar o termo conexão. Não importa se você está jogando com seu melhor amigo, com seu companheiro(a), com um irmão, ou até com alguém que acabou de conhecer online. O segredo para avançar está na parceria, na sincronia, na construção conjunta de estratégias e na sensação de que cada pequena vitória só aconteceu porque vocês trabalharam lado a lado. É por isso que os três jogos que indicaremos aqui saltam aos olhos, pois são capazes de transformar a cooperação em algo natural, divertido, necessário e, em muitos casos, simplesmente inescapável.
It Takes Two: O co-op que redefiniu narrativa e gameplay
Comecemos falando sobre It Takes Two, um dos jogos que, sem exagero, é um marco da história dos jogos cooperativos. Ele não é apenas um jogo divertido, mas também uma obra-prima que combina narrativa, design, desafios variados e personagens cativantes em uma jornada que só faz sentido quando duas pessoas jogam juntas. Além de ganhar o prêmio de Jogo do Ano em 2021, It Takes Two conquistou milhões de jogadores ao redor do mundo com seu charme, sua inventividade e sua inovação constante.

A história acompanha o casal Cody e May, que estão à beira do divórcio e acabam transformados em bonecos de pano por um feitiço inesperado. Para voltarem ao normal, eles precisam enfrentar desafios que simbolizam seus problemas reais, representados de forma lúdica e criativa em cada fase do jogo. É como se a vida deles tivesse ganhado forma física e cada obstáculo fosse uma metáfora para a relação desgastada que eles tentam superar.
E aqui está a grande sacada: It Takes Two não é apenas um jogo sobre cooperação. Ele é um jogo sobre cooperação dentro de uma história sobre cooperação. A temática e a mecânica conversam de um jeito que raramente se vê em jogos, e isso faz com que o jogador fique preso à narrativa e busque o seu desfecho.
Enquanto avançam pelas fases, Cody e May passam por cenários completamente diferentes entre si, cada um simbolizando uma parte do relacionamento deles. A ideia é mostrar que a jornada emocional do casal está refletida no mundo ao redor. Desse modo, o jogo não é apenas feito de maneira técnica, mas também construído com base em uma narrativa tão envolvente quanto qualquer livro ou filme.
Esse é um dos pontos mais fortes de It Takes Two. O jogo não espera que você simplesmente acompanhe a história, mas que sinta cada momento dela. A cooperação se torna uma metáfora para parceria, para entendimento e para comunicação dentro de um relacionamento. E o resultado é uma narrativa emocionante, que surpreende pela profundidade e sensibilidade.

Outro ponto de destaque em It Takes Two é a mecânica construída para o jogo. Cada fase parece pertencer a um game completamente diferente. Ao invés de repetir fórmulas, o jogo se reinventa constantemente, trazendo cada vez novos elementos, o que não o torna previsível. O mais interessante é que essas mecânicas nunca são individuais. Sempre que o jogo apresenta uma nova habilidade, ela é dividida entre os dois jogadores. Isso significa que ninguém tem todas as ferramentas e vocês precisam combinar habilidades para avançar.
Dito isso, se existe um jogo capaz de criar um elo profundo entre jogadores e narrativa é este. E não é só pelos cenários ou pelo enredo, mas principalmente pela forma como cada cena exige cooperação. Há momentos emocionantes, tensos, engraçados, estranhos, épicos e até sombrios. A força desses momentos está justamente na forma como eles só funcionam quando os dois jogadores atuam juntos. Quem deve vencer, portanto, não é o individualismo, ou um ser “melhor” que o outro, mas a combinação da dupla em si.
Overcooked 2: quando o caos só funciona com cooperação
Se It Takes Two é o exemplo máximo de cooperação aplicada à narrativa, Overcooked 2 é o ápice da cooperação aplicada ao caos. E não qualquer caos, mas o tipo que faz você rir, gritar, comemorar, discutir e depois rir de novo. É aquele jogo que transforma uma simples “cozinha” em um campo de batalha onde só existe um caminho para a vitória: trabalhar junto. A sequência da série “Overcooked” se tornou um clássico moderno justamente porque eleva o espírito dos jogos cooperativos ao extremo. Não dá para jogar Overcooked 2 sem cooperação, assim como não dá para cozinhar profissionalmente sem equipe. Tudo ali depende de sincronia, timing, comunicação, estratégia e, muitas vezes, uma boa dose de improviso.
E é isso que torna Overcooked 2 tão especial, pois ele pega tarefas simples como cortar, cozinhar e servir e transforma essas ações em situações intensas dentro do jogo. Se você entrar em uma cozinha achando que consegue fazer tudo sozinho, vai descobrir rapidamente que isso é impossível. Overcooked 2 literalmente sabota qualquer tentativa de individualismo e ensina aos jogadores que só é possível vencer os desafios quando estamos unidos.

A premissa do jogo é simples na teoria: dois jogadores são chefs tentando atender aos pedidos de clientes famintos. Mas essa simplicidade começa e termina na descrição básica do jogo. Assim que a fase começa, você percebe que nada ali é “normal”. As cozinhas em Overcooked 2 são projetadas para criar obstáculos que obrigam os jogadores a colaborar. Às vezes, as bancadas se movem, impedindo que você pegue ingredientes sozinho. Em outras fases, existem buracos no chão que exigem trabalho conjunto para atravessar. Há cenários com plataformas que deslizam, cozinhas divididas ao meio por rios, áreas que pegam fogo espontaneamente, e até fases mágicas onde os layouts mudam no meio da partida.
O jogo constantemente coloca os jogadores em situações onde não existe possibilidade de atuação individual. Ou você coopera, ou falha. Junto a isso, o estilo frenético que simula uma cozinha de restaurante, um ambiente que sempre está em constante movimento, não só deixa tudo mais divertido, mas também reforça a ideia de que o jogo não é sobre habilidades individuais, mas como a equipe se organiza para enfrentar uma situação caótica. Cada fase apresenta uma nova configuração, uma nova dinâmica que exige adaptação.
Overcooked 2 é um dos jogos que mais exige comunicação constante. Cada ação precisa ser coordenada para otimizar processos e ganhar tempo, algo essencial dentro de uma dinâmica de cozinha. É comum ver jogadores falando ao mesmo tempo, tentando decidir quem corta a cebola, quem frita o peixe etc. É justamente aí que o jogo brilha, pois a comunicação cria um clima de urgência que deixa tudo mais engraçado.
Você e seu parceiro sabem o que precisam fazer, mas a execução é sempre mais difícil do que parece. O jogo, nesse aspecto, foi projetado para criar tensão e riso ao mesmo tempo. O desafio está em transformar o caos em ordem — e só é possível fazer isso se a dupla agir como uma verdadeira equipe.

E aqui está o detalhe mais interessante: quanto mais vocês jogam, mais afinados ficam. As partidas começam com gritos e desorganização total, mas conforme a dupla treina, a cozinha vira uma coreografia quase perfeita. É uma dança frenética onde cada pessoa sabe exatamente onde deve estar e o que precisa fazer. Quando isso acontece, o jogo deixa de ser caos e vira harmonia, revelando que a persistência e a busca pela união em prol de um objetivo maior é o segredo para caminhar juntos, seja no jogo ou na vida.
Unravel Two: Um co-op sensível e cheio de significados
Se os outros dois jogos são explosões de emoção, criatividade e caos, Unravel Two nos proporciona uma experiência tranquila, encantadora e cheia de simbologia. Ele não tenta ser extravagante, ao invés disso aposta na sensibilidade, na beleza e na conexão entre os dois jogadores.

Unravel Two é aquele tipo de jogo que te faz pensar. Ele quer que você observe, explore, resolva puzzles com cuidado e aproveite a jornada. Mas não se engane, pois, mesmo sendo mais “calmo”, Unravel Two é profundamente cooperativo.
Tudo no jogo gira em torno da ligação física e emocional entre os dois jogadores. Os personagens representam união, apoio e parceria, pois tudo que eles fazem é influenciado pela conexão entre eles. O jogo automaticamente te lembra que, quando um avança, o outro precisa acompanhar. Quando um puxa, o outro sente. Quando um se arrisca, o outro precisa dar suporte. Isso cria uma experiência que dificilmente se encontra em outro jogo cooperativo. Essa dependência constante cria uma sensação de parceria real. Não existe “o jogador forte” ou “o jogador fraco”, pois ambos são necessários em igual medida. E como o jogo é mais calmo, os puzzles exigem raciocínio, tentativa e erro, e uma boa conversa entre os jogadores.
Esse é o tipo de cooperação leve e profunda que, ao mesmo tempo, gera momentos de satisfação quando vocês finalmente resolvem um puzzle complexo e seguem adiante. Nesse aspecto, Unravel Two consegue equilibrar emoção e desafio de forma excepcional, situação poucas vezes vista. Não é difícil ao ponto de frustrar, mas também não é tão simples que se torne entediante. O jogo atinge um ponto perfeito entre contemplação e progressão.

Junto a isso, o jogo é composto por uma trilha sonora suave e paisagens deslumbrantes, e os movimentos precisos dos personagens criam uma experiência totalmente diferente dos jogos cooperativos tradicionais. É um jogo que te faz relaxar, observar, pensar e agir em sintonia com a outra pessoa. E isso, para um co-op, é especial.
Cooperação: a virtude que todos esses jogos têm em comum
Mesmo com estilos tão distintos, os três jogos compartilham uma filosofia clara: cooperação não é opcional, ela é essencial. Não existe um modo single player que tente adaptar a experiência, ou seja, eles de fato foram projetados desde o início para duas pessoas jogarem juntas. Isso faz com que cada detalhe, desde o level design até a estrutura narrativa, seja construído pensando na dupla.
Nos três títulos, a ideia de “avançar sozinho” não existe. Em It Takes Two, cada habilidade é dividida entre os jogadores, criando uma simbiose natural. Em Overcooked 2, as cozinhas são organizadas para forçar colaboração, já que muitos ingredientes ou tarefas só ficam acessíveis a um dos lados. Em Unravel Two, o próprio conceito físico dos personagens está preso à parceria. Desse modo, mesmo que não sejamos experts em cooperação, vamos, invariavelmente, precisar aprender com o outro e entrar em harmonia para conseguir progredir.

Outro ponto em comum é a forma como esses jogos criam memórias compartilhadas. Cada fase vencida em It Takes Two se torna uma história que você e seu parceiro vão relembrar. Cada momento caótico em Overcooked 2 vira uma piada interna. Cada puzzle superado em Unravel Two se transforma em uma sensação de conquista silenciosa. A cooperação ali não é apenas mecânica: ela se transforma em narrativa pessoal. Esse, talvez, seja o maior ponto de convergência entre os jogos: cada um, ao seu modo, mexe com os jogadores e cria um elo emocional importante.
Além disso, o fato de serem jogos cooperativos que, em essência, trabalham aspectos distintos, nos mostra como a cooperação pode ser usada para diferentes propósitos. Seja para unir, para divertir, para desafiar ou para tranquilizar, há um tipo de co-op para cada momento da vida; e se soubermos perceber a força de nos mantermos unidos, poderemos chegar cada vez mais longe. Cooperar, nesse sentido, não se trata de apenas estar do lado, mas também de crescer juntos em prol de um objetivo comum, que é maior do que o ego e o individualismo de cada pessoa.
Quais os benefícios reais de jogar jogos cooperativos
Além da diversão, motivo maior pelo qual nos debruçamos sobre os games, os jogos cooperativos trazem uma série de benefícios reais. Isso pode parecer brincadeira, mas muitos estudos já mostraram que colaborar em jogos fortalece habilidades sociais, como comunicação e até empatia. Isso ajuda a criar laços sociais mais fortes, pois não se trata de vencer o outro, mas de alcançar um objetivo em comum.
Do mesmo modo, jogar em dupla exige que você fale abertamente, explique seu raciocínio, escute o outro e trabalhe junto para encontrar soluções. Sendo assim, é fundamental desenvolver habilidades sociais e uma comunicação eficiente para o jogo poder evoluir. Em It Takes Two, isso aparece logo nos puzzles complexos que exigem coordenação perfeita; em Overcooked 2, na comunicação rápida e eficiente necessária para completar os pedidos; em Unravel Two, na paciência e na capacidade de pensar em conjunto para encontrar o caminho certo.

Além disso, cooperar virtualmente cria vínculos no mundo real. Jogos como esses se tornam memórias que podemos levar para o resto da vida. Ao invés de alimentarmos a competição, marca registrada na grande maioria dos jogos, o que queremos estimular é a ajuda mútua entre as pessoas, uma ideia que, no futuro, poderá ajudar adultos a serem cada vez mais cooperativos na vida social.
Os jogos cooperativos também estimulam habilidades cognitivas importantes, como raciocínio rápido, tomada de decisão e resolução de problemas. Como os desafios são variados, eles forçam o cérebro a pensar de novas maneiras o tempo todo. Isso mostra que jogar de forma cooperativa não é apenas diversão, mas também construção de conexão, desenvolvimento pessoal e fortalecimento de vínculos.
A magia da cooperação
Visto tudo isso, fica impossível não perceber que todos esses jogos compartilham algo muito mais profundo do que apenas mecânicas interessantes. Eles mostram, cada um à sua maneira, que jogar junto é uma experiência única, capaz de transformar um simples passatempo em algo cheio de significado, conexão e emoção.
It Takes Two, com sua narrativa forte e suas mecânicas criativas, prova que relacionamentos podem ser fortalecidos quando duas pessoas enfrentam desafios lado a lado. Ele mostra que a cooperação vai além de resolver puzzles e serve como metáfora para a vida real. Jogar este título é quase como passar por uma terapia divertida, onde entender, escutar e confiar são as verdadeiras armas para avançar. Se conseguirmos levar essa ideia à frente em nossas vidas, o jogo será muito mais que um entretenimento, mas uma pérola de sabedoria que poderá mudar nossa percepção de como conduzir nossas relações.
Overcooked 2, por sua vez, nos ensina a necessidade de manter uma boa comunicação mesmo nos momentos de pressão. Ele te força a rir do próprio desespero, a reorganizar planos a cada cinco segundos e, principalmente, a aprender a importância da comunicação rápida e eficiente. Mesmo com todo o estresse que ele traz, é impossível terminar uma sessão sem sentir que sua dupla saiu mais afiada do que entrou. Ali, a cooperação não é só necessária, mas é principalmente a diferença entre um prato perfeito e uma cozinha em chamas.
E então vem Unravel Two, o mais sensível dos três. Um jogo que não precisa gritar para emocionar, nem nos pressiona com tempo ou diversas tarefas. Sua cooperação é natural, delicada e, ao mesmo tempo, bela. Os personagens, conectados por um fio, representam perfeitamente o que significa depender de alguém que também depende de outra pessoa. Jogar esse game é embarcar em uma jornada de confiança, sincronia e cuidado mútuo, algo quase terapêutico em sua simplicidade.
No fim das contas, esses três jogos mostram que cooperação não é apenas uma questão de jogabilidade, mas uma maneira de enxergar o mundo e aprender a viver de maneira harmônica com os demais. Ela transforma cada vitória em algo compartilhado e cada derrota em aprendizado conjunto, sem culpados, vítimas e algozes. Eles reforçam que jogar a dois significa dividir não só os controles, mas também risadas, frustrações, descobertas e memórias.

E talvez seja exatamente esse o maior poder dos jogos co-op: eles não são apenas bons porque exigem trabalho em equipe, são especiais porque fazem a gente querer trabalhar em equipe. Eles despertam um lado nosso que, às vezes, fica escondido no dia a dia, mascarados pela competitividade feroz que nos assola desde os primeiros anos de existência. Porém, escondido sob essa grande sombra no mundo atual, há a vontade de colaborar, de ajudar e de confiar uns nos outros.
Portanto, se você nunca experimentou nenhum desses três jogos, vale demais dar uma chance. Escolha o estilo que mais combina com você e com a pessoa que vai jogar do seu lado. O importante é viver a experiência, porque, depois que você sente a magia da cooperação em um bom co-op, dificilmente volta atrás.
Para continuar refletindo: vale a pena ler “Eduque o algoritmo das redes sociais: treine o seu feed e a sua mente”, é um convite para cultivar atenção, escolhas conscientes e relações mais saudáveis, também fora do universo dos games.




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