“Zelda”: Por Que Essa Franquia Inspira Gerações?

Zelda sempre foi mais do que um jogo. Para muitos jovens, ele foi o início de uma jornada que os levaram para um mundo de fantasia, monstros, aventuras e que foi preciso desenvolver coragem e heroísmo para superar seus desafios. Desde as primeiras telas pixeladas até os mundos gigantescos e vivos da atualidade, Zelda nos convida a participar de algo maior do que simplesmente apertar botões e talvez por isso seja aclamado como um dos grandes jogos da história. Mais do que missões e gráficos belos, o jogo nos faz vibrar com uma jornada digna de heróis, e isso nos leva a acreditar que existe um herói dentro de cada um de nós. 

Zelda

Para alcançar esse feito, é evidente que é preciso muito mais do que uma boa maneira de construir um jogo. A magia que Zelda causa em seus jogadores está, na verdade, na maneira como se constrói sua narrativa. É como se cada capítulo da franquia conseguisse contar uma história simples e, ao mesmo tempo, profunda. E quando falamos em uma história profunda, não imagine diálogos complexos, enigmas filosóficos ou coisas desse gênero, mas sim a capacidade de falar tudo que é necessário apenas mostrando cenários e diálogos curtos, de maneira a nos fazer mergulhar na história e imaginar o passado, presente e futuro daquele local fictício.

Assim, quando começamos a acompanhar Link, o protagonista da história, recebendo sua primeira espada ou ouvindo a frase “It’s dangerous to go alone,” entendemos uma mensagem importante sobre o dever que, apesar dos perigos, precisa ser realizado. Percebe que não precisamos nos estender em grandes monólogos sobre essa virtude? Muito menos explicar detalhadamente os perigos? Com um símbolo, a cena já nos traduz tudo que precisamos compreender. A grandiosidade de Zelda está nisso: na capacidade de transformar cenários fantásticos em metáforas sobre a vida, algo que quanto mais crescemos, mais passamos a compreender o que realmente essa aventura quer nos contar.

A evolução da franquia

Frente a magia desse jogo que arrasta milhões de fãs pelo mundo, precisamos falar sobre como tudo começou. A saga teve seu início em 1986, com gráficos simples e uma proposta revolucionária: permitir ao jogador explorar um mundo aberto cheio de segredos. Para a época, isso foi uma quebra de paradigma, afinal, os jogos até então guiavam o jogador por um único caminho, sem a liberdade de que o próprio jogador explorasse o ambiente e achasse, por conta própria, a forma adequada de prosseguir. Mesmo com toda a simplicidade técnica (vale lembrar que era um jogo dos anos 1980!), aquele primeiro título carregava algo especial, a sensação de liberdade que poucos jogos eram capazes de oferecer.

Evolução do Zelda

Nos anos 1990, Zelda entrou em uma fase que mudaria para sempre o curso dos videogames. O lançamento de Ocarina of Time marcou uma revolução na maneira como jogos em 3D eram concebidos. A transição para esse novo formato trouxe uma profundidade não apenas técnica e estética, mas principalmente na ligação com os jogadores. 

Até hoje esse é um dos jogos mais bem sucedidos da franquia, conquistando jogadores do mundo inteiro. As gerações dos anos 1990 e 2000 cresceram dentro desse universo do Ocarina Of Time e, certamente, ainda se lembram da primeira vez em que entraram no Campo de Hyrule e sentiram como se estivessem realmente dentro daquele universo. O mundo deixava de ser apenas pixels e tornava-se um espaço vivo, cheio de histórias, perigos e descobertas.

Conforme a tecnologia avançou, a franquia continuou se reinventando sem perder sua essência. A expansão do conceito de mundo aberto, especialmente com “Breath of the Wild” e posteriormente com “Tears of the Kingdom”, redefiniu o gênero de exploração. Esses jogos não apenas deram liberdade ao jogador, mas também o recompensavam pela ousadia de explorar o mundo. Cada montanha escalada, cada enigma resolvido, cada inimigo derrotado parecia uma conquista alcançada pela inteligência e pela coragem pessoal, e não apenas pelo personagem.  Consequentemente, cada missão feita nesses locais remotos liberaram novas armas e possibilidades aos aventureiros.

Breath of the Wild, em particular, se tornou um fenômeno cultural. Ele não só conquistou críticas e prêmios como também reacendeu em milhões de jovens o fascínio pelo desconhecido. A sensação de olhar para um horizonte distante e decidir ir até lá apenas porque você quer é algo raro, e Zelda fez disso uma experiência palpável.

O heroísmo em Zelda

Apesar da revolução causada por Zelda, o que realmente garante a fidelidade e o amor dos fãs pela franquia? Será apenas o fato de ser um jogo bonito, que quebrou paradigmas? Em nossa perspectiva, acreditamos que não. Entendemos que o grande ponto de virada de Zelda está na capacidade de alimentar no jogador a virtude do heroísmo, algo que cada vez mais nos falta na vida cotidiana. 

Vamos explicar, então, o que estamos chamando de “heroísmo”. Essa palavra vem do grego hērōs, que originalmente descrevia figuras semidivinas, dotadas de coragem e virtudes extraordinárias. Esses heróis não eram apenas guerreiros fortes, mas indivíduos que se destacavam por ações que ultrapassam o comum e beneficiam a coletividade. Certamente você já ouviu falar de alguns desses heróis gregos, como Hércules, Perseu, Teseu e Jasão. 

Zelda 4

Entretanto, com o tempo, o termo se espalhou pela literatura, mitologia e cultura, adquirindo um significado cada vez mais humano. Hoje, a etimologia nos lembra que o herói não nasce perfeito nem divino; ele surge da disposição de agir além de si mesmo e enfrentar desafios que muitos evitariam. Assim, Link, nosso grande personagem que busca salvar a princesa Zelda, é o retrato fiel do que podemos entender como herói, pois ele não é senão um ser humano comum que, ao lançar-se ao desafio de resgatar a princesa, enfrenta vilões, desafios e vai adquirindo poderes ao longo dessa jornada. 

E por que isso inspira tanto as pessoas? Evidentemente, nos dias atuais, o heroísmo não está mais restrito às batalhas épicas ou feitos grandiosos, mas sim atrelado à capacidade de enfrentar os desafios sem se perder no caminho. Logo, ser herói hoje significa assumir responsabilidades quando é mais fácil desistir, manter valores quando é mais simples ignorá-los.

Desse modo, quando embarcamos na aventura com Link, também queremos superar os desafios do nosso cotidiano e nos manter tão fiel quanto ele em sua busca. O jogo se torna inspirador por nos revelar que nós, ao nosso modo, também podemos ser heróis em nossos cenários reais, e isso nos desperta um tipo de força que não precisa de glória, muito menos superar dragões e feiticeiros, mas de integridade ao nosso dever, seja qual for. O herói moderno, portanto, é aquele que se compromete com o que acredita ser certo, mesmo quando ninguém está assistindo. Ele reconhece seus medos, mas, apesar deles, decide agir assim como Link, que, mesmo sem ser um personagem poderoso, coloca-se em risco para salvar Zelda.

Zelda 5

Visto isso, podemos ver que o heroísmo sempre foi o coração pulsante de Zelda, mas não apenas no sentido clássico de derrotar monstros ou salvar um reino inteiro. O heroísmo apresentado na franquia é profundamente humano. Link não é escolhido por falar bem, nem por ter um corpo perfeito, nem por ser alguém cercado de fama. Pelo contrário, ele é alguém que poderia facilmente passar despercebido em qualquer vila de Hyrule, pois o herói é, muitas vezes, aquele que está disposto, mesmo sem ter as armas ou habilidades necessárias no início de sua jornada.

É por isso que, para os jogadores, é impossível não se identificar com Link. Em cada missão, fica nítido que ele raramente tem as respostas e precisa, naturalmente, buscar conselhos, investigar em cavernas e achar, da maneira que seja necessária, as soluções para seguir sua jornada. Do mesmo modo, ele raramente está preparado para enfrentar os desafios e, mesmo assim, quando algo maior do que ele surge, ele não desiste. Esse tipo de coragem tem um impacto especial, principalmente nos jovens que estão começando a lidar com responsabilidades, escolhas e mudanças que parecem gigantescas demais. O que Zelda mostra é que o herói não é quem não tem medo, mas sim quem decide caminhar apesar do medo.

Como podemos perceber, esse tipo de narrativa desperta em nós uma inspiração quase imediata e, para alguns, inconsciente. O fato da história ser construída a partir de um personagem comum, sem ser um grande cavaleiro ou guerreiro, nos mostra que o verdadeiro herói é aquele que consegue enfrentar o impossível, pois sabe que isso é necessário para o bem do Todo. E se isso é possível em um mundo fictício, por que não seria possível em nosso próprio mundo? 

Como falamos, não precisamos enfrentar monstros, apenas a nós mesmos nos ambientes que já são nossos, como a escola, a casa, nossas amizades etc. Zelda, portanto, funciona como um lembrete de que heroísmo não é um talento especial, que só poucos devem possuir, mas, na verdade, é uma escolha que precisamos fazer todos os dias.

Os personagens e seus arquétipos

Agora que entendemos o que nos inspira nessa franquia de jogos, não podemos deixar de falar sobre os personagens que marcam cada um dos games. É natural que Link, como já falamos acima, seja o mais emblemático e reconhecido desses personagens. Não por acaso, aos jogadores desavisados, muitas vezes algumas pessoas acham que o nome “Zelda” é devido ao nosso herói, quando, na verdade, esse é o nome da princesa que precisamos resgatar.

Zelda 2

Visto isso, vamos entender um pouco mais sobre alguns desses personagens icônicos. Primeiramente, devemos entender que os personagens de Zelda são peças fundamentais para transformar a franquia em uma experiência marcante. O exemplo maior disso é, de fato, Link, pois o jogador facilmente identifica-se com seus dilemas e necessidades. Porém, além disso, os personagens se mostram como arquétipos, que representam partes importantes do que significa ser humano. 

Link é o herói que age por dever. Já não precisamos abordar tanto sobre ele, visto o que falamos acima. Zelda, por sua vez, é a personificação da sabedoria. Em muitas linhas da história, ela representa o conhecimento que guia, ilumina e orienta o herói em seu caminho. Mas ela não é apenas uma figura passiva, ou seja, uma princesa que precisa ser resgatada. 

Em vários jogos, Zelda assume papéis de liderança, enfrenta perigos e toma decisões difíceis em nome do bem maior. Além disso, é ela quem compreende a lógica das profecias, quem conhece a história do reino e quem orienta o caminho que Link deve seguir. Isso a torna mais que uma princesa: a torna a responsável por manter viva a memória coletiva de Hyrule e garantir que o ciclo heroico possa se completar. Ela é a prova de que sabedoria não significa simplesmente ter um vasto conhecimento, mas saber escolher com clareza, mesmo sob pressão.

Já Ganondorf, o grande antagonista, é muito mais do que um vilão clássico. Ele é o reflexo dos medos que lutamos para controlar. Em cada versão sua, Ganondorf representa ambição desmedida, orgulho, raiva e o desejo de controlar tudo ao redor. Ele é o símbolo do poder corrompido, a manifestação arquetípica da ambição que ultrapassa limites e a personificação do ciclo eterno da sombra que se contrapõe à luz de Zelda e à coragem de Link.

Por mais que seja uma figura a ser derrotada, ele também simboliza batalhas internas que todos nós enfrentamos, como inseguranças, frustrações e impulsos. Ganondorf, portanto, é a expressão do que acontece quando deixamos esses sentimentos crescerem sem autoconhecimento. A vitória sobre ele representa a vitória sobre o pior que pode existir dentro de nós.

Esses três personagens, juntos, formam um triângulo emocional que faz Zelda transcender o conceito de jogo. Eles representam coragem, sabedoria e poder; e todos nós passamos a vida tentando equilibrar essas três forças, seja usando-as de maneira positiva ou negativa. É por isso que as histórias da franquia ecoam tão profundamente dentro de nós, mesmo anos depois de desligarmos o console, pois elas falam sobre humanidade, sobre escolhas, sobre quem somos e sobre quem queremos nos tornar.

Zelda como inspiração para nossa própria história

Frente a isso, podemos entender que cada pessoa está vivendo sua própria jornada de herói. Isso não é uma teoria, mas uma verdade: cada um de nós enfrenta seus próprios desafios, não nascemos prontos e precisamos nos construir para chegar até o nosso destino. Zelda é capaz de nos mostrar essa realidade através do jogo, por isso nos identificamos tanto com a jornada de Link. Em praticamente todos os jogos da franquia, vemos um personagem comum assumir uma responsabilidade que parece muito além de suas capacidades iniciais. Ele hesita, falha, descobre habilidades que não sabia que tinha e, pouco a pouco, se transforma. 

Quando pensamos em nossas próprias lutas, sejam elas emocionais, acadêmicas, sociais ou até espirituais, percebemos que muitas vezes somos colocados diante de situações que não pedimos, mas que precisam ser enfrentadas. E é aí que Zelda se torna mais do que entretenimento, pois, para os jogadores atentos, a saga de Link pode ser uma forma de encontrar respostas para nós mesmos.

Vamos exemplificar: primeiramente, o jogo nos mostra que ninguém começa preparado. Logo, quando nos sentimos inseguros quanto a uma nova aventura, seja no trabalho ou em qualquer outro aspecto, podemos lembrar disso. Zelda também nos ensina que a coragem nasce da necessidade, assim como a força nasce do esforço e a sabedoria é adquirida como consequência das escolhas que fazemos. 

Ao juntarmos tudo isso, podemos perceber que a sabedoria é, de fato, a nossa finalidade, que nascerá por meio do exercício dos nossos valores. Assim, quando nos sentimos perdidos no mar da existência no qual a Vida por vezes nos coloca, podemos pensar dessa maneira e enxergar quais valores estamos precisando exercitar para encontrarmos o nosso rumo novamente.

Outra lição importante está nas escolhas que fazemos. Em vários jogos, o caminho não é linear e, a depender das nossas decisões, podemos demorar mais, ou menos, até alcançar o objetivo final. Como um jogo desenvolvido em um mundo aberto, é natural existirem desvios, roteiros alternativos e possibilidades diferentes à medida que avançamos no jogo. E não precisamos nos esforçar para perceber que isso também ocorre em nossas próprias vidas, não é mesmo? Não existe apenas um caminho correto para seguir, e cada decisão traz consequências, mas nenhuma delas precisa ser definitiva; afinal, sempre poderemos retroceder, rever nossas escolhas e encontrar, naturalmente, outros caminhos mais adequados.

No fundo, o que mais inspira é a mensagem de que todos nós carregamos dentro de nós a capacidade de ser heróis. Não heróis de fantasia, mas heróis de nossas próprias histórias. Zelda nos ajuda a entender que heroísmo não é sobre ser invencível, e sim sobre continuar tentando. E é essa mentalidade que transforma as nossas vidas, pois ela nos reposiciona frente ao mundo e a nós mesmos. Passamos a construir o nosso próprio caminho, e nossos sonhos vão, aos poucos, ganhando os ares da realidade.

Por que Zelda continua criando heróis fora das telas?

Como podemos perceber, Zelda não é apenas uma franquia de jogos que atravessou décadas, mas um verdadeiro campo de ideias que podem nos inspirar. Não é por acaso que os seus jogos continuam a atravessar gerações, pois eles são capazes de despertar em nós o desejo de sermos heróis de nossa própria existência, nos impulsionando a crescer, a encontrar um propósito e a enfrentar o desconhecido mesmo com o coração acelerado. Ao longo de cada jogo, aprendemos que coragem não é ausência de medo, mas a habilidade de seguir em frente apesar dele. Vemos que a sabedoria se constrói com erros e acertos, que o verdadeiro poder não está em dominar os outros, mas em dominar a si mesmo.

Zelda 3

Por fim, a beleza de Zelda está em mostrar que todos nós temos uma missão, mesmo que ela não seja tão épica quanto salvar um reino. Às vezes, a missão é aprender a lidar com nossas emoções, encontrar nosso caminho profissional, fortalecer nossas amizades ou descobrir quem realmente queremos ser. E tudo isso, por mais simples que pareça, exige coragem e sabedoria, armas que ao longo da jornada de Link o ajudam a superar seus medos e desafios.

É por isso que Zelda continua inspirando gerações, porque, no fundo, cada jogador percebe que sua vida também é uma história em construção. E, assim como Link, nós podemos errar, tentar de novo, trilhar rotas inesperadas, vencer medos e descobrir que somos capazes de muito mais do que imaginávamos. Zelda, enfim, nos faz recordar que o verdadeiro herói que buscamos não está nas telas, mas dentro de nós mesmos. É nossa maior missão despertá-lo para vivermos nossas próprias aventuras.

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