O filme “Okja” nos conta uma linda história de Afeto e Amizade entre uma garotinha e a sua “super porca”, de mesmo nome. Toda a saga acontece em torno da luta que a menina trava contra tudo, e contra todos, para não se ver separada do seu animal de estimação. É incrível como estabelecemos conexão e nos identificamos com a batalha da garota frente aos caprichos de uma sociedade ambiciosa e superficial como a apresentada.
Ao longo das cenas, o filme nos traz reflexões plausíveis sobre o modelo societário no qual vivemos, apesar de alguns pontos de ficção e fantasias. Além do mais, o mesmo nos convida a refletir sobre os valores e virtudes humanas como a Bondade, a Empatia e o Respeito a toda e qualquer forma de vida. Pois, sem perder de vista o debate sobre temas tão atuais como os limites e possibilidades de uma ciência voltada aos caprichos e ganância do capitalismo, a influência da mídia, na formação da opinião pública, e a força das grandes corporações influenciando as agendas políticas dos países, o longa também trata sobre o quanto a nossa vida se tornou artificial e o quanto as nossas relações têm sido pautadas pela mecanicidade e pelas regras comerciais advindas do atual sistema econômico.
Toda a trama se dá quando uma poderosa empresa, representada pela CEO Lucy Mirando, resolve apresentar ao mundo uma nova espécie animal recém-descoberta no Chile. Criada em laboratório, dezenas desses animais são enviados para diversos países com o compromisso de serem apresentados à cultura local e, após 10 anos, cada tutor deverá permitir que os “super porcos” participem de um concurso que irá escolher qual o animal melhor se adaptou. Dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon, o filme traz como base uma conjuntura social dominada pelas grandes corporações que se utilizam de “falsas” preocupações ecológicas ou ambientais para atingir seus fins puramente mercantis, e dissimulados pelas mídias com poderosas peças de marketing.
É claro que cada telespectador, a partir de suas vivências e experiências, poderá focar em diferentes pontos da trama, ou mesmo, tirar várias lições, pois o filme realmente permite isso. Entretanto, um dos pontos que merece destaque é o quanto podemos aprender com a relação de afeto estabelecida entre a garota e o animal. Uma vez que, diferente do mundo e das relações superficiais que a cercam, ela consegue estabelecer um contato profundo com Okja, e, por isso, começa a perceber a vida para além das superfícies. Assim como uma flor de lótus que passa a gerar beleza e pureza dentro de um lamaçal, todos nós podemos gerar atos e ações belíssimas a partir de situações adversas se nos propormos a nos conectar com o coração de cada coisa com que cruzamos ao longo de nossa caminhada.
Mas, para vivermos a profundidade de sentimentos que a vida nos pede, é vital nos comprometermos, gerar vínculos e fortalecer os nossos laços afetivos. O problema é que, infelizmente, essas não são as prioridades que, em geral, as pessoas buscam na atualidade. Hoje, há uma ode para não se comprometer com nada nem com ninguém, e as relações interpessoais estão cada vez mais pautadas pelos contratos comerciais, em detrimento dos valores humanos.
Diante desse quadro, só nos resta compreender que não é próprio da humanidade assistir a vida como um mero expectador, mas participar dela como um colaborador ativo e nos reposicionarmos como tal. Para isso, é imprescindível, aprender e desenvolver sentimentos e vínculos profundos com a vida e com tudo que nela se expressa. Só assim, aprenderemos ou reconheceremos o valor real por trás de cada coisa.
Tendo em vista que é pelos sentimentos que nos integramos e participamos de tudo que nele há. Além disso, nos serve para explicar ou descrever o que não conseguimos dominar, mas só os verdadeiros sentimentos nos abrem a visão e nos dão a chave para abrir a porta e atravessar a sala das comodidades aparentes. No fundo, os sentimentos nos dão o passaporte de conexão com os mistérios da vida. O grau de intensidade com que aprenderemos, dependerá do compromisso e da responsabilidade que estabelecemos não só com o valor da nossa vida, mas com a valorização da vida dos demais.