Uma antiga frase diz que “Nada se compara ao amor de uma mãe”. De fato, se observarmos cuidadosamente, perceberemos que o sentimento de mãe é uma das forças mais profundas da humanidade. Ainda assim, muitas vezes, esquecemos de valorizá-lo como deveríamos, afinal, os filhos nem sempre correspondem a toda devoção que a mãe os dedica. Entre rotinas, compromissos e desafios da vida moderna, é comum deixar passar despercebida a grandeza dessa presença fundamental.
Pensando nisso, hoje falaremos do filme ”O Maior Amor do Mundo”, dirigido por Garry Marshall, pois o longa-metragem é preciso e surge como um lembrete acerca da importância de celebrarmos essas mulheres que moldam nossas vidas. Muito mais do que uma comédia romântica, o longa se transforma em um mosaico de histórias cruzadas que revelam os desafios, alegrias, culpas, reencontros e sacrifícios que fazem parte da experiência materna. Junto a isso, esse filme consegue algo raro: fazer rir e emocionar ao mesmo tempo, enquanto lança um olhar afetuoso sobre os diversos rostos da maternidade.

Sobre o que trata o filme?
De modo objetivo, “O Maior Amor do Mundo” acompanha um grupo de personagens cujas vidas se cruzam na semana que antecede o Dia das Mães. Cada um lida com questões familiares, afetivas e identitárias de formas diferentes, e todos, de algum modo, são atravessados pela figura materna.
Acompanhamos principalmente Sandy, uma mãe divorciada que precisa lidar com o fato de que o ex-marido se casou com uma mulher bem mais jovem. A presença da nova madrasta em sua vida e na de seus filhos a faz sentir-se substituída e deslocada, o que a leva a refletir sobre seu papel como mãe e mulher.
Outro personagem importante é Bradley, um viúvo tentando criar suas duas filhas após a morte repentina da esposa. Com dificuldade em aceitar a perda e em abrir espaço para novas relações, ele se recusa a celebrar o Dia das Mães, mesmo com o desejo das filhas de homenagear a mãe falecida.
Ainda acompanhamos a história de Jesse e Gabi, irmãs que romperam laços com a mãe devido a divergências ideológicas. Jesse é casada com um homem indiano e Gabi, com outra mulher; e ambas escondem essas realidades de seus pais conservadores. O reencontro, porém, se torna inevitável quando a mãe delas aparece de surpresa.
Essas histórias se entrelaçam ao longo do filme, convergindo para uma celebração simbólica da maternidade, com reconciliações, descobertas e compreensões profundas que tocam o coração. Desse modo, o filme não é apenas uma forma de entretenimento, mas também é uma obra que nos mostra como a maternidade pode ser um fio que entrelaça diferentes formas de vida e une todos que vivenciam o valor de uma mãe.
O que podemos aprender com esse filme?
A força desse filme não está apenas no humor ou na leveza, mas na forma como revela as camadas complexas do que é ser mãe. O filme mostra que a maternidade é multifacetada: pode ser solitária, desafiadora, alegre, confusa, instintiva e, ao mesmo tempo, profundamente gratificante. A escolha de contar várias histórias revela exatamente esse aspecto múltiplo da experiência materna: cada personagem representa uma perspectiva distinta da maternidade.
Sandy sente-se descartada, mas continua sendo o porto seguro dos filhos; Bradley tenta compensar a ausência da mãe com esforços heroicos e um amor silencioso; Jesse e Gabi enfrentam a rigidez da mãe, mas também descobrem que o amor materno pode sobreviver ao preconceito. A comédia do filme funciona como uma moldura para temas profundos: abandono, reconciliação, identidade, culpa e redenção. Mais do que respostas, o filme oferece perguntas: Quem é a verdadeira mãe? Como conciliar as expectativas da sociedade com os desafios internos da maternidade? O que significa cuidar, amar, estar presente?

Essas perguntas são, ao mesmo tempo, simples e impossíveis de responder. Quando nos aprofundamos em cada uma delas, percebemos o quanto é desafiador ser mãe e como esse papel, quando bem vivido, pode nos levar a uma nova compreensão do que é dedicar-se a algo que não seja nós, apesar de ter saído de dentro de si. Os filhos, como diria Gibran, são uma dádiva do mundo e foram feitos da ânsia da vida, sendo os pais, apenas o arco que atira essa flecha. As mães, portanto, jamais abandonam os filhos, mesmo nas piores situações ou eventos.
Algo que chama atenção é que boa parte das histórias retratadas no filme mostra que a presença da mãe é muitas vezes sentida mais intensamente na ausência. Seja física, emocional ou simbólica. Esse fato não é por acaso: de fato, muitas vezes só percebemos o valor de algo quando perdemos. Assim, nesses momentos, descobrimos o quanto é valoroso ter conosco a proteção e amor dos nossos pais e, nesse caso específico, das nossas mães.
O que é o amor de mãe?
Em “O Maior Amor do Mundo”, vemos uma clara desconstrução do mito de que a maternidade se limita à biologia. Sabe-se que mãe não é apenas quem faz vir ao mundo uma criança, mas sim quem ama de verdade seus filhos, sejam eles nascidos ou adotados. No filme, vemos o caso de Miranda, que é mãe biológica de Kristin, mas não esteve presente em sua vida. Ainda assim, quando as duas se encontram, algo poderoso acontece: há um reconhecimento silencioso de que aquele vínculo existe, mesmo que mal construído.

Por outro lado, os pais adotivos de Kristin desempenharam, por toda sua vida, o papel de formadores, de referência, de sustentação. Isso reforça que maternidade, ou paternidade, não é apenas uma questão de sangue, mas também de vínculo, de cuidado, de presença constante ao longo do tempo.
Refletir sobre isso é interessante, pois mostra como o amor nasce de uma decisão e não de um instinto. O que chamamos “instinto materno” nada mais é do que a decisão de amar incondicionalmente alguém. Isso pode ser desenvolvido não apenas com os filhos, mas com qualquer outro ser. O fato é que aos nossos filhos, que representam a continuação de nossa geração, nos parece ser mais “simples” desenvolver esse amor; porém, reforçamos que tudo isso nasce de uma decisão.
Amar, portanto, exige sacrifícios e isso é perfeitamente demonstrado ao longo do filme. As mães são capazes de doar tudo que têm para seus filhos e de renunciar ao conforto para fazê-los felizes – muitas vezes, sem que ninguém perceba. Em nossos tempos, podemos constatar diariamente tal movimento. Quantas vezes uma mãe abriu mão de sua carreira profissional, do seu descanso, reconhecimento e tranquilidade por causa dos filhos? Todos esses sacrifícios são silenciosos e, infelizmente, não reconhecidos pelos demais. Mesmo que cada uma tenha seu limite e suas circunstâncias específicas, há algo em comum em todas: a capacidade de colocar o outro em primeiro lugar, sem que isso se transforme em uma cobrança explícita.
Sendo assim, o valor de uma mãe está no que ela faz quando ninguém está vendo, quando ninguém agradece, quando todos dormem. É o cuidado silencioso, a paciência em ensinar, a resistência diante da dor, o perdão diante da ofensa. É esse valor que “O Maior Amor do Mundo” tenta resgatar, mesmo que por meio do riso e da leveza.

Talvez um dos recados mais importantes do filme, e da própria vida, é que, muitas vezes, só valorizamos a mãe depois de perdê-la, ou quando já estamos longe demais. A presença da mãe é tão constante, tão garantida em nossa rotina, que pode se tornar invisível. No entanto, como o ar que respiramos, só sentimos falta quando ela já partiu. A grande tônica, então, é esta: o valor de uma mãe não se mede em datas comemorativas, nem em presentes caros. Ele está no cotidiano, nas lembranças, na formação do nosso caráter. Mãe é quem nos ensina o que é amor – muitas vezes, sem precisar dizer nada.
Por fim, “O Maior Amor do Mundo” é mais do que uma comédia sobre o Dia das Mães. É um retrato sensível e afetuoso das diversas formas que a maternidade pode assumir na vida moderna. Ao reunir histórias que dialogam com perdas, reencontros, perdões e recomeços, o filme nos lembra que toda mãe tem sua história, seus dilemas, suas escolhas e que nenhuma delas é fácil. Necessitamos, portanto, reconhecer o valor inestimável de nossas mães perante o mundo e devolver, mesmo que não seja necessário, o amor que elas depositam em nós. Não por uma questão de compensação, mas sim por reconhecer que se chegamos até aqui, foi graças ao esforço incondicional dos nossos pais.
Esse reconhecimento não precisa esperar o Dia das Mães. Ele deve acontecer agora, enquanto ainda há tempo de ouvir, de agradecer, de abraçar, porque, no fim das contas, mãe não é apenas alguém que nos deu a vida — é alguém que nos ensina como vivê-la.
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