O filósofo indiano Sri Ram no seu livro “O Interesse Humano”, afirma que hoje, mais do que nunca, há a necessidade de um verdadeiro interesse pelo Ser Humano.
“Em um mundo cada vez mais automatizado e especializado precisamos de uma visão total, de um interesse genuíno pelo outro. Não um interesse naquilo em que o outro pode me beneficiar. Há muitos momentos em que valorizamos mais aquelas pessoas que podem interferir em nossas necessidades.” Um bom exemplo são as relações conjugais. Às vezes, enquanto o outro nos dá proteção, aconchego, satisfaz nossos prazeres e nos ajuda a conquistar nossos objetivos, o tratamos como “o amor de nossas vidas”. Mas, a partir do momento em que ela, ou ele, resolve viver outra história, passa a ser o vilão.
Para desenvolvermos esse interesse puro pelo próximo é fundamental entendermos o ponto de vista dos outros. É o que Sri Ram nos diz: entender o ponto de vista alheio exige que passemos pelo menos por um momento a ver o mundo com os seus olhos. Vivemos uma época de liberdade, mas são tempos confusos. As pessoas podem ir e vir, ter seus próprios bens, mas parece que não podem pensar como bem lhes aprouver. Qualquer opinião parece trazer consigo apenas duas reações possíveis: uma concordância cega e irrefletida, ou uma reação negativa, violenta e contrária.
Esquecemos que somos muitos. Cada Ser Humano nasce numa margem desse rio que chamamos de Vida, e é dessa margem que ele segue na direção da foz. Talvez nos encontremos todos lá e por isso essa separação momentânea seja ilusória. Mas, o fato é que ninguém vê o mundo exatamente igual a ninguém, por isso é natural que discordemos. Mas, essa discordância frequentemente beira a intolerância e a violência e precisamos encontrar uma forma de superar essa tendência, ou estaremos fadados a desaparecer enquanto civilização.
O segredo da vida em sociedade está em criarmos pontes entre essas margens. Cada um vê a vida de um ponto, por isso, ao atravessar para outras margens não perdemos a nossa, acrescentamos mais um ponto de vista. E se essa nova margem que integramos não nos fornecer uma imagem agradável, voltemos à nossa. Mas, nesse exercício, talvez encontremos novas e deslumbrantes paisagens, ou atalhos para chegarmos melhores ao nosso destino. Esse exercício de ir até o outro, de sentir a vida com ele, de trazê-lo para dentro de seu coração pode ser chamado de Empatia.
A Dra Brené Brown passou uma década pesquisando o comportamento humano. Especialmente na Universidade do Texas em Austin e na Universidade de Houston. Ela se interessa pelos temas da vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia. Neste último tema, as palavras da Dra Brené se encontram com os escritos de Sri Ram. A instituição britânica, Royal Society of Arts (RSA), preparou um vídeo em que Brown explica a diferença entre empatia e simpatia.
Ao verem o vídeo, poderão perceber que a Empatia é exatamente a necessidade de considerar o ponto de vista dos outros. E isso só será possível quando nos interessarmos verdadeiramente pelas pessoas ao nosso redor.
No vídeo, ela destaca quatro elementos para a Empatia:
1 – Tomada de perspectiva – a habilidade de atravessar o rio e ver a vida a partir dos olhos do outro, ou de pelo menos reconhecer que seu ponto de vista é a sua verdade e, que ela tem tanto direito quanto nós de tê-lo;
2 – Não fazer julgamentos – numa sociedade em que emitimos opiniões sobre tudo, e que apressadamente julgamos e cancelamos, não fazer julgamentos precipitados é um desafio e tanto. Mas, isso é fundamental, pois se nós julgamos, corremos o risco de fechar uma porta ao encontro e tomar conclusões erradas;
3 – Reconhecer as emoções dos outros – ver a Humanidade alheia, saber que assim como nós, o outro pode se irritar, sofrer, se alegrar. Vê-lo como um Ser Humano inteiro e pleno;
4 – Comunicar isso – externar esse interesse humano, deixar que o outro saiba que você o respeita e mostrar uma atitude sincera. É o início da construção da ponte.
Empatia é sentir o outro. É ultrapassar a barreira do sentimentalismo superficial e ser parte da cura que o outro precisa. É descer até as profundezas do nosso ser e encontrar lá algum elemento que nos leve a compreender a dor do outro.
A Empatia é diferente da simpatia. Quando simpatizamos, não nos conectamos verdadeiramente. Embora o que nos mova seja provavelmente alguma sincera busca por diminuir a dor do outro. Mas, se não formos até ele, corremos o risco de não ajudá-lo, ou ainda, de piorar a situação, porque se não compreendemos profundamente o que move uma pessoa, não temos como iluminar a sua experiência. A simpatia sente necessidade de falar, acha que com as palavras certas tudo se resolverá. Mas, frequentemente, ela não vai ao centro gerador da dor e, por isso, suas sugestões são superficiais e sem efeito prático. Imaginemos que alguém perdeu um filho, movidos pela simpatia, querendo ajudar, podemos dizer: – Pelo menos você tem outro filho! Mas, quem é mãe de verdade sabe que cada filho é insubstituível. Para nos conectarmos com alguém nessa situação, precisaríamos encontrar algo que para nós também não pode ser substituído e imaginar a dor de perdê-lo… Diante dessa dor, talvez nós entendamos que não há palavras suficientes e que o melhor a fazer é estar presente… Isso é Empatia.
Precisamos de mais Empatia no nosso dia a dia. Precisamos de mais encontros reais. Precisamos de Homens e Mulheres como Brené Brown e Sri Ram. E que tal sermos mais empáticos hoje mesmo? Que tal construirmos pontes que nos permitam chegar à foz juntos e unidos? Quem sabe isso não nos ajude a entender porque estamos aqui.