Pentecostes: O Significado Espiritual e Universal de um Recomeço

Pentecostes, como muitos ritos de passagem na história da humanidade, representa um momento simbólico de renovação e transformação espiritual. Demarcamos o tempo como um símbolo de cada momento em que vivemos, seja no mundo atual ou em qualquer outro tempo histórico. Nesse aspecto, a religião foi extremamente usada para simbolizar momentos de maior ou menor espiritualidade e, por isso, o calendário que ainda hoje usamos é, em grande medida, regido pelas festividades religiosas.

O calendário litúrgico pauta festas, feriados e, direta ou indiretamente, tocam a todos, mesmo aqueles que não cultuam uma religião. Assim, podemos dizer que ela perpassa o aspecto sagrado e adentra à cultura, pois influencia toda a sociedade e seus costumes. No caso do nosso país, multifacetado e de diferentes expressões, uma das formas religiosas mais presentes é o catolicismo, tendo a maior parte da população sendo seguidora dessa doutrina. Não por acaso, vivemos um calendário com muitos feriados em homenagem a santos e também em referência à morte e ressurreição de Cristo e à vida dos apóstolos. 

Representação artística da descida do Espírito Santo no Pentecostes
O Espírito Santo e o início de uma nova missão

Uma data importante dentro do nosso calendário é o dia de Pentecostes, tradicionalmente celebrado por diversas tradições cristãs como o momento em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos. No entanto, ao olharmos com atenção para o que essa data representa, percebemos que ela toca dimensões humanas universais e fala muito mais sobre a humanidade do que apenas uma experiência religiosa de algumas pessoas. Podemos, portanto, dizer que, mais do que um evento exclusivo da tradição cristã, o Pentecostes pode ser compreendido como um símbolo daquilo que se renova dentro de cada um quando somos impulsionados por ideias novas, por um espírito de união ou por um chamado a algo mais elevado.

O que é o dia de Pentecostes?

Historicamente, o dia de Pentecostes tem sua origem no calendário judaico. Ele era celebrado cinquenta dias após a Páscoa, como a festa da colheita, que para os judeus chama-se Shavuot. No entanto, na tradição cristã, o Pentecostes passou a ter outro significado. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, foi nesse dia que o Espírito Santo desceu sobre os seguidores de Jesus, reunidos em Jerusalém, enchendo-os de coragem e sabedoria para anunciar a nova mensagem que carregavam.

Esse fato marca o começo da expansão da fé cristã, uma vez que, após esse momento, os apóstolos decidiram dedicar suas vidas em prol do ideal de amor que Jesus tinha apresentado a eles. O relato que encontramos pode parecer fantástico aos olhos dos mais céticos, afinal, como se explica essa “descida” do Espírito Santo? Seria possível algo dessa magnitude? Se para alguns a fé basta para explicar tais fenômenos, para outros é preciso compreender mais profundamente o que isso significa. 

Primeiramente, é fundamental entendermos que, ao nos depararmos com uma leitura de um livro sagrado ou mesmo um relato que envolva o aspecto religioso, é importante entender que não devemos entender tal mensagem “ao pé da letra”, ou seja, não devemos entendê-la como algo literal, mas sim imbuído de um aspecto simbólico. Assim, a cena descrita com línguas de fogo aparecendo sobre cada um dos discípulos e eles falando em diferentes idiomas é, acima de tudo, a ideia de que a palavra de Deus deveria ser expandida para toda a Terra, sem restringir-se a cultura ou forma.

Desse modo, essa cena expressa algo mais do que um milagre religioso; ela nos remete à possibilidade de comunicação verdadeira, de superação das barreiras que nos separam, pois, apesar de falarmos de maneiras diferentes, todos buscam expressar e alcançar o amor que Jesus nos ensinou.

É por isso que o Pentecostes, portanto, marca um ponto de virada na própria humanidade, afinal, é após esse momento que o cristianismo se espalhou pelo mundo, sendo hoje uma das maiores religiões que conhecemos. Esse impulso para expansão é objetivado na figura dos discípulos de Jesus, seus apóstolos. Antes, os discípulos estavam reclusos, temerosos, sem direção após o desaparecimento do seu mestre. Depois desse evento, tornaram-se agentes de mudança. Esse movimento, que vai do medo à coragem, é uma metáfora de extremo valor para a vida de qualquer pessoa que, em algum momento, se vê diante da necessidade de recomeçar a seguir por um novo caminho.

Quantas vezes já precisamos recomeçar algo? E nesses momentos, como ficamos? Em geral, no início, estamos perdidos, desmotivados, pensando se realmente vale a pena um novo esforço para começar. Às vezes, o desejo de desistir é sedutor, tal qual um canto de sereia, mas o que nos faz resistir? Muitas vezes, a percepção clara de uma missão, do nosso dever a ser cumprido. Isso é o símbolo do Pentecostes: a chamada para um renascimento, um recomeço.

Pessoa superando desafios e recomeçando a jornada
Recomeços fazem parte da experiência humana

Podemos viver isso de diferentes formas, afinal, como símbolo, essa ideia é universal e cabe em diferentes contextos. Pensemos, portanto, em uma pessoa que sempre teve medo de falar em público, mas encontra forças para compartilhar sua história e percebe que ela toca outras pessoas. Isso é Pentecostes. Agora imagine um pai de família que, depois de muito tempo calado, finalmente tem uma conversa sincera com seu filho; e ambos se entendem, acabando com a barreira que os separava. Isso é o Pentecostes.

O que podemos aprender com o Pentecostes?

Além dos símbolos que podemos perceber na celebração de Pentecostes, há outras lições fundamentais que devemos compreender para viver de maneira mais profunda esse momento, mesmo que não sejamos cristãos. A primeira delas está na importância de romper com a inércia, essa poderosa força que nos faz paralisar diante da vida. Como vimos, antes do Pentecostes, os discípulos estavam paralisados pelo medo. Depois, se tornaram agentes ativos no mundo.

Romper esse momento de inércia é fundamental em qualquer circunstância, pois ela nos prende a um automatismo e, aos poucos, nos faz cair no conformismo. Deixamos de realizar nossos sonhos por causa do medo, da insegurança, da ansiedade e outros males que afetam nossa psique. Essa força de se manter em movimento e não deixar de buscar os seus sonhos, ou seus ideais como no caso dos apóstolos, é de extrema importância.

Diversas pessoas seguindo caminhos diferentes simbolizando ideais
Cada pessoa encontra seu próprio caminho

Para isso, entretanto, é preciso encontrar valores ou ideais que nos inspirem. E devemos lembrar que cada pessoa deve encontrar os seus ideais, pois cada um de nós temos um caminho a seguir. Para muitos, a via religiosa, por exemplo, é um caminho de ascensão e evolução espiritual; para outros, a ciência é um caminho para se alcançar a verdade; para outro grupo de pessoas será  arte, filosofia ou mesmo política. Percebe como podemos seguir por caminhos distintos e, mesmo assim, acabar convergindo para o mesmo ponto ideal, em que nos realizamos enquanto seres humanos? Como mensagem, Pentecostes reacende a nossa vocação humana. É o momento em que encontramos algo que nos move, e isso nos transforma.

Visto todos esses aspectos, fica claro que essa não é somente uma celebração religiosa, muito menos um privilégio para quem segue o cristianismo. Enquanto ideia e símbolo, o dia de Pentecostes revela como a jornada da humanidade é muito bela e eterna, afinal, todos os dias podemos recomeçar e trabalhar por um mundo mais repleto de amor, justiça e bondade. Essa é, em última instância, a grande missão da humanidade em direção a nossa alma. 

Luz no fim do túnel representando esperança e transformação
Sempre é possível recomeçar

Em um mundo tomado pelo materialismo, urge aprendermos a nos movimentar por ideais que não estejam ligados ao materialismo. Infelizmente, essa é uma jornada difícil, visto que cada vez mais nos afundamos no mundo objetivo, em que os bens são mais valiosos que os valores humanos. Ainda assim, há sempre uma nova oportunidade de recomeçar, de seguir trilhando um novo e mais puro caminho em direção aos nossos ideais. Pense nisso!

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