A recente produção brasileira, dirigida pelos cineastas palmenses Helena Hilário e Mario Pece, tem dado muito o que falar. O curta “Umbrella” ou “guarda-chuvas”, no original em português, foi lançado no início de 2021 e já disponibilizado em plataformas como YouTube. O curta metragem é um convite, simplesmente apaixonante, para refletirmos sobre o tema da empatia em nossos dias. Por se tratar de uma temática importante e necessária ao mundo atual, Umbrella tem conquistado fãs no mundo inteiro e a prova disso é a sua importante indicação ao Oscar de melhor curta de animação. Entretanto, para se compreender a causa desse sucesso internacional, é importante conhecer um pouco sobre os motivos que deram origem a essa produção e que a fez alçar voos que surpreenderam até os seus produtores.
O filme nos traz uma história linda, apesar de triste, de uma criança órfã que deseja um guarda-chuvas amarelo. Toda a história foi baseada em experiências reais vividas pela irmã da produtora, também moradora da cidade de Palmas, no estado do Paraná. Em entrevista para o lançamento do curta, Helena Hilário afirma que certa vez recebeu uma ligação de sua irmã que compartilhou aos prantos a experiência que acabara de viver num orfanato quando levou brinquedos para as crianças da instituição. Ao chegar no local, percebeu que um menino, diferentemente das demais crianças, não se alegrava ao ver os brinquedos recém-chegados. Diante disso, resolveu investigar o motivo da falta de ânimo do garoto e, depois de conversar por alguns minutos, foi surpreendida pela resposta da criança. O menino afirmou não querer brinquedos, queria apenas um guarda-chuvas amarelo, para esperar o retorno do seu pai, pois acreditava que se possuísse o objeto seu pai poderia vir buscá-lo, já que a sua última lembrança paterna foi a de um dia chuvoso em que seu pai estava de posse de apenas um guarda-chuvas amarelo e o deixará no orfanato.
O “Umbrella” pode ser descrito como um impactante, emocionante e cativante vídeo que nos convoca a refletir profundamente acerca da Virtude da Empatia. E mesmo que não haja diálogos verbais durante toda a narrativa, cada sentimento, palavra e ação são expressos através dos detalhes do ambiente ou dos personagens animados. A animação inicia com a cena de um garoto desenhando um pai segurando a mão de um filho no vidro embaçado da janela, que logo fica entendido que se trata da janela do quarto de um orfanato por onde a criança olha para a paisagem chuvosa externa. Ao ver um carro se aproximar e estacionar em frente ao prédio, o menino presencia a chegada de uma mãe e uma filha trazendo uma caixa de brinquedos, entretanto, o sorriso toma conta de seu rosto quando percebe a menina com um guarda-chuvas amarelo que lhe faz retomar a memória afetiva da imagem de seu pai.
Enquanto a mãe e a filha entregam os brinquedos para as crianças que se divertem a cada nova descoberta dos objetos da caixa, o menino sorrateiramente pega o guarda-chuvas amarelo e leva para guardá-lo em seu quarto, logo em seguida a menina o segue e tenta arrancá-lo de suas mãos. A sequência das próximas cenas é arrebatadora, e nos convoca a ler cada momento através dos sentimentos expressos pela abertura das memórias afetivas da história de vida do menino, sua relação com o pai e o abandono naquela instituição. O curta se encerra com uma cena em que o menino torna-se um idoso comerciante de sombrinhas, juntamente com a menina que um dia visitou o orfanato. E, apesar do tempo, o guarda-chuvas amarelo, o pai e o orfanato marcaram para sempre toda a sua vida, conduzindo a sua história até aquele ponto. Comovente e excitante, difícil não arrebentar o coração do telespectador e não o fazer chorar frente a essa animação.
Diante disso, o que se percebe é que “Umbrella” não é apenas um simples filme animado para entreter. A sua proposta temática supera a mediocridade das nossas emoções superficiais diante de cada cena, seja a história que deu origem à produção ou a própria narrativa que nos emociona, porque nos toca profundamente e nos fala a Alma, nos lembrando da importância de desenvolvermos Empatia para com as demais pessoas.
O curta também nos fala sobre a importância de superarmos o nosso passado e seguirmos em frente, retirando dos fatos dolorosos apenas as experiências que nos ajudaram a crescer enquanto Seres Humanos. A palavra que cabe aqui é ressignificar, transformar dores em experiência e assimilar apenas o que nos ajuda a seguir em frente. A história do curta nos possibilita ver, em alguma medida, uma continuidade na vida do menino. Pois, apesar de um passado doloroso, ele consegue ressignificar as suas dores e seguir em frente. Isso é o que mais precisamos atualmente, olhar para o futuro com Fé e Esperança em dias melhores.