Vivemos em um momento em que nunca foi tão fácil nos conectarmos uns com os outros. As possibilidades de interação avançaram de tal modo que é impossível não estar conectado uns aos outros, seja por meio do seu smartphone, do seu computador ou mesmo nas interações sociais já habituadas. Com a chegada das redes sociais, essa aproximação aumentou de modo exponencial, pois podemos interagir com diferentes pessoas e sobre os mais diversos assuntos. Não por acaso, nossa sociedade atual tem sido conhecida como a era da informação e da comunicação.

Entretanto, apesar de todos esses avanços, que em teoria nos aproximam, o que podemos perceber na nossa vida prática é um distanciamento cada vez maior entre as pessoas. Ironicamente, no mundo virtual é possível se comunicar com diversas pessoas, de lugares muito distantes, e, ao mesmo tempo, interagir com dezenas de pessoas. Porém, o que ocorre na vida real é justamente o oposto: buscamos nos afastar das pessoas e viver de maneira isolada, presos em nossos mundos particulares das redes sociais.
Não precisamos ir tão longe para percebermos esse distanciamento. Basta pensarmos: conhecemos os nossos vizinhos? Quantas vezes interagimos uns com os outros nas ruas de nossas cidades? E nas filas de supermercado, puxamos assunto ou simplesmente ficamos imersos em nossos celulares? E quando alguém precisa de ajuda, o fazemos ou deixamos que cada um resolva os seus problemas? Algumas décadas atrás, seria normal ter uma boa relação com os vizinhos, muitas vezes se tornando próximos e até mesmo amigos, assim como conversar nas filas enquanto espera ser atendido e, de forma gentil, exercitar a bondade ao ajudar uma pessoa com necessidade.
Entretanto, hoje é muito raro conhecer alguém que faça tudo isso. Já não sabemos o nome de quem mora ao nosso lado, as filas se tornaram locais para apenas esperar, e já nem olhamos para os lados para ajudar o próximo, mas seguimos nosso caminho de forma indiferente. Esse é o tema que queremos tratar no texto de hoje, pois nos parece que, à medida que avançamos nessa era de hipercomunicação, estamos, em contrapartida, nos tornando indiferentes à real conexão que podemos exercer em momentos simples do nosso cotidiano.
O que nos torna indiferentes?
A indiferença é, a rigor, uma forma de egoísmo. Estamos tão imersos em nossos próprios dilemas, vivendo nossas vidas particulares, que não deixamos espaço para sentir a dor alheia. Como chegamos a isso? É evidente que, ao longo da história da humanidade, sempre existiram pessoas indiferentes, e no mundo atual, isso não seria exceção. Entretanto, quando esse comportamento passa a ser massificado, é um sinal de alerta para refletirmos sobre a direção em que estamos direcionando nossa vida.
Frente a isso, podemos afirmar que uma das causas da indiferença é a hipervalorização das nossas próprias necessidades. Estamos tão ocupados com as demandas e prazeres individuais que não nos permitimos olhar para o outro, nem que seja para criar um elo ou desenvolver a empatia. Junto a isso, percebe-se que a indiferença está diretamente relacionada a uma postura amoral, ou seja, a uma ausência de princípios que norteiam nossa existência. Uma vez que não há nada que me leve a ter uma postura de cooperação ou de generosidade, por exemplo, não há motivos para ajudar o próximo.
No mundo atual, em que se preza cada vez mais pela performance individual e pela busca por uma excelência solitária, a indiferença nasce a partir de frases como “cada um deve carregar a sua cruz” ou “o único que acredita no seu sonho é você”. Tais mensagens, que se disfarçam muitas vezes de palavras de motivação, escondem um significado terrível, que é o da indiferença perante a dor do próximo.
Sim, cada um de nós tem seus próprios dilemas a serem resolvidos, isso é um fato, mas ajudar o fardo alheio não me torna menos capaz que o outro. Do mesmo modo, pode-se sonhar coletivamente e construir juntos um ideal, logo, não precisamos estar a todo tempo em uma competição, para chegarmos aos nossos sonhos egoístas, sem nos preocuparmos com as pessoas ao nosso redor.

O curta de animação abaixo, chamado Mr. Indifferent (2018), expõe como a indiferença tem sido vivida nos tempos atuais. Se você não conhece alguém como o protagonista, analise bem, pois pode descobrir que se trata de você mesmo. O curta mostra um homem, o Sr. Indiferente, e a forma como ele se comporta no cotidiano, nos relacionamentos com as pessoas que encontra pelo caminho.
Ele se depara com várias oportunidades para interagir e ajudar o outro de alguma forma, mas escolhe não fazer. Até que algo o transforma e ele passa a encarar a vida de forma diferente, aproveitando mais as oportunidades de ajudar o próximo, chegando ao ponto de reproduzir o mesmo gesto que o transformou.
Como combater a indiferença?
Não precisamos fingir: todos nós, em algum grau, já fomentamos a indiferença. Essa é uma realidade que toca o ser humano, pois nem sempre estamos conscientes o suficiente para perceber a necessidade alheia. Por isso, é fundamental que comecemos a nos perceber e ver onde praticamos a indiferença. Muitas vezes, ela está relacionada a uma pessoa, a um ambiente ou mesmo a determinadas situações em que optamos por ser omissos.
E como podemos combater esse mal chamado indiferença? Uma das nossas armas principais é a empatia. Se a indiferença versa sobre o nosso egoísmo, a empatia vai no caminho contrário: está em saber olhar para a vida a partir da ótica do outro. A empatia está em, acima de tudo, entender o valor de fazer a diferença na vida do outro, e não se limita apenas em se colocar no lugar de outra pessoa, mas também engloba a ideia de se despir dos próprios preconceitos e estereótipos já definidos, e assim agir.

Praticar a empatia não é uma tarefa simples, afinal, estamos acostumados a ver os problemas do mundo, os defeitos das pessoas, mas sempre mantemos as nossas mãos dentro de nossos bolsos, sem realizar nenhum gesto para transformar a nossa realidade. Somos capazes de criticar tudo e todos, mas agir em prol da melhoria destes já é uma tarefa quase hercúlea para quem vive na indiferença. Na prática, quando estamos diante dos problemas reais, geralmente encarnamos Mr. Indifferent. E para facilitar nossa vida, às vezes fingimos nem estar vendo.
Para que haja uma mudança, é necessário se abrir para o novo, conhecer esse outro universo que é “o Outro”, escutando com empatia e destruindo os bloqueios que não nos deixam compreender outras visões. Precisamos, de forma muito prática e objetiva, mover as nossas mãos. Realizar ações que sejam importantes na vida das pessoas. Um ato bondoso não só proporciona sentimentos agradáveis em quem o recebe, mas simultaneamente em quem faz.

Há uma frase que é muito repetida ultimamente: “O contrário do Amor não é ódio, mas sim a indiferença”. E isso está certo, o que vence a indiferença é o Amor. Mas o que, muitas vezes, nos esquecemos, é que o Amor não é uma simples emoção, mas sim um grande sentimento que se traduz em ação. Devemos, então, nos voluntariar em causas que melhorem a vida das pessoas, para que assim possamos multiplicar o bem, transformando o mundo à nossa volta em um lugar muito mais bondoso, belo e justo. E desta forma, nos transformaremos em pessoas que fazem a diferença.