Todos os nossos problemas de convivência derivam da forma como lidamos com as nossas emoções. Muitas vezes deixamos elas impactarem o nosso comportamento e as relações com as pessoas no nosso dia a dia. Se pudéssemos observar os nossos estados de ânimo durante todo um dia, talvez ficássemos perplexos frente à constatação de quantas oscilações sofremos. Da alegria à tristeza, da autoconfiança à sensação de impotência, dos desejos à sensação de fracasso, e por aí segue a nossa lista. A chave para uma convivência saudável está na capacidade de controle e de canalização dos nossos impulsos e emoções. Assim, sabendo aplicá-las nos momentos e nas circunstâncias mais adequadas, podemos construir relações profícuas e duradouras por onde quer que passemos.
Viver com justiça cada sentimento e encontrar o lugar adequado para cada emoção passa pelo autoconhecimento, pelo equilíbrio emocional e, principalmente, pela vivência de Valores Humanos que adotamos como nossos. É justamente nas nossas relações interpessoais que temos a oportunidade de partilhar os Valores que trazemos conosco, estejamos conscientes deles ou não. O problema, entretanto, é que quase sempre não estamos presentes em nossas relações. Quando estamos conversando com alguém, por exemplo, passamos mais tempo preocupados com o que iremos falar do que escutando o que os outros têm a nos dizer. Do mesmo modo, em discussões ou situações de conflito, costumamos culpar os demais, não nos responsabilizando por parte do problema. Junto a isso, é comum não aceitarmos as dificuldades da convivência. Há sempre justificativas do tipo, “Ele não me compreendeu”, “Ela, certamente, tem problemas comigo” ou “Só estava tentando ser sincera”. A verdade é que, se acreditamos que o problema está no outro, que é ele quem precisa crescer e não nós, nos acomodamos e não evoluímos em nossas relações sociais.
A convivência é um ótimo espelho para nos vermos. Ela sempre revela as nossas potencialidades e debilidades, ou seja, quem somos de verdade. Por isso, quanto mais problemas de convivência tivermos, mais evidente são os nossos problemas internos e a nossa dificuldade de equilíbrio emocional. Quando cada um sabe quem é e se posiciona dentro das relações interpessoais de maneira justa, ocupando assim, o lugar que lhe cabe, a tendência é que as relações se tornem cada vez mais harmônicas, equilibradas e ,consequentemente, saudáveis. No curta-metragem “Mobile”, de 2010, produzido pela Filmakademie e sob a direção e roteiro de Verena Fels, aborda-se, de maneira engraçada, como os efeitos de nossas ações afetam as pessoas e situações ao nosso redor.
Um móbile é uma espécie de escultura contemporânea que, em geral, é composta por elementos frágeis ligados por um sistema de hastes finas que vão ganhando significados e expressões através do movimento. Usamos muito esse tipo de escultura nas portas, nas janelas ou nos quartos dos bebês. A animação em questão é apresentada pelo equilíbrio do móbile, que é sustentado a partir de um extremo de onde vemos um porquinho, dois carneiros, três galinhas, um cachorro e um ratinho. Já na outra extremidade encontramos apenas uma robusta vaquinha solitária, que, ao tentar socializar com os demais integrantes do móbile, acaba criando uma instabilidade em toda a “sociedade” de animais devido ao seu peso e tamanho.
A delicadeza e a doçura com que a animação apresenta a temática nos trazem leveza e risos; porém, fofuras à parte, o que podemos refletir a partir desse episódio é como, por vezes, as nossas ações impensadas, baseadas apenas nos nossos desejos e emoções, podem ser desastrosas. Assim, pequenas atitudes ou decisões tomadas desconsiderando todo o contexto podem afetar e desequilibrar as nossas relações com os demais.
Viver em sociedade é, antes de tudo, uma necessidade vital do Indivíduo. Por isso, as relações interpessoais são tão importantes para cada um de nós. Não importa o nosso temperamento, se é mais extrovertido ou introvertido, mas socializar-se com o meio é uma necessidade. Todavia, quanto mais cedo aprendemos sobre a importância da socialização, melhor nos relacionamos com as pessoas. Sem falar que quanto mais domínio temos sobre as nossas emoções, mais podemos ajudar as pessoas ao nosso redor. Quantas vezes, numa relação com o nosso chefe ou com a equipe de trabalho, tivemos que resolver problemas ou adversidades que nos exigiram a experiência de lidar com questões emocionais muito difíceis? Ou, nos momentos de tensão com alguma pessoa, tivemos que controlar as nossas emoções para não agir injustamente com o outro ou conosco mesmo? Infelizmente, nesses momentos, tendemos a ser mais reativos do que ativos e optamos pelos rompimentos ou pela anulação do outro.
Diante das adversidades, o que vale é o quanto você conquistou de inteligência emocional para lidar com os seus sentimentos e com os dos outros. A resposta que damos aos nossos problemas vai estar, fatidicamente, baseada no grau de maturidade emocional que possuímos. Porém, a capacidade ou habilidade de descrever, reconhecer ou avaliar as nossas emoções não é fruto de um milagre, ou de uma bênção divina que de repente adquirimos, mas é consequência de muita vivência prática, conquistada através de esforço, trabalho e Força de Vontade.
Para além dessas questões, ainda podemos nos valer da máxima de Platão sobre a Justiça, pois, para o filósofo grego, só há equilíbrio na Vida se houver Harmonia entre todas as coisas, inclusive sobre os nossos elementos internos, onde cada um vai ocupar o seu lugar segundo a sua natureza e os seus atos. Quando, por exemplo, passamos a comer descontroladamente e acima do que nos é necessário, não estamos sendo justos com o nosso organismo. De igual modo, quando deixamos de nos alimentar para atender a demandas externas, como a de ter um corpo “perfeito”, também estamos causando uma injustiça com o nosso corpo.
Do mesmo modo, também devemos estar atentos às nossas emoções. Em diversos momentos, principalmente quando estamos sob pressão, tendemos a deixar nossas emoções definirem nosso comportamento. Quando estamos “à flor da pele”, parece que não conseguimos medir nossas palavras e atitudes. Ao agir dessa maneira estamos, mais uma vez, praticando uma injustiça: conosco e com os outros. Mesmo que haja “motivo” para tomarmos medidas mais duras, devemos compreender que nossas emoções nos conectam ao mundo e às pessoas ao nosso redor. Portanto, devemos cultivar as boas emoções, o carinho e a atenção, que se expressam quando estamos próximos de quem gostamos. Por outro lado, as emoções negativas, que geralmente se expressam nos momentos de crise, devem ser dominadas para não causar mais danos.
Sendo assim, é preciso conhecermos a nós mesmos para encontrarmos o justo caminho para cada momento, seja internamente, com o nosso corpo e mente; seja para com as pessoas ao nosso redor, que também buscam harmonizar-se conosco. De modo geral, podemos compreender que dentro do Universo não existe vácuo, cada elemento, seja pessoa, animal, planta ou qualquer objeto, tem um lugar próprio que é definido por sua Natureza. O mineral, por exemplo, é identificado dentro do seu reino pela sua capacidade de resistência; às plantas, pela sua capacidade de gerar energia; os animais, pela sua expressividade emocional; e o Ser Humano, pelo uso da razão. Assim, buscar um lugar para cada coisa faz gerar uma Unidade, que tem como característica a Harmonia a partir da junção de elementos distintos. Quando se há Justiça, se há Equilíbrio, e, consequentemente, se seguem as Leis Universais.
Portanto, diante de tudo o que foi exposto acima, vale ressaltar que o desafio de conviver em sociedade de maneira equilibrada é, antes de tudo, um desafio de viver consciente os Valores Humanos, uma vez que em uma sociedade as relações entre os Indivíduos dependem das relações interpessoais. É por isso que a Alteridade é a medida do Indivíduo, ou seja, o outro sempre nos revela o que temos dificuldade de enxergar dentro de nós.
Por fim, nunca devemos esquecer que a busca pelo Equilíbrio e manutenção das nossas relações com os demais passa pelo autoconhecimento e pela formação do nosso campo afetivo. Há uma máxima romana atribuída ao filósofo Cícero que diz que é primordial nos certificarmos diariamente se somos fator de soma na Vida do outro. Então, que possamos pensar sobre quantas coisas boas podemos deixar para o outro, nos vários encontros patrocinados pela Vida, se tivermos controle de nossas emoções.