A palavra Generosidade é largamente conhecida em nosso vocabulário. Advinda da expressão latina “generositas”, podemos defini-la como o ato de gerar para dar. Ela é uma expressão da Bondade e a reconhecemos como uma Virtude, uma vez que busca ajudar o próximo. Entretanto, o quanto somos generosos? Se observarmos ao nosso redor perceberemos que cotidianamente perdemos oportunidades de agirmos com Generosidade: poderíamos doar alimentos e roupas para quem precisa; reservar um tempo em nossa agenda para conversar com um amigo que esteja vivendo um momento difícil; se reposicionar frente a uma pessoa que não nutrimos um sentimento bom; buscar viver uma ideia que consideramos válida para poder transmiti-la aos demais. Todas essas ações envolvem Generosidade, uma vez que parte de um esforço para proporcionar uma condição melhor de convivência ou ajuda ao outro.
Pensando nisso, acreditamos que nos doarmos aos demais, seja em que esfera da Vida for, irá nos causar um prejuízo. É comum relacionarmos as palavras “doação” com “perda”, ao passo que acreditamos perder algo quando estamos doando. Quem nunca doou roupas que já não cabiam mais? Já que elas estavam “perdidas”, ou seja, não nos serviam mais, resolvemos doá-las. Desse modo, passamos uma vida inteira achando que só podemos doar aquilo que não nos serve e que isso é um ato de Generosidade quando, em verdade, Generosidade é compartilhar com os demais aquilo que temos de mais precioso e poder ajudar as pessoas com isso.
Seguindo nessa ideia, o curta “Alcanzar” traz uma mensagem didática e inspiradora. Produzido por Ahmed Elmatarawi, a animação mostra um bonequinho tentando sobreviver no deserto. Munido apenas de uma caneca e a procura de água, o protagonista encontra uma nuvem em pleno sol escaldante e começa a acumular, gota após gota, a água que cai da nuvem. Depois de um tempo, porém, ele não consegue mais alcançar a sua fonte de água e sobra-lhe apenas uma única gota, que a usa para regar uma pequena planta que florescia no deserto inóspito. Graças a sua ação a planta acaba crescendo e recompensando o nosso herói.
O curta, a priori voltado para o público infantil, carrega consigo Valores importantes e reflexões que cabem a todos nós fazermos. A primeira delas está diretamente relacionada a ideia da Generosidade: o bonequinho não deu a água que estava sobrando ou acumulou muito recurso para depois dividir, simplesmente viu a necessidade de doar e o fez. Essa é a diferença básica entre fazer uma ação genuinamente Generosa e uma falsa Generosidade. Não devemos dar o que nos sobra, mas dar o que é necessário a cada um.
Em um mundo cada vez mais competitivo, em que acreditamos que os recursos são limitados e que devemos “garantir” a nossa parte a qualquer preço, sobra pouco espaço para ações Virtuosas. Cotidianamente observamos o egoísmo sobrepujar um modo de vida cooperativo, em que as pessoas se ajudam e dão o seu melhor em nome do coletivo. Agimos assim por não confiarmos na Vida, ou seja, não confiamos que haverão novas oportunidades para conseguirmos mais dinheiro ou garantir o nosso sustento. Partindo dessa mentalidade, nos fechamos em nossas ambições e trilhamos um caminho solitário, sem desejar ajudar a quem precisa, achando que a única garantia é confiar somente em si.
Como consequência desse modo de pensar, as pessoas acabam afastando-se uma das outras e acreditando que o problema do outro Ser Humano é somente dele. Entretanto, se somos uma só Humanidade, o problema de qualquer pessoa é um problema de todos nós. Ao sermos solidários e buscarmos ajudar a quem precisa estamos, em maior ou menor grau, ajudando a Humanidade a superar seus problemas. E a Vida, inteligentemente, irá nos recompensar por essas atitudes. Isso não significa que ficaremos mais ricos ou felizes, mas certamente aprenderemos a ser mais Humanos à medida que ajudamos as pessoas ao nosso redor. A Natureza, portanto, sempre nos dá a maior das recompensas: a de conhecer um pouco mais sobre o Mistério que é o Ser Humano.
É possível que para alguns isso não seja suficiente. Que desejemos a nossa recompensa com mais recursos, afinal, é natural desejarmos multiplicar nossos bens. Nesse sentido, quanto mais aprendemos sobre a Natureza Humana e nos doamos para o Todo, mais capacidade de gerar nós conseguimos. Afinal, se queremos ajudar o próximo precisaremos aprender a gerenciar melhor o nosso tempo, a organizar de maneira mais eficaz os nossos recursos e, consequentemente, poderemos aprender a prosperar dentro desse processo. Entretanto, devemos lembrar que isso não é uma receita para o sucesso, muito menos devemos acreditar que só ajudar os demais fará com que aprendamos sobre a Vida. Antes de tudo é preciso estar consciente e buscar verdadeiramente aprender com as experiências, caso contrário será mais uma forma de egoísmo, em que buscamos fazer o bem pensando em uma recompensa.
É preciso, portanto, viver a Generosidade tal qual uma Virtude: dedicada apenas ao outro e sem esperar receber nada em troca. O tempo mostrará a validade dessa ideia em nossas vidas.
Uma outra reflexão importante do curta está na forma de ser solidário. Pensamos que só podemos compartilhar com os outros aquilo que temos em abundância, ou seja, só posso dividir se já estou “garantido” e sei que aquela parte não me fará falta. Entretanto, o nosso herói no curta dá a sua última gota de água, o último recurso que tinha para encarar a travessia do deserto. Isso não é por acaso. A mensagem não poderia ser mais didática: ser solidário não é dar o que temos de sobra, mas o necessário para fazer o outro florescer. E isso não é, necessariamente, uma questão de recursos. Às vezes as pessoas só precisam de tempo e carinho, por exemplo, para mostrarem seu melhor lado e florescerem o seu aspecto Humano. Quanto tempo dedicamos para escutar nossos amigos? Ou para fazermos uma ligação para um parente distante que há muito já não vemos? Não precisamos de muitos recursos para isso, basta querermos ajudar. Como diz uma antiga canção, em alguns momentos basta ser o ombro amigo para receber o pranto de quem precisa chorar.
Ser solidário é, em grande medida, um atributo da Generosidade, essa grande Virtude Humana. Se perdemos essa ideia e mergulhamos em nosso próprio egoísmo, achando que garantir nossa sobrevivência basta, estaremos agindo mais semelhante a um animal selvagem do que propriamente a um Ser Humano. Não sejamos, portanto, engolidos pelo medo de que algo nos faltará, muito menos pela ilusão de que só precisamos nos importar conosco e que o problema das outras pessoas são apenas delas. A solidariedade é, no fim das contas, uma poderosa arma para nos ajudar a evoluir. Só assim poderemos caminhar pela Vida e ser um agente consciente da nossa Saga Humana, ajudando a quem conseguirmos tocar.