As estações da natureza são fontes inesgotáveis de inspiração. A transformação da paisagem em seus mais distintos estágios revelam que tudo muda, que tudo está em constante movimento e que, apesar de gostarmos ou não dessa realidade, viveremos junto à natureza todas as suas transformações.
O outono, geralmente marcado na segunda metade de março para o hemisfério sul e em setembro no hemisfério norte, é uma das estações que nos convida a refletir sobre a maturidade. Após o verão, momento de maior brilho e expressão da natureza, o outono é a calma da maturidade, que nos leva a introspecção e a sintetizar tudo que foi vivido e experienciado ao longo da vida.
Na natureza o outono é marcado por aquele período em que as folhas secam e caem, que as árvores dão seus últimos frutos e que dias e noites passam a ter a mesma duração. Em algumas partes do mundo, é considerada a estação mais linda do ano, tão colorida quanto a primavera. As folhas alaranjadas e avermelhadas, espalhadas pelo chão, parecem estender um tapete de boas-vindas para o inverno que se aproxima.
Enquanto a natureza parece se preparar para o fim de mais um ciclo, nós, humanos, temos problemas para entender o que o outono tenta nos explicar ano após ano. Somos tão agarrados ao nosso próprio ponto de vista que nos recusamos a mudar, a aceitar novas luzes, a crescer! Isso acontece porque nossa visão materialista faz com que nos apeguemos ao status, às aparências, aos bens materiais e principalmente às crenças limitantes que nos impedem de ver a vida como ela realmente é.
O outono nos ensina sobre plantar e colher. É o momento de guardar as sementes que enfrentarão o inverno para que, após um longo período adormecidas, voltem a brotar em uma nova primavera. Se observamos a primavera como renovação, o outono é a semeadura, a garantia de que poderemos, mais uma vez, renascer. E não falamos de uma maneira física, mas sim espiritual. Quando guardamos aprendizados, lições, sintetizamos experiências, podemos guardá-las em nosso cofre de ouro para que, uma vez mais, nos momentos em que estamos “afundados na terra”, possamos mais uma vez ter a força para renascer.
Todos os anos, junto com o outono, devemos brindar à passagem de mais um ciclo, comemorar tudo o que vivemos até então. Assim como as árvores deixam cair suas folhas no chão para dar boas-vindas à próxima estação, devemos guardar o aprendizado sem nos apegarmos aos momentos que vivemos. Sejam eles bons ou ruins, devemos deixá-los “secar” e desaparecer com o tempo.
Faça-se uma pergunta: o que aprendi nesse último ano? O que vale a pena guardar? Quais as sementes que eu desejo que brotem em mim no próximo ciclo? Sempre devemos nos perguntar tais questões, pois não podemos achar que o processo das estações ocorrem apenas na natureza. O ser humano enquanto ser partícipe do mundo também está sujeito a essa lei e psicologicamente vive essa realidade de maneira profunda. Quantas vezes não precisamos deixar morrer as formas desgastadas, que são levadas pelo inverno, para que a essência, essa verdadeira semente de humanidade, possa brotar mais uma vez?
A queda das folhas representa exatamente isso: a morte de uma forma que já não é mais necessária, mas que será o terreno fértil para um novo ser surgir. Enquanto seres humanos, essa morte pode ocorrer todos os dias, em nossa mente: abandonar velhos hábitos, velhas formas de pensar, de sentir e agir. Em contrapartida, podemos cultivar novas formas, novos pensamentos, sentimentos e ações que darão os novos tons de vida que precisamos para nos renovar.
O outono também é conhecido como a estação das frutas, é nesse momento que a natureza oferece o que tem de melhor. É interessante pensar que uma árvore não produz os seus frutos apenas para si, mas também para os outros seres que a rodeiam. Da mesma forma, podemos nos inspirar neste símbolo e buscar o nosso amadurecimento, não por vaidade ou egoísmo, muito pelo contrário, devemos buscar o aperfeiçoamento para poder oferecer melhores frutos ao mundo. Mesmo que o momento de gerar frutos também seja o momento de perder folhas, secar e se preparar para o frio do inverno, isso não deve ser motivo para desânimo, afinal de contas, triste não é ver uma árvore seca, triste é ver uma árvore que secou sem nunca ter dado frutos.
Quais são os frutos que estamos deixando no mundo? Após tanta atividade, tanta vida expressa ao longo de décadas, quais são os frutos do nosso esforço? Será que olharemos para trás e enxergaremos um deserto, em que nada foi plantado e cultivado, ou poderemos enxergar uma série de brotos que, no futuro, poderá ser uma densa floresta?
É hora de parar para refletir, encontrar o equilíbrio e aprender que nada nessa vida é permanente. Chega o momento em que devemos perceber que a experiência está chegando ao fim e, então, entregar à Vida o que temos de melhor e confiar que num próximo ciclo, estaremos mais fortes e mais preparados do que nunca.