Vencer o cansaço se tornou um desafio urgente em uma sociedade que valoriza a produtividade acima de tudo. Desde a infância até a vida adulta, estamos imersos em rotinas exaustivas que nos afastam do descanso verdadeiro e da renovação de energia.
A rotina agitada, o excesso de informação, a cobrança constante por resultados e a dificuldade de desconectar fazem com que o resultado de todas essas variantes seja apenas um: o cansaço. Não por acaso, vivemos um surto de pessoas esgotadas, diagnosticadas com Burnout, descrita na área da psicologia como uma síndrome que afeta alguém que acaba adoecendo devido ao exercício exaustivo de diferentes funções.

Não é raro ouvir frases como: “Estou sempre cansado”, “Sinto que não descanso nunca”, ou “Acordo mais cansado do que fui dormir”. É possível que você mesmo já tenha falado algumas dessas sentenças. Mais do que um problema físico, o cansaço contemporâneo se manifesta como um esgotamento emocional e mental.
Frente a isso, há uma pergunta que precisamos responder: por que estamos sempre tão cansados? E mais importante: como podemos recuperar nossa energia de forma autêntica, sem recorrer a soluções superficiais? Buscaremos encontrar uma resposta no texto de hoje!
Por que nos cansamos?
Inicialmente, devemos pontuar que o cansaço pode ter muitas causas. Em termos físicos, ele pode resultar de noites mal dormidas, alimentação inadequada, falta de exercício ou doenças. Logo, nem sempre o cansaço está diretamente relacionado com o mundo do trabalho ou com nossas funções no dia a dia. Já do ponto de vista emocional e mental, o cansaço muitas vezes nasce da sobrecarga de responsabilidades, da falta de sentido nas tarefas diárias, do excesso de estimulação digital e da ausência de momentos de pausas significativas. Nesse último aspecto, muitas vezes a maneira como exercemos o nosso trabalho está diretamente envolvida.
A nível de analogia, a sensação é que vivemos como se estivéssemos em uma esteira ergométrica sem fim, onde parar é visto como fracasso e descansar se torna um privilégio quase inalcançável. Além disso, muitas pessoas confundem descanso com inatividade; logo, para descansar é necessário, dentro dessa perspectiva, estar totalmente imóvel, dormindo – e isso, como podemos perceber, não é uma verdade.
Há quem passe, por exemplo, horas vendo redes sociais entre uma atividade e outra, assistindo às mesmas séries sem se sentir realmente renovado. Por mais que seu horário de “lazer” seja dedicado a tais atividades, devemos entender que nem sempre isso nos descansa, pois estamos estimulando partes de nós mesmos que já estão exauridas. Desse modo, acabamos anestesiando o cansaço, não tratando sua causa. O resultado é óbvio: continuamos cansados. É fundamental, portanto, entendermos que descansar não é apenas parar; é renovar-se, e isso exige qualidade e presença.

Frente a essa perspectiva, sejamos sinceros: quantas vezes pensamos que descansar é apenas deitar no sofá e maratonar uma série ou rolar o feed do celular? Embora essas atividades possam oferecer uma sensação imediata de alívio, liberando dopamina em nosso organismo, elas nem sempre renovam a energia. Na maioria dos casos, acabamos estimulando nossa mente, que já está fatigada devido ao trabalho que exercemos, e também acabamos diminuindo ainda mais seu horário de descanso. Como consequência, a sensação de esgotamento segue no próximo ciclo.
Nesse caso, uma ótima forma de descansar a mente é fazer alguma atividade física, que não exija muito do uso mental. Por exemplo, uma caminhada leve ao ar livre pode ser muito mais revigorante do que ficar deitado em frente à televisão. Ir até uma academia e fazer um treino pode causar um cansaço físico intenso, mas a psique acaba renovada por ter um tempo para descansar. Esses são exemplos de um verdadeiro descanso, pois segue uma lei própria da natureza: a da renovação ou ciclicidade.
A renovação é uma lei da natureza
Se observarmos a natureza, perceberemos que tudo nela funciona em ciclos. O dia e a noite, as estações do ano, o ciclo da lua, o crescimento das plantas: tudo segue um ritmo que respeita pausas, tempos de recolhimento e momentos de florescimento. A natureza descansa, pois é próprio dos seres estarem ativos em um momento e passivos em outro. Será que nós, seres humanos, não deveríamos seguir essa mesma lógica?

No mundo atual, podemos perceber que nos afastamos desse ritmo natural. Tentamos operar como máquinas, 24 horas por dia, com uma produtividade linear. Isso é antinatural. Nosso corpo e nossa mente precisam de pausas. Não é à toa que grandes ideias surgem em momentos de descanso, como num banho quente ou numa caminhada tranquila. O descanso não é perda de tempo, mas um investimento na nossa criatividade, clareza mental e bem-estar.
Essa percepção é reforçada pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, autor do livro “Sociedade do cansaço”. Han argumenta que vivemos em uma era marcada pelo excesso de positividade e pelo imperativo do desempenho. Nessa nova configuração social, não há mais um patrão externo que nos obriga a produzir, pois agora somos nós mesmos que nos exploramos. Ele chama isso de “violência neuronal”: o cansaço e o esgotamento nascem de dentro, do excesso de cobrança pessoal. Estamos sempre tentando ser mais, fazer mais, melhorar mais. E, com isso, adoecemos.
O filósofo nos lembra que descansar não é luxo, mas praticamente um ato de resistência; é uma maneira de lutar contra o senso comum e a falsa ideia de uma hiperprodução. Segundo ele, para reencontrar a saúde da alma, precisamos resgatar o valor da contemplação, da pausa, do silêncio e do não fazer. Nesse sentido, é fundamental encontrarmos meios de construir um descanso ativo dentro de nossas rotinas para tornar nossa vida em sociedade sustentável.
Aprendendo a ter um descanso ativo
Para vencer o cansaço, precisamos aprender a descansar de maneira ativa. Isso significa, via de regra, adotar hábitos que não apenas interrompem a atividade, mas que também promovem a verdadeira restauração da nossa energia. A nível conceitual isso é, de fato, simples, mas no cotidiano poucas vezes pensamos em simplesmente parar e ter momentos de respiro. Sim, respirar com atenção é uma das formas mais eficazes de acalmar a mente e as emoções. No meio do caos que por vezes toma conta de nossos dias, ter pausas rápidas apenas para respirar profundamente já pode ser um bom e valioso descanso.
Perceba que um descanso ativo não é simplesmente não fazer nada, mas sim colocar nossa consciência em outro aspecto que não seja a atividade que está nos cansando. No caso da respiração, focar nesse aspecto tira nossa mente da atribulação pela qual passamos e promove uma manutenção de nossas ideias e emoções.
Situação semelhante ocorre quando decidimos ter um momento para contemplar a natureza. Observar um jardim, andar descalço na grama, olhar o céu ou simplesmente ouvir os sons ao seu redor podem ser momentos de introspecção válidos para renovar nossas energias. Isso ajuda a nos equilibrar, a nos manter no eixo de nossa própria existência. Junto a isso, realizar um descanso sensorial é fundamental. Em síntese, podemos falar sobre simplesmente apreciar o silêncio. Ao fim do dia, fique um tempo sentado, em silêncio, apenas cultivando esse estado de paz interior.
Em contrapartida, também é possível descansar em movimento. Após um dia agitado, de tarefas mentais e decisões, uma excelente forma de cultivar o descanso ativo é se exercitar. Seja com atividades leves como alongamentos, ioga ou uma breve caminhada, até a prática de esportes mais intensos como uma luta, o fato é que você estará descansando a sua mente enquanto coloca seu corpo em movimento. Esses momentos, do ponto de vista químico, liberam endorfinas e ajudam a desobstruir a mente.
Desligar o celular por algumas horas, evitar checar e-mails fora do horário de trabalho e reduzir a exposição às notícias são atitudes que restauram nossa paz interior. O mundo continuará girando. Sua mente agradecerá.

Agora que já entendemos algumas chaves para o descanso ativo, é importante que saibamos o que realmente recarrega as nossas energias. Para alguns, é ouvir música; para outros, é escrever, meditar, ou simplesmente caminhar sem destino. Portanto, essa resposta é individual e cabe a cada um de nós pensar e refletir sobre o que de fato nos ajuda a descansar. Uma vez que cheguemos a essa resposta, não podemos abrir mão dela, mas devemos fazer desses momentos verdadeiros respiros em meio a rotina que, cada vez mais, tenta nos sufocar.
Por fim, vencer o cansaço é mais do que dormir melhor ou tirar férias. É transformar a relação que temos com o tempo, com o corpo, com a mente e com a vida. É necessário coragem para sair do modo automático e construir uma rotina mais consciente, onde o descanso é visto como parte essencial da produtividade e da felicidade. Comece aos poucos. Reserve minutos do seu dia para respirar, para estar com você mesmo, para observar, para caminhar. Esses momentos não são luxo; são necessidades. A energia que você tanto procura talvez não esteja em fazer mais, mas em fazer menos com mais presença.
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