Como lidar com o barulho da mente

Sabe quando você tenta colocar o celular no modo “não perturbe” pra ter um momento de paz, mas sua cabeça decide que ela é a central de notificações do universo? Cada pensamento, cada lembrança aleatória, cada preocupação futura aparece ali como um pop-up irritante: “Você ainda não respondeu aquele e-mail”, “Será que fulano te ignorou de propósito?” ou “E se você nunca descobrir o que realmente quer da vida?”

Pois é. Esse é o famoso barulho da mente, aquele fluxo infinito de pensamentos que não dá trégua nem quando você está deitado tentando dormir ou assistindo algo leve só para distrair. A mente é como aquele amigo que não sabe a hora de parar de falar e continua narrando tudo, comentando, planejando, relembrando, julgando, imaginando, isso tudo ao mesmo tempo.

Pessoa sentada com expressão preocupada cercada por ícones de notificações digitais
A mente como uma central de notificações: pensamentos ininterruptos e estressantes

Ironicamente, a gente cresce acreditando que o problema do mundo está fora, nas infinitas mensagens, nas redes sociais, nos barulhos da cidade, nas obrigações que possuímos, mas a verdade é que o barulho mais difícil de silenciar vem de dentro. As notificações não estão nas telas, estão na nossa cabeça. E o pior é que elas não param clicando em um botão.

Nossa cabeça vive no 5G, mesmo quando o corpo está pedindo para entrar no modo avião. A gente se acostumou a estar sempre ligado, sempre pensando no próximo passo, na próxima conversa, no próximo story, no próximo “e se”. Já vamos dormir pensando no que vai acontecer no outro dia, acordamos já “atrasados” para a vida e nesse momento, em meio a um turbilhão de ideias, ficamos paralisados. Assim nascem as ansiedades, os medos e as angústias de uma vida moderna na qual nunca fomos ensinado a controlar, mesmo que minimamente, nossa mente tão inquieta. E no meio disso tudo, esquecemos como é simplesmente estar aqui, no agora, sem a necessidade de responder mentalmente a tudo que surge.

O que é esse tal “barulho da mente”?

Vamos tentar responder didaticamente: o barulho da mente é basicamente o feed infinito dos seus próprios pensamentos. É aquele fluxo de ideias, lembranças e preocupações que nunca para de rolar, mesmo quando você deseja que ele acabe. Mas não sejamos tão duros, pois às vezes ele é útil, pois pensar é algo saudável e natural ao ser humano. O problema mesmo é quando esse fluxo vira uma enxurrada e acaba nos arrastando para águas profundas e turbulentas, que nos tiram a chance de nadar e acabam nos afogando em pensamentos que, no fim, não nos levam para canto nenhum. É como tentar assistir um vídeo enquanto dez abas estão abertas tocando música ao mesmo tempo, simplesmente impossível de se concentrar.

Cérebro humano conectado a ícones digitais simbolizando excesso de estímulos
Excesso de estímulos digitais acelera o barulho interno da mente

Hoje em dia, é difícil silenciar o barulho interno porque o mundo inteiro parece feito para nos distrair. As redes sociais, os vídeos curtos, as notificações, as comparações constantes, tudo estimula o pensamento rápido, superficial e fragmentado. Nosso cérebro, estimulado desde cedo a esse tipo de funcionamento, se acostumou a não ficar em silêncio. O tédio, que antes era um espaço fértil para criar, virou sinônimo de ansiedade.

O ponto, porém, não é “culpar a tecnologia”. Isso é algo fácil e que muitos já fazem. O que precisamos realmente é perceber que nossa mente aprendeu a funcionar em modo aleatório e, se a gente não parar para ajustar isso, vamos acabar nos perdendo em meio a tantos estímulos. É preciso, portanto, saber educar a própria mente e dominá-la ao ponto de saber quando precisamos de fato acelerar e, principalmente, quando é necessário descansar.

Frente a isso, é importante apontar que pensar demais não é sinal de inteligência, como alguns acreditam. Na maioria das vezes, o ato de “pensar demais” é só um truque da mente tentando se proteger e evitar que façamos algo de concreto no mundo. Assim, ao pensar e repensar várias vezes um assunto, nunca chegamos num consenso e atuamos, o que nos causa uma falsa sensação de que estamos progredindo naquele setor da vida quando, na realidade, não estamos saindo do lugar. A gente pensa sem parar porque acredita que, se prever tudo, vai sofrer menos, mas qual a chance de realmente prever tudo? O que realmente acontece é o oposto: quanto mais tentamos controlar o futuro, mais ansiosos ficamos.

A parte irônica da história está aí: quanto mais deixamos nossa mente fazer barulho, ou seja, pensar de maneira desenfreada, mas acabamos prejudicados, sofrendo de estresse e ansiedade. Esse é o equivalente mental de tentar apagar um incêndio jogando gasolina. Por causa disso, deveríamos aprender a nos concentrar, mas nesse estado mental se torna quase impossível. Você tenta focar em algo, mas a mente está abrindo novas abas o tempo todo. “E se eu tivesse feito diferente?”, “Será que ele viu meu story?”, “Por que eu disse aquilo há três anos?”, e lá se vai sua atenção, sua energia e sua paz.

Concentração, introspecção e reflexão: o poder de lidar com a sua mente

A filosofia tibetana pode nos ajudar a lidar com esse problema tão atual. O domínio da mente, ou seja, a capacidade de direcionar seus pensamentos perpassa por três pontos principais: a concentração, a introspecção e a reflexão. Falaremos um pouco de cada um deles, começando pela concentração, que para o momento atual é quase um superpoder. Vale ressaltar que concentrar-se não é só “prestar atenção em algo”, mas realmente estar presente no que faz. Sua origem remonta a ideia de “estar no centro”, ou seja, no eixo que permite ter uma visão clara do que deve ser feito.

Pessoa meditando em posição de lótus em um ambiente calmo com iluminação natural
Concentração como caminho para silenciar o barulho mental

Quando você está concentrado, a mente diminui sua atividade, ou melhor dizendo, paramos de perceber esse fluxo de pensamento e conseguimos direcionar nosso foco para apenas o que é necessário. Logo, não se trata de fazer os pensamentos desaparecem, mas de deixar de alimentá-los. É como estar em uma festa barulhenta, mas escolher focar na conversa com seu amigo em vez de prestar atenção em todas as músicas e vozes ao redor.

Quando conseguimos de fato nos concentrar, então estamos preparados para o segundo passo: a introspecção. É importante entender que a introspecção nada tem a ver com se sentir isolado do mundo, mas sim de trazer as percepções externas, captadas a partir da concentração, para dentro de si. É o momento em que você se desconecta do mundo pra ouvir o que está acontecendo dentro e perceber como o mundo externo lhe afeta.

Ao sermos capazes de fazer isso, poderemos processar nossos pensamentos, e não somente ficarmos reféns do fluxo mental que não para de cessar. E isso é libertador. Quando você entende que você não é seus pensamentos, mas algo que pode observar e lidar com eles, a mente perde o poder que tinha sobre você. Nesse sentido, a introspecção é quase uma forma de higiene mental, portanto, assim como a gente toma banho pra tirar a sujeira do corpo, olhar pra dentro é uma forma de limpar o excesso de pensamentos, emoções e estímulos acumulados.

Cérebro dividido: lado esquerdo caótico e lado direito calmo com elementos naturais
Da confusão mental à clareza: o efeito da introspecção e do equilíbrio emocional

Ao alcançar a capacidade de viver a introspecção, agora chegamos ao último e mais importante passo: à reflexão. Refletir não se trata de se perder em pensamentos, como o senso comum nos aponta. Muito menos ficar em devaneios sem fim. A bem da verdade, a capacidade de refletir é dar respostas para o estímulo que sentimos no mundo. A concentração capta, a introspecção processa e a reflexão é a síntese, a resposta interna que precisamos dar ao mundo. Assim, é impossível viver no automático quando realmente estamos refletindo.

É nesse ponto que a mente começa a se acalmar: quando entende que nem todo pensamento deve ser executado, nem toda emoção precisa de resposta imediata, mas que apenas precisa de uma resposta correta e coerente. Para alcançar esse importante passo, é necessário ter maturidade emocional em tempo real. É o que transforma o barulho da mente em uma trilha sonora mais tranquila, com pausas, silêncios e ritmo capaz de nos fazer escutar nossos valores internos e não somente os nossos desejos.

Como minimizar o descontrole da mente

Sim, nós sabemos que esse passo a passo não poderá ser conquistado da noite para o dia e que exigirá de nós uma série de virtudes como disciplina, paciência e resiliência. Mas não vamos nos preocupar, pois deixamos abaixo duas boas dicas para ajudar a treinar nossa mente e conseguir minimizar os ruídos que tanto escutamos.

1. Nomeie o que está acontecendo

Esse é um passo um tanto quanto simples, porém com um grande poder escondido. Quando nomeamos nossas emoções, pensamentos, defeitos e qualidades podemos reconhecer quando estamos sendo conduzidos por eles. Assim, ao dar nome ao que está nos levando a tomar ações, podemos enxergar com maior nitidez onde está a nossa prova. Assim, quando você está tomado por pensamentos, em vez de se perder neles, tente nomear o que sente: “Isso é ansiedade”, “Isso é preocupação”, “Isso é o medo querendo me controlar”.

Ao dar nome, você cria uma distância entre si mesmo e o que está sentindo e pode perceber que o fato de estar com aquele humor ou pensamento não o faz ser aquilo. É como olhar de fora e ser o espectador da própria vida, podendo, a partir dessa visão externa, enxergar com maior propriedade, e por outros ângulos, a situação.

2. Aprenda a respirar

Você certamente já viu em algum filme uma pessoa que está ansiosa ou nervosa e começa a respirar em um saco plástico para controlar a respiração. “Magicamente”, após esse procedimento, ela consegue se acalmar, correto? Muitos de nós podemos pensar que essa é uma cena que só pode existir na ficção, afinal, como a respiração está ligada às nossas emoções? A questão é que, apesar de parecer clichê, respirar com atenção é uma forma eficaz de tornar a mente focada no momento presente, anulando assim o anseio pelo futuro.

Pessoa respirando profundamente em meio à natureza, com olhos fechados
A respiração consciente como técnica para acalmar a mente

Nesse sentido, é fundamental saber controlar a respiração e usar a máxima capacidade dos nossos pulmões. Saber respirar implica em acalmar a mente e o coração, colocando mais consciência no movimento de entrada e saída de ar e deixando a mente com mais clareza. Sinta o ar entrando e saindo, só se concentre nisso, e você perceberá, com o tempo, que a mente vai ficando mais calma. 

Aprendendo a lidar com esse barulho interno

Chegando ao fim da nossa reflexão, é importante entender que lidar com o barulho mental não é lutar contra ele, mas saber dominar essa enxurrada de pensamentos diários. A mente foi feita para isso e é próprio da natureza dela captar e gerar pensamentos; portanto, não queremos lutar contra a natureza, mas sim saber nos relacionar com ela. Para isso, é preciso, antes de tudo, aprender a escutar sem se identificar, ou seja, sem achar que você é aquilo.

Comece a imaginar que seus pensamentos são como pessoas conversando num café. Você pode escolher qual mesa escutar, ou pode só deixar o som de fundo existir e, assim, se concentrar no que realmente é preciso. O truque é entender que nem tudo que aparece na mente merece sua atenção. Alguns pensamentos são só ecos e imediatamente perdem força, logo, não devemos depositar nossa energia nisso. Há, porém, aqueles que realmente precisam de reflexão, e esses sim merecem espaço.

O grande segredo está em aprender a diferenciar uns dos outros e, a partir disso, fazer a escolha de gastar energia com o que realmente vale a pena. Esse é o começo da liberdade mental. Na próxima vez que sua mente começar a mandar “notificações” em plena madrugada, sorria. Lembre-se: o fato de você perceber o barulho já é um sinal de que está acordado, ou seja, consciente do que lhe ocorre. É apenas nessa condição que você pode enfrentar o desafio de silenciar um pouco essa atividade mental e de dominar a si mesmo.

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