Bem-vindos à série “Clássicos da Literatura”, onde mergulhamos em obras eternas como A Ilíada e a Odisseia, que continuam a inspirar gerações com suas narrativas sobre coragem, destino e humanidade. Como sabemos, a literatura é uma das formas de arte mais antigas que conhecemos, presente na vida humana desde tempos imemoriais. A arte de contar histórias e – com o advento da escrita – colocá-las em páginas, ainda hoje é exercitada de maneira hábil; entretanto, de nada adiantaria toda capacidade que possuímos se não tivermos bons referenciais. É nesse momento que surge a necessidade de revisitarmos os clássicos.
Os clássicos são, em síntese, obras que marcaram gerações e mudaram a percepção humana, revelando aspectos e dilemas de nossa própria psique. Portanto, não se trata de ser um livro antigo, ou somente de uma obra que foi lida por muitas pessoas, mas sim de algo que se mantém com grande valor apesar da passagem do tempo.
Para saber mais sobre essas ideias, recomendamos aos leitores que ainda não entraram em contato com nosso texto de introdução que façam essa leitura antes de prosseguirem, pois nesse texto esclarecemos nossos objetivos e percepções e a finalidade dessa série de textos. Você pode acessar nosso texto de introdução clicando aqui.
Dito isso, vamos fazer uma viagem no tempo e retornar para um momento quase mítico, em que o ser humano pouco sabia sobre si mesmo, em que a mitologia misturava-se com a história, e assim aventuras fantásticas ocorriam. Para tanto, precisamos nos situar que, muito antes das bibliotecas digitais e dos romances contemporâneos, havia apenas a palavra falada, o canto ritmado, o poder da memória e da imaginação. As histórias que conhecemos hoje não nasceram do papel e da pena de um escritor, mas, sim, foram resgatas a partir da tradição de um povo, que cantando e contando histórias, formulou algumas das mais belas aventuras já produzidas pela humanidade.

É nesse cenário que nasceram duas das mais influentes obras da humanidade: a Ilíada e a Odisseia. Escritas por volta do século VIII a.C., essas epopeias, atribuídas a Homero, não apenas fundaram a literatura ocidental, como também moldaram valores, arquétipos e estruturas narrativas que ainda hoje estão presentes nas histórias que contamos e consumimos. Vale lembrar que, apesar de escritas oito séculos antes de Cristo, essas histórias já existiam na boca e nas canções de antigos poetas; no entanto, Homero, ao perceber que as novas gerações estavam esquecendo como contar tais aventuras, resolveu eternizá-las no papel, transformando-as em poemas.
Diante disso, fazemos o seguinte questionamento: o que faz dessas obras algo além de textos antigos? Como explicar sua permanência em tempos tão diferentes do contexto em que surgiram? A resposta para essa questão não é simples, porém, podemos afirmar que elas são espelhos da alma humana e vão além de apenas mais uma história sobre guerra ou o retorno para casa. No fundo, as obras de Homero são uma verdadeira inspiração sobre coragem, destino e esperança. Nesse sentido, ler a Ilíada e a Odisseia não é apenas revisitar a Grécia Antiga, mas é também se reconhecer nos conflitos, nas dores e nas buscas de personagens que, embora heróis, são profundamente humanos.
Quem foi Homero?
É impossível falarmos da Ilíada e da Odisseia sem nos debruçarmos sobre o seu autor, Homero. Apesar de ser um personagem histórico envolvido em mistério , visto que alguns defendem a tese de que Homero, enquanto pessoa, nunca tenha existido, o que sabemos é que este poeta foi responsável por escrever essas histórias no século VIII a.C. De acordo com algumas fontes, ele teria sido um poeta cego que viveu em algumas das cidades gregas da Jônia, como Esmirna ou Quio. Ou talvez, como acreditam alguns estudiosos, “Homero” seja apenas um nome simbólico atribuído a uma tradição oral coletiva, cujos versos foram passando de geração em geração antes de serem fixados na escrita.

Apesar disso, o fato é que sua obra foi tão grandiosa que se tornou fundadora de toda a literatura ocidental: Homero é o ponto zero da literatura do Ocidente. Não por acaso, essa série de textos não poderia começar de outra maneira a não ser abarcando ambas as obras, visto a importância delas para toda a cultura ocidental.
A tradição homérica foi, por séculos, ensinada nas escolas da Grécia e depois nas de Roma, tornando-se o padrão de excelência poética. O que se conhece como “épico” hoje em dia tem sua origem formal e estrutural nas composições atribuídas a Homero. Mesmo que nunca se descubra com precisão quem foi Homero, sua voz sobreviveu por milênios e continua a forjar novas gerações. Assim, o mito ganha corpo e sobreviverá ao longo da história da humanidade.
Ilíada: a fúria de Aquiles e a guerra de Troia
Comecemos pela famosa guerra de Troia, retratada na Ilíada, que, em teoria, foi a primeira obra escrita por Homero. A Ilíada é, antes de tudo, um poema sobre a natureza humana. Embora esteja ambientada em uma das guerras mais famosas da mitologia grega, seu verdadeiro foco não está nos feitos militares ou na grandiosidade dos exércitos, mas na emoção que desencadeia todos os acontecimentos: a fúria.

É a ira de Aquiles, o maior guerreiro grego, que move toda a narrativa. Não por acaso, os primeiros versos de Homero já denunciam o seu objetivo: contar a história da fúria de Aquiles, o dos pés ligeiros, o maior guerreiro da Hélade! Essa fúria, entretanto, não surge no campo de batalha, mas de um desentendimento pessoal e profundamente humano.
Quando Agamenon, comandante supremo dos aqueus (um dos vários nomes pelos quais os gregos se chamavam), toma para si a escrava Briseida, que havia sido dada a Aquiles como prêmio de guerra, o herói se sente insultado e decide se afastar da luta, deixando seus companheiros entregues ao perigo. Esse gesto, motivado por orgulho ferido e desejo de afirmação pessoal, desencadeia uma série de eventos trágicos que constituem o coração da epopeia.
Diferente do que se poderia imaginar de uma narrativa sobre uma guerra, a Ilíada não conta toda a história do conflito entre gregos e troianos, nem mesmo seu início ou desfecho. Ela se concentra em um intervalo de pouco mais de cinquenta dias no décimo e último ano da guerra. Ainda assim, nesse recorte narrativo, Homero consegue apresentar um retrato complexo e profundo da condição humana, explorando temas como honra, amizade, morte, luto, heroísmo e o eterno confronto entre a vontade dos homens e os desígnios dos deuses.
Através de uma linguagem rica em imagens e metáforas, o poeta tece uma tapeçaria que nos mostra a glória e a dor dos grandes feitos, sem romantizar a violência, mas também sem negá-la como parte da existência humana.
Frente a isso, Aquiles é, sem dúvida, o personagem central da Ilíada. Filho da deusa Tétis e do mortal Peleu, ele representa o ideal heróico grego: invencível em combate, belo, rápido, quase divino. No entanto, seu verdadeiro drama é interior. Sua recusa em lutar após o conflito com Agamenon revela uma personalidade intensa, movida por emoções profundas e, muitas vezes, contraditórias.
Em seu isolamento, Aquiles assiste de longe ao sofrimento de seus companheiros, especialmente de seu amigo mais próximo, Pátroclo. A morte deste, nas mãos de Heitor, príncipe troiano, é o estopim para o retorno do herói à guerra. Mas esse retorno não é triunfante; é marcado pelo desejo de vingança e por uma dor irreparável que o transforma completamente.
É o momento em que a dor do luto e o desejo de vingança se unem à ira de um guerreiro letal. Ele já não é o mesmo guerreiro movido apenas por honra e glória, mas sim pela necessidade de machucar Troia do mesmo jeito que foi machucado ao perder seu discípulo e amigo. Agora é alguém tocado pelo luto, mais humano, mais próximo do leitor.
A contraparte de Aquiles no campo troiano é Heitor, filho do rei Príamo e comandante das tropas da cidade. Heitor é apresentado como o defensor da família, da pátria e da honra. É um guerreiro corajoso, mas também um homem sensível, ciente de seus deveres e de sua mortalidade. Ao contrário de Aquiles, que vive em tensão com os outros e com ele mesmo, Heitor é o elo que mantém a unidade em Troia.

Seu amor pela esposa Andrômaca e pelo filho Astíanax é mostrado em uma das cenas mais comoventes da Ilíada, em que o herói se despede da família antes de retornar ao campo de batalha, consciente de que provavelmente jamais os verá novamente. Sua morte, após um duelo com Aquiles, representa um dos momentos mais trágicos da literatura ocidental, retratado em pinturas, filmes, esculturas e outras tantas expressões artísticas. Não apenas pela brutalidade do ato, mas pela maneira como a narrativa nos leva a sentir empatia e pesar por aquele que, até então, era o “inimigo”.
Porém, não pensemos que a Ilíada se resume a cenas de guerra e violência. Há diversos exemplos belos de lealdade, de um combate entre guerreiros respeitando as leis da guerra e reconhecimento de ambos os lados. Nesse aspecto, uma das cenas mais interessantes nesse quesito está na luta entre Ajax, um dos principais combatentes da Grécia, e Heitor.
Conta a Ilíada que ambos combateram por horas, até o cair da noite e já não conseguirem enxergar um ao outro devido à escuridão. Assim, ao final da exaustiva disputa, ambos reconhecem o valor e a habilidade em combate do seu oponente. Heitor entrega sua espada em honra a Ajax, enquanto este lhe dá o seu próprio helmo para o príncipe troiano.

Esse episódio revela muito mais do que apenas a cordialidade dos guerreiros. De fato, podemos entender a respeito da cortesia e da nobreza de um verdadeiro combatente, que não luta com base na raiva ou no medo, mas pelo dever a ser cumprido com sua pátria e seus aliados. Nesse sentido, a guerra não é apenas o resultado da destruição entre facções inimigas, mas uma maneira de entrar em conflito sem perder a si mesmo e não desejar vencer a qualquer preço, reconhecendo o outro como um hábil e valoroso combatente.
Para além disso, a Ilíada é também um poema sobre a guerra como um fenômeno coletivo e suas implicações políticas, sociais e existenciais. Os deuses intervêm constantemente nos assuntos dos mortais, apoiando este ou aquele lado, motivados por suas próprias rivalidades e paixões. Essa participação divina nos lembra que, para os gregos antigos, o destino dos homens estava entrelaçado com forças maiores, nem sempre justas ou compreensíveis. A vontade de Zeus, por exemplo, muitas vezes é ambígua, e sua decisão de prolongar o sofrimento humano parece ecoar a ideia de que a glória dos heróis só pode ser forjada no sofrimento.
Por outro lado, figuras como Atena, Apolo, Afrodite e Poseidon demonstram favoritismos claros e agem para proteger seus escolhidos ou punir seus desafetos. Essa tensão entre liberdade e destino, entre escolha e submissão aos deuses, é uma das marcas mais poderosas da obra.
Em meio aos grandes nomes da epopeia, há espaço também para personagens secundários, mas igualmente humanos e tocantes. É o caso de Andrômaca, que suplica a Heitor que não enfrente Aquiles; ou de Pátroclo, cuja bravura e lealdade revelam-se fatais. Há ainda figuras como Príamo, o velho rei troiano, que protagoniza uma das cenas mais emocionantes da literatura antiga: quando, desarmado, entra na tenda de Aquiles e, beijando-lhe as mãos ensanguentadas, súplica pelo corpo do filho. Esse gesto expressa humildade e compaixão, quebrando o ciclo de violência e restituindo a dignidade da morte.

A Odisseia: o épico retorno de Odisseu
Se a Ilíada fala da guerra, a Odisseia é sobre o retorno. Após a queda de Troia, Odisseu (ou Ulisses, em latim) inicia uma longa e perigosa viagem de volta para Ítaca, onde sua esposa Penélope e seu filho Telêmaco o esperam. Esse retorno, no entanto, demora dez anos e é marcado por provações, monstros, deuses e escolhas morais. Odisseu não é o herói invulnerável nem o exímio guerreiro, como Aquiles, mas sim o herói inteligente e astuto. Sua grande arma é seu cérebro, seu escudo é a agudeza mental em elaborar planos, estratégias e manipular com argumentos todos ao seu redor.
Durante sua jornada de retorno para Ítaca, Odisseu enfrenta o Ciclope Polifemo, resiste ao canto das sereias, desce ao mundo dos mortos e escapa das armadilhas de deuses e de outros seres humanos. A jornada torna-se um processo de aprendizado e reafirmação da identidade.
De modo objetivo, a Odisseia se organiza em 24 cantos, mas sua narrativa é menos linear, usando técnicas que hoje chamamos de flashbacks e cortes paralelos. A história alterna entre os desafios do herói, as angústias de Penélope e o crescimento de Telêmaco. Essa multiplicidade de vozes e tempos torna o poema uma espécie de romance épico, com narrativas dentro de narrativas, encontros e reencontros, recomeços e revelações.

Dito isso, devemos entender que a viagem de Odisseu é, acima de tudo, uma metáfora da vida. O mar simboliza o desconhecido e a sempre incerta vida pela qual navegamos na existência; os monstros que precisam lidar são as provas às quais somos submetidos para extrairmos nossas lições; os deuses simbolizam as forças que escapam ao nosso controle e que estão a nos guiar – e desafiar – ao longo da nossa jornada. E Ítaca, o lar, representa o retorno à essência, o encontro com o que realmente importa, com a nossa alma, que nos aguarda, sendo esta representada por Penélope.

Frente a tantos aspectos, ler a Odisseia é acompanhar um herói que se transforma não pela força, e sim pelo engenho, pela resistência e pelo amor à sua terra e à sua família. Ao longo da obra, vemos que a viagem de retorno representa uma jornada tanto física quanto interior. Odisseu precisa enfrentar monstros, mas também precisa vencer a si mesmo e resistir ao esquecimento, aos desejos e ao conforto das ilusões, à tentação de desistir.
Sua odisseia é a de todos nós: a busca por um lugar no mundo, por um retorno ao que somos de verdade. São essas ideias que tornam a jornada de Odisseu algo atemporal, feita para dialogar diretamente com a alma humana, e por isso continuamos a enxergá-la em nossas vidas.
A influência das obras de Homero na literatura universal
As marcas da Ilíada e da Odisseia são visíveis na literatura de todas as épocas. Na Roma Antiga, por exemplo, Virgílio escreveu a Eneida, inspirando-se diretamente em Homero para narrar a jornada de Enéias, herói troiano. Já na Idade Média, mesmo sob a sombra do cristianismo, os valores heroicos e narrativos de Homero sobreviveram. Dante, em sua Divina Comédia, menciona Odisseu e se inspira na estrutura épica. O próprio conceito de “jornada do herói”, mais tarde estudado por Joseph Campbell, tem suas raízes na Odisseia.
Durante séculos, o estudo de Homero foi essencial à formação educacional das elites europeias. As epopeias eram modelos de estilo, ética e retórica. No Renascimento, o redescobrimento dos clássicos deu novo fôlego a essas obras, que passaram a ser vistas como fontes de sabedoria e beleza. No Iluminismo, Homero foi admirado por sua clareza moral e pela riqueza de sua visão antropológica. Visto isso, ao longo dos séculos, a Ilíada e a Odisseia foram alcançando cada vez mais pessoas a partir de traduções e edições que universalizaram ainda mais o seu alcance. No mundo moderno, essas traduções se multiplicaram com abordagens que variam desde o rigor acadêmico até versões adaptadas para o público infanto-juvenil.
A literatura brasileira, ainda que distante geograficamente da Grécia Antiga, não escapou à influência de Homero. Graças a esse esforço de tradução para a nossa língua, diversos autores buscaram em suas epopeias inspiração para a construção de seus próprios heróis, jornadas e dilemas.
Machado de Assis, por exemplo, faz referência a Odisseu em suas crônicas e ironiza, com sutileza, os valores heroicos em seus romances; Carlos Drummond de Andrade escreve sobre o sentimento de exílio e perda, temas caros à Odisseia; já Guimarães Rosa criou uma espécie de epopeia brasileira, profundamente enraizada na tradição oral, tal como as obras de Homero. Esses são apenas alguns exemplos de como Homero, por mais que pareça ser um autor antigo e “ultrapassado”, ainda é capaz de pautar e ser referência para a alta literatura do nosso tempo.
Por que ler Homero em pleno século XXI?
Visto todos os argumentos sobre Homero e suas obras, devemos nos perguntar: por que devemos lê-lo no mundo atual? Sabemos que estamos em uma era marcada pela velocidade, pela informação fragmentada, pelo consumo rápido de conteúdo. Nesse contexto, a leitura de epopeias milenares pode parecer anacrônica, visto que são livros grandes, complexos e que não podem ser lidos de forma rápida ou dinâmica. É preciso gastar tempo para se debruçar sobre tais narrativas, pois além do formato em poesia, não estamos habituados com a linguagem empregada na narrativa.
E talvez esse seja o grande motivo pelo qual se faz necessário entrar em contato com esse tipo de leitura: ler Homero hoje é um ato de profundidade e de reencontrar o prazer de refletir sobre o ser humano, sem pressa. Nesse aspecto, deixar-se levar por um clássico da literatura e realmente tentar entendê-lo é, acima de tudo, perceber que não precisamos entrar no modo automático e no ritmo acelerado a todo momento.
A Ilíada e a Odisseia nos convidam a desacelerar e a escutar uma voz antiga que ainda sabe muito sobre quem somos. Seus personagens enfrentam dilemas que continuam sendo nossos: o que fazer diante do luto? Como lidar com a fúria? Onde está o lar? O que é ser herói?
Além disso, essas obras nos conectam com uma tradição que une milhares de leitores ao longo dos séculos. Cada leitura é uma nova travessia, um novo retorno, uma nova guerra interna. Homero não oferece respostas fáceis, isso é verdade, mas sem dúvida nos coloca a pensar sobre elementos da nossa psique que cotidianamente nos afetam e nos tiram do centro. E isso, sem sombra de dúvida, é o maior benefício que podemos extrair dessas obras: reconhecer o valor atemporal que há nos dilemas humanos e como podemos vencê-los.
Por fim, A Ilíada e a Odisseia são muito mais do que relíquias de uma antiguidade distante. Elas são códigos da alma humana, mapas simbólicos que nos ajudam a navegar por dentro e por fora de nós mesmos. Homero, seja quem for ou tenha sido, continua nos falando sobre força, beleza e verdade. Os heróis de Homero caem, sofrem, levantam-se. São feridos, orgulhosos, generosos, frágeis. São espelhos de nossa condição humana. E talvez por isso nos fascinam tanto: porque continuam a nos lembrar que, embora o mundo mude, certas histórias continuam sendo nossas.
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