A história da humanidade está repleta de grandes mestres de sabedoria. Jesus, Krishna, Orfeu, Hermes Trismegisto, estes são apenas alguns exemplos desses homens que ajudaram a impulsionar o Ser Humano rumo à Sabedoria. Suas vidas, tão distintas e ao mesmo tempo tão parecidas, nos revelam que desde o início de suas existências eles mostram-se diferentes. Segundo as tradições, o momento de chegada desses mestres de sabedoria revelam uma necessidade da humanidade em caminhar ao seu destino. Uma evidência dessa ideia está, justamente, no legado que tais pessoas deixaram após suas mortes. Em geral, os ensinamentos desses mestres são a base da maioria das religiões, tanto antigas quanto as que perduram até os dias atuais e suas mensagens são repletas de Valores Humanos como a União, o Entendimento das Leis e o Amor.
Visto isso, conhecer um pouco mais de cada um desses seres iluminados é uma fonte de aprendizado constante, pois a forma que conduziram suas vidas reflete diretamente nos ensinamentos que deixaram para nós. No texto de hoje, portanto, iremos conhecer um desses grandes mestres: Sidharta Gautama, o Buda.
Provavelmente você já escutou sobre Buda, o grande mestre da doutrina budista. Porém, poucas pessoas conhecem o caminho que ele percorreu até chegar à iluminação e difundir seus ensinamentos. Desse modo, vamos fazer uma viagem no tempo e retornar ao Antigo Nepal, no reino de Lumbini, no ano de 563 a.C.
Conta a maior parte das biografias de Buda que ele foi filho do Rei Suddhodana e da Rainha Maya. Sua mãe teria sonhado, no dia em que foi concebido, com um elefante branco de seis presas tocando-lhe o ventre. Esse seria o sinal de que um grande Ser Humano estava prestes a nascer no mundo. A gestação da rainha Maya teria durado dez meses e Buda, ao nascer, teria dado seis passos em cada direção.
Para entendermos tais ideias, devemos compreender que os relatos sobre Buda envolvem, assim como dos outros mestres de sabedoria, simbolismos que evidenciam sua grandeza. Assim, devemos sempre olhar para os elementos da biografia destes seres tentando compreender suas ideias e não levá-los ao “pé da letra”. Partindo dessa ideia, temos alguns símbolos interessantes sobre o nascimento de Buda: um deles é o elefante, símbolo de Sabedoria por si só no Oriente. O fato de caminhar, ao nascer, para cada direção também é um símbolo do quão avançado e capaz seria o jovem Sidarta, além de sua Sabedoria.
Após seu nascimento, um mago que passava por Lumbini visitou o recém-nascido sidharta e disse ao rei Suddhodana que só existia dois destinos possíveis para seu filho: ou tornar-se um grande governante ou um sábio. Ao saber disso, Suddhodana passou a refletir sobre como garantir que Sidarta seguisse seus passos como Rei. Após algum tempo o Rei de Lumbini decidiu que seu filho nunca deveria conhecer os males humanos, pois se entrasse em contato com alguns dos grandes dilemas que afligem a Humanidade ele poderia passar a buscar o caminho dos sábios.
Desse modo, Sidarta Gautama foi criado em um palácio isolado do reino, em Kapilavastu, e nele só poderiam habitar servos jovens e saudáveis, para que o príncipe nunca conhecesse o envelhecimento nem a doença. Nenhum infortúnio era permitido e assim a infância e a juventude de Buda foram de puro prazer e alegria. Ao chegar em certa idade, porém, precisaria casar-se e isso poderia, se o casamento fosse feito “de qualquer maneira”, gerar dores no príncipe.
Suddhodana, mais uma vez, querendo garantir que o filho não despertasse, teve um plano. Convocou as mais belas moças do reino para receberem um presente do príncipe Sidarta. Assim, o jovem poderia ter a chance de apaixonar-se por uma das mulheres e cair nos braços do amor.
Assim foi feito e as jovens de toda Lumbini foram até o palácio real. Entre as milhares de damas, Sidarta encontrou Yashodhara, uma jovem camponesa que ao chegar até o príncipe, os presentes haviam acabado. Olhando para a jovem, Sidarta retirou seu colar e o entregou, e com esse gesto os dois apaixonaram-se. Yashodhara, por fim, foi a escolhida para ser esposa do até então príncipe de Lumbini.
Segundo alguns relatos, eles tiveram um filho, Rahula, e que muitos anos após Buda iluminar-se, este filho o havia seguido para ordenar-se monge. Porém, com o nascimento do seu filho, Buda começa a sentir que a vida palaciana não é suficiente. Um estranho incômodo passa a permear a mente do príncipe, até que em uma conversa com seu pai ele pede para conhecer o reino que, no futuro, iria governar.
Suddhodana preocupa-se com o pedido do filho, mas ainda assim o concede esse direito. O rei então manda que todo o trajeto que o príncipe fará ao redor de Lumbini seja preparado para que ele não veja nada de errado. Os doentes são trancados em casa, os idosos são mandados para outras regiões e, após todos os preparativos, a comitiva do príncipe começa a visitar a população.
Tudo estava ocorrendo como planejado pelo Rei, porém, em um ponto do trajeto o jovem Sidarta viu um homem com a pele enrugada, os poucos cabelos que tinham na cabeça estavam brancos e ele caminhava com dificuldade, auxiliado por uma bengala. Ele passou próximo da carruagem real e Sidarta, que nunca havia encontrado alguém velho em sua vida, assustou-se com a cena e perguntou ao seu cocheiro o que se passava com aquele homem. O cocheiro então respondeu que nada havia de errado, o homem era simplesmente um ancião e que a velhice aconteceria com todos que vivessem por muito tempo.
O príncipe Sidarta então ficou chocado ao saber que a velhice era algo natural e mesmo assim não sabia disso. A jornada, porém, prosseguiu e mais adiante Sidarta viu outro homem. Dessa vez, porém, uma série de bolhas e feridas estavam na pele do homem, que respirava com dificuldade e não conseguia manter-se em pé. Outra vez Sidarta ficou chocado com o que viu e perguntou ao seu cocheiro o que se passava com aquela pessoa. O cocheiro então respondeu que nada, aquele homem apenas estava doente e que, cedo ou tarde, todas as pessoas haveriam de ficar enfermas.
Esse foi o segundo choque de consciência sofrido pelo príncipe. Além da velhice, a doença também era um dos males da Humanidade. Ainda assim a visita ao reino continuou e quase ao final do trajeto, Sidarta viu um terceiro homem, porém, este estava deitado à beira da estrada. Seu corpo inerte não respirava e sua pele mostrava-se mais pálida que o comum. Ao perguntar ao seu cocheiro o que fazia aquele homem, o mesmo respondeu: Nada, aquele homem está morto e por isso não se move. A morte, cedo ou tarde, chega para todos os Seres Humanos.
Ao presenciar a morte pela primeira vez, Sidarta Gautama ficou chocado. Ao retornar ao seu palácio percebeu que nada do que vivia fazia sentido, pois uma hora ou outra todos ao seu redor não estariam mais ali. A morte, a doença e a velhice, cedo ou tarde, chegariam para todos os seus entes queridos e, pela primeira vez, o príncipe soube o que era a dor.
Essa experiência o fez despertar a consciência e assim decidiu seu destino: Sidarta buscaria, a partir daquele dia, compreender o sentido da vida e aplacar a dor humana. Aos 29 anos, segundo seus biógrafos, o jovem príncipe de Lumbini sai do palácio deixando sua esposa e filho para trilhar o caminho da Sabedoria.
Inicialmente ele juntou-se a um grupo de monges ascetas que viviam nas florestas. A doutrina asceta dizia que a Sabedoria só poderia ser alcançada quando todas as amarras materiais fossem soltas, ou seja, era preciso renunciar a tudo: desde seus bens até o próprio corpo. Dedicavam-se exclusivamente para a meditação e para atingir esse estado superior de consciência.
Seguindo essa doutrina, Sidarta começou suas meditações e, tal como um pêndulo, o príncipe passou de um extremo ao outro: se antes ele vivia rodeado de bens e conforto, na vida asceta nenhum prazer lhe era permitido, nem mesmo alimentar-se adequadamente. Assim, consequentemente, a aplicação desse método levou o jovem Sidarta à beira da morte, uma vez que passava dias sem comer. Em seu momento mais grave, desmaiado e sem forças para levantar-se, uma jovem camponesa ofereceu-lhe uma tigela de arroz como refeição. Ajudando-o a comer, a camponesa salvou Sidarta da morte prematura e assim ele compreendeu que a Sabedoria jamais estaria no extremo das situações.
Pensando sobre isso e trazendo à nossa vida, muitas vezes nos perdemos nos extremos. Por desconhecermos a Natureza e o sentido de cada situação, acabamos “pecando” pelo excesso ou pela falta. Não enxergamos a Sabedoria que, segundo diversas tradições, encontra-se na Harmonia com a Vida. O sábio, afinal, não briga com a vida, mas simplesmente obedece suas Leis e age conforme seus ditames.
Assim, Sidarta percebeu que seguir os dogmas sem refletir sobre o justo meio em suas ações não o levaria à Sabedoria. Pela quebra do seu jejum ele foi expulso pelos ascetas e passou a buscar compreender onde estava a Sabedoria em um caminho solitário. Dizem que ao ver uma musicista afinando sua sitar – uma espécie de alaúde indiano – percebeu que a Sabedoria em viver era similar a corda do instrumento musical: se estiver muito tensionada ela romperá e não irá cumprir seu papel; se estiver muito folgada, porém, também não emitirá som algum. Assim, o Ser Humano precisa estar alinhado com o justo meio, ou a justa tensão, para ressoar o mais belo som que possa produzir.
Essa reflexão levou Sidarta a meditar profundamente debaixo da árvore Bodhi (daí o nome Buda), até chegar à iluminação. Sidarta, agora iniciado na Sabedoria, conseguiu alcançar a essência da existência humana, sintetizando-a a partir de alguns ensinamentos. Sua iluminação garantiu ao sábio entrar no “Nirvana”, um estado de consciência (quando atingido em vida) acessado apenas por aqueles que sintetizaram toda a experiência humana e já não precisam aprender mais nada, pois atingiram a Verdade. Segundo a tradição Oriental, ao chegar nesse estágio o indivíduo entra em uma nova esfera de realidade, acessando os mais altos segredos do Universo. Buda – não mais Sidarta – percebeu que o destino de todos os Seres Humanos era atingir o Nirvana, porém, muito poucos estavam perto desse feito. Assim ele decidiu que só atravessaria as portas do Nirvana depois que o último Ser Humano conseguisse entrar e que não descansaria até que a Humanidade realizasse seu destino.
Por Amor à Humanidade, conta-se em algumas tradições, que Buda reencarna de tempos em tempos para acelerar a caminhada dos homens até o seu destino. Sua iniciação, porém, por si só continua trazendo inspiração para todos nós. O iluminado entregou-se, até o último dos seus dias, a ensinar seus discípulos os ensinamentos de sua doutrina, que mais tarde transformou-se no Budismo. Além disso, seu exemplo de vida dedicado a compreender os Mistérios da Natureza e o papel do Ser Humano frente ao Universo o tornou um Mestre de Sabedoria que ajuda-nos a caminhar rumo à evolução. Que possamos, portanto, avançar nessa trilha e cumprir o que nos é próprio para que, um dia, o sonho de Buda seja realizado e ele possa, finalmente, entrar no Nirvana junto com toda a Humanidade.